Empresas agropecuárias compõem a outra face dos bens rurais de deputados e senadores, ao lado das propriedades descritas no Mapa das Terras dos Parlamentares; congressistas declararam empresas de exportação de frutas, madeireiras, cervejaria e até criação de avestruz
Por Leonardo Fuhrmann
A criação de gado é o principal negócio declarado pelos parlamentares ligados ao agronegócio na atual legislatura, levando-se em conta as empresas declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Deputados, senadores e suplentes representam o interesse dessa atividade em todas regiões do Brasil e até no exterior. É o caso de Joel Malucelli, primeiro suplente do senador Álvaro Dias (Pode). Ele é dono de uma empresa agropastoril no Uruguai. Declarou ainda uma empresa de produção de madeira no Paraná.
Dono de um patrimônio declarado de mais de R$ 236 milhões, Malucelli tem negócios em outros setores nos dois países, inclusive uma participação societária na TV Bandeirantes do Paraná. Ele chegou a ter um time de futebol, que teve uma parceria com o Corinthians. Em 2014, o empresário teve um papel importante como financiador da campanha de Dias. Só como pessoa física, ele doou R$ 745 mil para a campanha, dividido em quatro transferências. A J. Malucelli Equipamentos colaborou com outros R$ 510 mil. O empresário chegou a ser preso, junto com o ex-governador Beto Richa (PSDB), em uma operação que investigava uma fraude na manutenção de estradas rurais.
No ano passado, Álvaro Dias repetiu a estratégia no apoio à candidatura de Oriovisto Guimarães ao Senado. O empresário, que não tinha experiência eleitoral e tem uma fortuna declarada de R$ 239,7 milhões, acabou eleito. Ele declarou ter investido R$ 3,4 milhões em sua própria candidatura e outros R$ 1,7 milhão na campanha presidencial de Dias. Apesar de não ter declarado claramente nenhum bem rural, Oriovisto faz parte da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), assim como Dias. Suplente de Oriovisto, Plínio Destro tem uma empresa de comércio de alimentos.
Suplente de Dário Berger (MDB-SC), o ex-prefeito de Ibirama Ayres Marchetti é dono de diversas empresas relacionadas à agropecuária. Ele declarou ser sócio do Frigorífico Ibirama, Madeira e Laminados Juruena, Indústria de Farinha São Rafael e Cervejaria Taquaras. Senador pela Paraíba, José Maranhão (MDB) também tem mais de uma empresa do setor, mas ambas apresentadas como agropecuárias: a Primavera e a São Judas Tadeu. Suplente dele, Nilda Godim declarou a Campo de Boi Pecuária. Ireneu Orth, suplente do senador Luís Carlos Heinze (PP), declara a Buritis Agro Industrial e a Agropecuária Tapera Grande, na Bahia, onde também é dono de terras.
Personagem da foto principal desta reportagem, José Maranhão já foi considerado o “rei do gado” no Congresso. Em 2006 ele informou possuir 28.290 cabeças de gado, por um valor de R$ 0,00. Eram dez fazendas na Paraíba e uma no Bico do Papagaio, no Tocantins, justamente a São Judas Tadeu – que agora dá nome a uma empresa agropecuária. O Sindicato dos Trabalhadores de Rurais de Esperantina reivindicava a desapropriação da fazenda, por considerá-la improdutiva. O próprio senador chegou a admitir que a propriedade não cumpria as leis do Código Florestal.
A bancada no Senado que declarou a propriedade de empresas de agropecuária inclui Luís Felipe Belmonte, suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), dono da Alvoran Agropecuária, Eládio Carneiro, suplente de Luiz do Carmo (MDB-GO), dono da Agropecuária Rio Palmas, Alexandre Silveira, suplente de Antonio Anastasia (PSDB-MG), da Agropecuária AOS, e José Amauri, suplente de Elmano Férrer (Pode-PI), da Mondem Indústria Agropecuária.
Os dois suplentes da senadora Simone Tebet (MDB-MS) são empresários do setor. O primeiro suplente, Celso Dal Lago Rodrigues, com o Frigorífico Dal Lago. E o segundo, Moacir Kohl, como sócio da Cooperativa de Avestruz Coxim. Suplente da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), mulher do ex-governador João Alves, Ricardo Franco é sócio da Sabe Alimentos. Rafael Tenório, primeiro suplente de Renan Calheiros (MDB-AL), é dono da Mato Grosso Distribuidora de Alimentos. Integrante de uma família tradicional, ele também é presidente do CSA, time de futebol que está jogando a série A do campeonato brasileiro.
Famílias inteiras em atividade no Congresso têm atividades no setor de agropecuária. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) é sócio, ao lado de sua mãe e suplente, Eliane Nogueira, da Ciro Nogueira Agropecuária. Chico Rodrigues (DEM-RR), senador que ficou conhecido por empregar Léo Índio, primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, é sócio da San Sebastian, que tem a agropecuária entre suas atividades. O suplente Pedro Arthur, filho dele, também é sócio da empresa. A senadora Katia Abreu (PDT-TO) e o filho dela, senador Irajá (PSD-TO), são sócios da Aliança Agropecuária, empresa que também administra bens próprios.
Dos três maiores proprietários rurais do Congresso, apenas o senador Jayme Campos (DEM-MT) não declarou empresa rural. O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) declarou o Frigoari – Frigorífico de Ariquemes e o senador Marcelo Castro (MDB-PI), a Mangal Frutas Tropicais de Exportação.
Confira aqui o Mapa das Terras dos Parlamentares, com as fazendas declaradas pelos congressistas eleitos no ano passado (ou, no caso de 27 senadores e seus suplentes, em 2014):
Na Câmara, apenas Júlio Cesar (PSD-PI) declarou mais de uma empresa. Ele é sócio da Agrolupe Florestal e da Tropical Frutos Canaã. Glaustin Fokus (PSC-GO) declarou a Sigma Produtos Alimentícios, Altineu Côrtes (PP-RJ), a Fazenda Nova Modelo Santa Edwiges, Pedro Lupion, a Nova Flórida Pecuária e Agricultura e Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), a Sociedade Agrícola Real.
Declaram empresas identificadas como agropecuárias os deputados Claudio Cajado (PP-BA), CCJ, Beto Pereira (PSDB-MS), Cachoeirão, André Ferreira (PSC-PE), A&F, Assis Carvalho (PT-PI), Terra Verde, e Alceu Moreira (MDB-RS), Moreira Lopes. O gaúcho Alceu Moreira é o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária.