Europa compra do Brasil comida produzida com agrotóxicos que ela proíbe

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Paraquate, temor internacional: no Brasil, liberado.

Atlas lançado na Geografia-USP mostra que país exporta alimentos com pesticidas banidos pela UE; 27 países importam café regado com 30 venenos que eles vetam

Por Alceu Luís Castilho

O Brasil exportou para 16 países da Europa mais de 13 milhões de toneladas de soja em 2016. Em grão, triturada, óleo ou farelo. Essa soja foi produzida com nada menos que 150 agrotóxicos diferentes. Detalhe: 35 deles são proibidos na União Europeia. Holanda, Alemanha, Espanha e França foram os principais importadores.

Os dados constam de pesquisa que está sendo lançada nesta segunda-feira (27/11) pelo Laboratório de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP). A professora Larissa Mies Bombardi vem trabalhando os dados há anos, no Brasil e no Reino Unido. E os apresenta em forma de mapas.

(Fonte: Larissa Mies Bombardi/FFLCH-USP)

A “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” aponta uma contradição estrutural: regras rígidas para a produção local, na Europa, mas olhos fechados para os métodos utilizados pelos países exportadores. O lançamento tem debate, hoje, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).

No caso do algodão o número de agrotóxicos proibidos pela União Europeia e autorizados no Brasil chega a 47. Isso não impede países como Itália, Portugal, Alemanha e França de importarem o produto. O volume de algodão bruto exportado – em boa parte do Mato Grosso e do oeste baiano – é de 11.344 toneladas.

A exportação brasileira de milho em grãos para a Europa ultrapassou 1 milhão de toneladas em 2016. Eles foram produzidos com 120 agrotóxicos – 32 deles proibidos na União Europeia. Saíram de várias Unidades da Federação, com destaque para o Mato Grosso. Quem mais importou foi a Holanda. Depois, Espanha, Portugal e Itália.

A produção de celulose utiliza três agrotóxicos proibidos na Europa. Mas o volume exportado pelo Brasil é alto: 4,7 milhões de toneladas em 2016. O número de países europeus importadores, também: 16. Com Holanda, Itália, França e Bélgica à frente. E Espanha, Reino Unido e Alemanha com volumes significativos.

DO ETANOL ÀS BANANAS

O etanol produzido com a cana de açúcar brasileira é importado pelo Reino Unido, pela Holanda e pela Bélgica. A cana é produzida com nada menos que 25 agrotóxicos proibidos pela União Europeia. Sete deles têm classificação toxicológica máxima, a de nível I. Em 2016, esses países importaram do Brasil 71.856 toneladas de etanol.

É o mesmo número de agrotóxicos – 25 – utilizados no Brasil para a produção de arroz. Aos países anteriores se somam, como importadores, a Itália, a Espanha, a Alemanha, Portugal e Lituânia. O produto sai, principalmente, do Rio Grande do Sul.

O trigo produzido no Brasil é banhado de 16 agrotóxicos proibidos na Europa. Entre eles o paraquate, de classificação toxicológica de nível 1. Mesmo assim ele é importado por Portugal – país que também importa cacau regado no Pará e na Bahia com paraquate. (O produto teve banimento gradual previsto em setembro, mas pode ser liberado novamente nesta terça-feira, em Brasília.)

No caso do abacaxi são dez agrotóxicos proibidos na Europa e utilizados nas plantações brasileiras. Eles são exportados para Bélgica, Itália, Espanha, Chipre, Portugal, Alemanha e França. Nove países europeus (Reino Unido, Polônia e Espanha à frente) importam banana plantada com sete pesticidas proibidos na Europa. O numero de agrotóxicos proibidos aumenta na produção brasileira de maçã: são 28 venenos de uso proibidos no Velho Continente.

E tem mais: 14 países europeus importam amendoim banhados também com 12 venenos que eles proíbem. Uvas? Em formato de sucos, uvas frescas ou vinho? Outros 13 venenos proibidos, importados por 16 membros da União Europeia. Laranja, limão e suco de laranja? Dezessete países europeus não se incomodam de importar os produtos banhados com 33 agrotóxicos vetados no continente.

Europa é principal importadora do café brasileiro. (Foto: Divulgação)

Depois da comida e da sobremesa, uma baforada. São 173 mil toneladas de fumo em folhas originários do Brasil. Consumidos por 19 países europeus. Número de agrotóxicos proibidos por lá? Onze. Se o destinatário final não fuma ele poderá ter tomado um cafezinho. São 980 mi toneladas somente de café cru, que sai de estados como Minas e Espírito Santo para as mesas europeias.  Com 30 agrotóxicos vetados. Países europeus que consomem? Vinte e sete. Isto entre 28 membros da União Europeia. Somente Luxemburgo ficou de fora.

Se foi adicionado açúcar a esse cafezinho, temos mais 25 agrotóxicos de uso proibido na Europa. Os mesmos do etanol – já que o veneno é despejado nas plantações de cana de açúcar. Esse número vale também para a cachaça. Croácia, Romênia, Estônia e Holanda são os principais importadores. Mas neste caso, em 2016, foram 23 países europeus que importaram açúcar brasileiro com agrotóxicos autorizados por aqui – mas proibidos acolá.

QUINTAL DOS AGROTÓXICOS

Tudo isso acontece porque a legislação brasileira é mais flexível e porque se trata de um país de dimensões continentais ainda voltado para a produção agropecuária. A área cultivada com soja no Brasil ultrapassa 33 milhões de hectares. O atlas lançado pela professora Larissa Bombardi mostra que isso representa 10,9 vezes o tamanho da Bélgica, ou 3,6 vezes o tamanho de Portugal. A cana de açúcar ocupa 11,5 milhões de hectares, especialmente em São Paulo. O eucalipto, 7,4 milhões de hectares.

(Foto principal: Eduardo Tavares)

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