Senadora abrigou Vinícius Donnover Gomes em seu gabinete após ele ser preso pela PF; candidatura está sub judice em razão da Lei da Ficha Limpa; prefeito no início da década, ele diz não ter terras hoje, mas já foi multado por desmatamento no município
Por Leonardo Fuhrmann
Prefeito de Goiatins entre 2012 e 2016, Vinícius Donnover Gomes (PSD) tenta nesta eleição retornar ao cargo. O primeiro desafio não vem das urnas, mas da Justiça Eleitoral. Sua candidatura foi indeferida e ele entrou com recurso que o mantém na disputa. Ou seja, pode ser que, mesmo sendo eleito, seja impedido de tomar posse. O indeferimento de sua candidatura tem como base a Lei da Ficha Limpa.
Quando era prefeito, Gomes teve as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ele chegou a ser preso pela Polícia Federal em 2016, acusado de participação em uma quadrilha acusada de desviar de R$ 10 milhões de recursos públicos. Ele também foi acusado de lavagem de dinheiro.
Apesar do valor envolvido, Gomes declarou posses modestas à Justiça Eleitoral. Diz ser dono apenas de uma casa avaliada em R$ 150 mil. Quando eleito, ele declarou ser dono de 50 reses, que não constam da declaração apresentada agora ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em nenhuma delas há menção a propriedades rurais. Isso não impediu que, em 2016, mesmo ano em que foi preso, Gomes tivesse sido multado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento. As duas multas, em março daquele ano, somaram pouco mais de R$ 1,23 milhão. As autuações ambientais têm como base a área destruída.
Após ter sido preso, Gomes não ficou completamente afastado da política. No ano passado, ele trabalhou como assessor no gabinete da senadora Katia Abreu (PP). Segundo a página do Senado, ele prestava serviço no escritório de apoio da parlamentar, em Tocantins. Em julho de 2020, último mês em que prestou serviço para a senadora, Gomes recebeu pouco mais de R$ 2 mil líquidos, além de uma verba de quase R$ 1 mil de auxílio-alimentação.
Katia é hoje uma das líderes do Centrão no Senado e é uma das políticas mais influentes do Tocantins. Seu filho Irajá (PSD) também é senador pelo estado. Ela foi ministra da Agricultura durante o governo Dilma Rousseff e presidiu por dois mandatos seguidos a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), uma das principais entidades representativas dos ruralistas.
A família da senadora tem interesses diretos na região do Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conforme noticiou o observatório em relação à participação de Irajá em projeto de lei sobre regularização de terras griladas: “Texto de Irajá na MP da Grilagem beneficia negócios do padrasto“.
| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |
Foto principal (Facebook): Goiatins (TO) aguarda decisão da Justiça Eleitoral sobre candidatura de ex-prefeito