Imóvel de João Baptista Lima Filho, amigo do presidente, foi ocupado na semana passada por sem-terra; irmãos Wesley e Joesley fizeram dossiê contra coronel
Por Alceu Luís Castilho
O presidente Michel Temer recebeu R$ 1 milhão em propina, em uma caixa, por meio de seu amigo João Baptista Lima Filho. Pelo menos é o que diz a JBS. O Estadão informa, nesta segunda-feira, que os irmãos Wesley e Joesley Baptista fizeram um dossiê – o Relatório Argeplan – contra o coronel reformado, dono da fazenda onde foi articulado o impeachment de Dilma Rousseff e da Argeplan, empresa investigada na Lava-Jato.
A notícia principal está nos dois últimos parágrafos:
– Segundo Ricardo Saud, o ex-diretor de relações institucionais da J&F, holding dos irmãos Batista, Temer teria sido um dos únicos políticos que recebeu dinheiro do PT naquele ano e mandou separar uma parte – R$ 1 milhão – para que lhe fosse entregue a título pessoal.
O pagamento teria acontecido no dia 2 de setembro. O dinheiro em uma caixa, segundo os delatores, foi entregue pela JBS a Lima na sede da Argeplan. Na delação, os executivos da JBS justificam a confecção do dossiê sobre o coronel por causa da necessidade de saber quem era o intermediário que lhes havia sido indicado para receber o dinheiro.
Confira a notícia: “JBS fez ‘dossiê’ sobre coronel amigo do presidente“.
O relato de Saud coincide com o que disse, em abril de 2016, o engenheiro José Antunes Sobrinho, da Engevix. Segundo a revista Época, ele contou aos investigadores da Lava-Jato que o dono da Argeplan Arquitetura e Engenharia ganhou uma obra de R$ 162 milhões por influência do então vice-presidente. E que, em 2014, Lima Filho recebeu R$ 1 milhão de propina “a mando de Temer“.
RELATÓRIO ARGEPLAN
O Relatório Argeplan diz que Lima Filho – amigo de Temer desde os anos 80 – era um dos destinatários de repasses ilícitos. Segundo o documento, relata o Estadão, sua empresa participa por meio de consórcios de megaobras em todo o Brasil: “Todas elas estão sendo investigadas por diversas autarquias com suspeitas de pagamento de propinas e outras vantagens ilícitas”.
O jornal paulista diz que, no ano passado, as investigações da Lava Jato apontaram que, entre 2011 e 2016, Temer teria recebido R$ 1,1 milhão “por serviços em uma ferrovia e uma estrada federal, além de obter contratos na Secretaria de Aviação Civil e na usina nuclear de Angra 3”.
Ainda segundo o Estadão, a JBS anexou ao relatório uma planilha que procura “demonstrar o suposto repasse de R$ 15 milhões para Temer em forma de propina durante a campanha eleitoral de 2014″.
Segundo o Estadão, Temer nega o recebimento de propina por meio do amigo e contesta a delação dos irmãos Batista.
O jornal publica essa reportagem na parte de baixo da página A8, longe da capa. A foto não é de Temer nem do coronel, mas da JBS.
“A FAZENDA É DO TEMER”
O dossiê da JBS observa que Lima e a Argeplan são proprietários de uma fazenda em Duartina (SP). Trata-se da Fazenda Esmeralda [na foto principal], ocupada duas vezes pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Uma delas em maio do ano passado, dias antes da aprovação na Câmara do impeachment de Dilma Rousseff.
A fazenda de 1.500 hectares foi ocupada mais uma vez, nos dias 22 e 23, pelo Movimento Social Sem Limites, ligado à União Nacional Camponesa. Segundo o G1, como “um protesto por conta das recentes delações e também a favor da renúncia do presidente”. A Justiça logo concedeu liminar para reintegração de posse. No ano passado o imóvel foi ocupado duas vezes, em maio e agosto, pela Frente Nacional de Luta.
Na ocupação de maio de 2016, o MST achou no local uma correspondência endereçada a Temer, frequentador assíduo da fazenda. O movimento diz que o presidente é o verdadeiro dono. Lima seria um laranja.
A reportagem da Folha foi à região do imóvel e perguntou a moradores onde era a fazenda do Temer. O motorista João Carlos de Oliveira contextualizou: “Se perguntar para qualquer um, vão dizer que a fazenda é do Michel Temer. É assim que as pessoas daqui conhecem o local”.
Kelli Mafort, da direção nacional do MST, contou que a fazenda fica numa estação de trem desativada, a Esmeralda. “A faixa de terra da estação é pública e não poderia ser apropriada de forma privada”, disse ela. “Para nós é grilagem”.
Ainda segundo o MST, articulações para a derrubada de Dilma Rousseff foram feitas dentro da fazenda Esmeralda.
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