Em dia marcado por paralisações, trabalhadores rurais de diversos municípios saíram às ruas para protestar contra a reforma da Previdência e a perda de direitos; no Paraná, sem-terra é ferido após repressão da Guarda Municipal
Camponeses de várias partes do país juntaram-se nesta sexta-feira (14/06) aos milhares de trabalhadores que paralisaram suas atividades contra o governo Bolsonaro. Os protestos contra a reforma da Previdência nortearam a greve geral convocada por centrais sindicais, estudantes e movimentos sociais. Outros temas também entraram em pauta, como o pedido de afastamento do ministro da Justiça, Sérgio Moro – envolvido em vazamento de diálogos com procuradores da Operação Lava Jato -, os cortes na educação e o aumento do desemprego.
Ao longo do dia, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) organizaram ações em 26 estados, do trancamento de rodovias federais à ocupação de órgãos governamentais e latifúndios improdutivos, além de aulas públicas em terminais de transporte.
O destaque negativo ficou por conta da repressão policial no município de Araucária (PR), realizada contra manifestantes que protestavam em frente aos portões de acesso da Fábrica de Fertilizantes do Paraná (Fafen) e da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), pertencentes à Petrobras. Segundo nota do MST, os trabalhadores se preparavam para encerrar o ato quando foram atacados com balas de borracha por agentes da Guarda Municipal. Um manifestante foi ferido e encaminhado a um hospital da região.
Com exceção do incidente em Araucária, os protestos transcorreram pacificamente no Paraná, onde os municípios de Cascavel, Londrina, Maringá e Curitiba contaram com expressiva participação de camponeses.
“Hoje a cidade está mobilizada contra essa reforma que prevê destruir a aposentadoria dos trabalhadores brasileiros”, disse, em Maringá, João Flávio, dirigente estadual do MST. Em Curitiba, em reprovação ao ministro Sérgio Moro, trabalhadores rurais realizaram uma limpeza simbólica no prédio do Ministério Público Federal. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul rodovias também foram parcialmente trancadas durante a manhã.
No Sudeste, trabalhadores do campo uniram-se a outros manifestantes e fecharam trechos da BR-101 no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. As capitais de São Paulo e Minas Gerais registraram passeatas e bloqueios em estradas e avenidas.
Em Goiás, camponeses marcaram presença em Goiânia, Rio Verde, Formosa, Crixás, Jataí e Catalão. Atos também ocorreram nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, onde a participação nos protestos foi mais marcante em Augustinópolis, região do Bico do Paraguaio, área entre o Cerrado e a floresta amazônica marcada por conflitos agrários.
No Pará, a insatisfação em relação ao governo Bolsonaro foi mais sentida em Eldorado de Carajás, com o bloqueio da BR-155. A paralisação na região foi para marcar posição contra a decisão do juiz da Vara Agrária de Marabá, Amarildo José Mazuti, que ordenou o despejo de 212 famílias do acampamento Dalcidio Jurandir, instalado desde 2008 em terreno pertencente ao banqueiro Daniel Dantas, acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. No estado de Rondônia, a maior concentração foi no município de Rolim de Moura.
Os protestos também aconteceram de forma marcante no Nordeste. No Ceará, o MST participou de ocupações em agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da empresa de mineração Globest, situada no município de Quiterianópolis, na serra do Besouro. Por conta de diversos crimes ambientais, a empresa foi atuada 12 vezes pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e duas vezes pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os protestos seguiram fortes também na capital, Fortaleza, onde os camponeses, marchando pelas ruas, erguiam seus chapéus e gritavam “a Previdência é nossa, ninguém tira ela da roça”.
As manifestações no estado de Pernambuco se estenderam por rodovias estaduais e federais, bloqueadas para o trânsito e impedindo o acesso à capital, Recife. Os trabalhadores do campo ocuparam, com 250 famílias, a fazenda Riacho Fundo, no município de Lagoa Grande, região do sertão do Rio São Francisco.