Preso pela PF, Fabio Zanon Simão foi chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério da Agricultura e fazia parte da equipe de Helder Barbalho
Por Alceu Luís Castilho
Primeiro nome na lista de pedidos de prisão preventiva, confirmados na sexta-feira durante a Operação Carne Fraca, Fabio Zanon Simão tinha até esta terça-feira (21/03) cargo de direção no Ministério da Integração Nacional, comandado pelo ruralista Helder Barbalho. O diretor foi acusado de cobrar R$ 300 mil para a abertura de um abatedouro de cavalos, quando era chefe da assessoria parlamentar do Ministério da Agricultura, cargo para o qual foi nomeado na gestão anterior, da ministra Kátia Abreu.
A exoneração de Simão saiu hoje no Diário Oficial da União. E vale desde sexta-feira, dia da prisão. Mas o site do Ministério da Integração Nacional mantém seu nome como diretor do Departamento de Gestão de Programas de Desenvolvimento Regional, órgão da Secretaria de Desenvolvimento Regional, uma das quatro secretarias da pasta.
O governo divulgou uma lista de 33 servidores investigados. Mas todos pertencem ao Ministério da Agricultura. O vínculo do acusado com o Ministério da Integração Nacional ainda não foi divulgado pela imprensa nacional. O governo, portanto, esconde um dos principais investigados na Carne Fraca.
“A prisão nos pegou de surpresa, ninguém esperava”, afirmou ao De Olho nos Ruralistas um servidor da pasta. “Pessoa digna de nosso respeito, de nossa confiança. Sempre se mostrou alinhado com os propósitos da secretaria. Não posso dizer se é inocente, que a Justiça seja feita”.
O pedido de prisão requerido pela Polícia Federal tinha a lista de acusados encabeçada pelo nome de Simão. Ele foi um dos 27 alvos de prisão preventiva. Também foi solicitada busca e apreensão em seu nome, mas no endereço anterior, do Ministério da Agricultura – onde foi nomeado, em outubro de 2015, pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil, Jacques Wagner. Em abril deste ano, ainda era chefe da Assessoria Parlamentar (Aspar) do Gabinete da ministra Kátia Abreu, hoje senadora (PMDB-TO). Ele acompanhava no Congresso os projetos de lei de interesse da pasta.
Em julho do ano passado Simão ainda não era diretor no Ministério da Integração Nacional – informação até agora não divulgada pela imprensa brasileira. Ele foi nomeado pelo ministro Barbalho para uma coordenação da mesma secretaria. Um mês depois o ministro da Defesa, Raul Jungmann o nomeou como suplente da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, representando o Ministério da Integração Nacional.
Em fevereiro deste ano ele ainda estava prestigiado pelo governo: foi nomeado para uma Comissão de Estruturação e Inclusão Socioeconômica, relativa ao Terminal Pesqueiro Público de Belém e à Unidade de Abastecimento de Pescado de Jacundá, no Estado do Pará – base eleitoral do ministro, ex-deputado federal (PMDB-PA) e filho do senador e ex-ministro Helder Barbalho (PMDB-PA).
ABATEDOURO
Segundo o Estadão, o delegado Maurício Moscardi Grillo, da Polícia Federal, comandante da Operação Carne Fraca, disse na sexta-feira que Simão negociou propina de R$ 300 mil para algo que considerou inédito: abrir um abatedouro de cavalos. “Ele cobrou R$300 mil para ter autorização em alto grau do Ministério para solicitar a abertura do abatedouro de cavalos”, declarou Moscardi.
A propina teria sido negociada entre os donos da Frigobeto Frigoríficos e Comércio de Alimentos com Simão. Dois empresários (pai e filho) e o antigo assessor parlamentar do Ministério da Agricultura foram presos na operação. “Ambos conversam e definem que o envio dos valores seria feito por meio de uma transferência da Europa, parceladamente”, afirmou o juiz Marcos Josegrei da Silva ao repórter Fausto Macedo.
A sentença judicial mostra que Simão era considerado um dos líderes da quadrilha. Foram solicitados também o bloqueio de seus bens e busca e apreensão em sua residência. Irmão do diretor, Marcelo Zanon Simão também foi alvo de condução coercitiva – e de busca e apreensão, em sua residência – na sexta-feira. Segundo o juiz, Marcelo teria recebido a propina dos empresários em um hotel.
Fabio Zanon Simão é paranaense. Em 1997 abriu uma lanchonete em Curitiba. Ele tem pelo menos um desafeto no estado: o ex-deputado estadual Fábio Camargo, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Como deputado, Camargo chegou a acusar a família Simão de ter montado um esquema para manipular a administração de processos de falências e recuperações judiciais. Em 2014 os irmãos processaram o conselheiro por calúnia, mas o ministro Ari Pargendler, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), não enxergou da mesma forma.