Entre 48 deputados que integram cargos de comando na Frente Parlamentar da Agropecuária, 20 votaram contra a detenção do parlamentar acusado de mandar matar Marielle Franco; um deputado se absteve e 11 não votaram, embora 6 entre eles estivessem na Câmara
Por Alceu Luís Castilho
Apenas 16 entre 48 líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) votaram a favor de manter a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão, na sessão realizada na quarta-feira (10) na Câmara. Um deles, o gaúcho Alceu Moreira (MDB), presidente da comissão de Política Agrícola da frente, já presidiu a FPA. Outro expoente da bancada ruralista a apoiar a prisão de Brazão — acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, em 2018 — foi o deputado paranaense Luiz Nishimori (PSD), relator do PL do Veneno, vice-presidente para a Região Sul.
Eles foram acompanhados pelo vice-presidente da FPA na Câmara, o paulista Arnaldo Jardim (Cidadania), pelo diretor da comissão Trabalhista, Hercílio Diniz (MDB-MG); pelo diretor de Inovação, Lucas Redecker (PSDB-RS); pelo diretor de Direito de Propriedade, Lucio Mosquini (MDB-RO); pela diretora de Comunicação, Silvye Alves (União-GO); pelo diretor de Agricultura Familiar, Zé Silva (Solidariedade-MG) e por oito líderes definidos como vogais.
Um desses vogais, uma espécie de conselheiros, é o paranaense Sérgio Souza, o último deputado a presidir a frente. Os demais são os deputados Beto Pereira (PSDB-MS), Claudio Cajado (PP-BA), Juarez Costa (MDB-MT), Josivaldo JP (PSD-MA), Kim Kataguiri (União-SP), que já presidiu a comissão de Educação, Paulo Litro (PSD-PR) e Diego Garcia (Republicanos-PR).
A Frente Parlamentar da Agropecuária possui mais de 300 deputados. Três líderes da FPA são senadores e, como tais, não participaram da votação na Câmara sobre o carioca Chiquinho Brazão. Outros dois deputados ainda aparecem em função de comando no site da organização, mas estão licenciados: o mato-grossense Fábio Garcia e o mineiro Newton Cardoso Jr., que optou pela licença para prestigiar durante alguns meses seu suplente, chamado Ulisses Guimarães.
Foi um homônimo do mineiro, o paulista Ulysses Guimarães, o autor da expressão “traidor da Constituição, traidor da pátria”, em 1988, quando era promulgada a atual Constituição. O cacique histórico do MDB talvez se surpreendesse com o voto de alguns de seus colegas, como Marussa Boldrin (MDB-GO), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária para a região Centro-Oeste.
Mas a maior parte dos líderes da FPA que votaram explicitamente contra a prisão de Chiquinho Brazão pertence ao PL. Entre eles a deputada Bia Kicis (PL-DF), que preside a comissão de Alimentação e Saúde, e Caroline de Toni (PL-SC), coordenadora jurídica da frente. Essa bancada feminina pró-Brazão — acusado de mandar matar uma vereadora carioca — tem ainda a deputada Rúbia Fernanda Siqueira (PL-MT), que se apresenta como Coronel Fernanda, responsável pela comissão de Defesa Vegetal.
A legião de homens que defendeu Brazão inclui o segundo vice-presidente da FPA na Câmara, o deputado capixaba Evair de Melo (PP), do mesmo partido do presidente da Casa, o alagoano Arthur Lira; os vice-presidentes da frente para as regiões Nordeste e Norte, José Rocha (União-BA) e Vicentinho Júnior (PP-TO); o presidente da comissão de Orçamento, Giacobo (PL-PR); o presidente da Comissão de Ambiente, Zé Vítor (PL-MG); e o presidente da comissão de Segurança no Campo, o deputado pró-armas Marcos Pollon (PL-MS).
Os três últimos, como se vê, são do Partido Liberal. O PL tem ainda outros deputados que integram postos de comando na bancada ruralista, como os conselheiros “vogais”, e votaram contra a prisão de Brazão: a paulista Carla Zambelli, o brasiliense Alberto Fraga, o gaúcho Giovani Cherini, o mato-grossense José Medeiros, o sul-mato-grossense Rodolfo Nogueira e o paranaense Nelsi Maria, conhecido como Vermelho.
Ao todo, vinte líderes da FPA votaram contra a prisão do colega. Este levantamento não inclui deputados que não têm funções de liderança na Frente Parlamentar da Agropecuária e também votaram com a bancada na quarta-feira. Um caso expressivo é o de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também cravou um “não” à prisão do colega.
Outros quatro vogais da FPA ajudaram a engordar a lista de votos pró-Brazão na Câmara dos Deputados. Duas mulheres, Ana Paula Leão (PP-MG) e Fernanda Pessoa (União-CE), e dois homens, Carlos Henrique Gaguim (União-TO) e Pedro Westphalen (PP-RS).
O site Congresso em Foco divulgou nesta quinta-feira uma lista de deputados que estavam na Câmara na quinta-feira, mas simplesmente não votaram. Nem sim, nem não. Como se lá não estivessem. Um deles, o paranaense Dilceu Sperafico (PP), já presidiu a Frente Parlamentar da Agropecuária e hoje atua como conselheiro, ou seja, vogal. Outros cinco líderes da FPA estavam na Câmara e não votaram contra ou a favor da prisão de Chiquinho Brazão.
Um deles é o deputado mineiro Domingos Sávio, vice-presidente da frente para a região Sudeste. Seu partido? O PL. Essa lista tem mais um mineiro, Luiz Fernando Faria (PSD), presidente da comissão de Defesa Animal, um piauiense, Julio Cesar (PSD), à frente da comissão de Endividamento Rural; a baiana Roberta Roma (PL), uma entre os 21 deputados que compõem o grupo dos vogais; e um gaúcho, Covatti Filho (PP), coordenador institucional — um dos cargos mais importantes da frente.
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP), não marcou presença na sessão na quarta-feira. É outro parlamentar do partido do presidente da Câmara, Arthur Lira. Outros quatro líderes da bancada ruralista também deixaram de votar e não registraram presença ne sessão. São eles: o presidente da comissão de Política de Abastecimento, Emidinho Madeira (PL-MG), o líder da comissão de Infraestrutura e Logística, Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), o mineiro Pinheirinho (PP), vogal, e a mineira Greyce Elias (Avante), esta última secretária da frente.
Apenas um entre os líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária aparece em uma lista muito específica entre os deputados que participaram da votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão: a das abstenções. Ele é o presidente da Comissão Tributária, Arthur Maia (União-BA), que presidiu a CPMI sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2022. Maia chegou a declarar que votaria pela prisão do colega, mas os anais da Câmara informam que ele se absteve.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
Imagem principal (Reprodução): Marcos Pollon, fundador do Proarmas, coordena comissão de Segurança no Campo da FPA