Chineses que “anunciam investimentos” para Temer já estão no Brasil

Imprensa brasileira divulga aporte de R$ 2,35 bi da Hunan Dakang como um grande feito; mas ela já está aqui, com 57% da matogrossense Fiagril; investida chinesa em grãos não é uma novidade

O caderno de economia do Estadão abre desta forma nesta sexta-feira (02/09): “Em visita de Temer, chineses anunciam aportes de cerca de R$ 15 bi no Brasil”. A maior parte para uma siderúrgica no Maranhão. Mas também “R$ 3,25 bi para agricultura”.  Tudo isso “no primeiro evento no exterior como presidente”, com Michel Temer tentando “passar a imagem de que instabilidade política foi superada”.

O investimento de R$ 3,25 bilhões – ou US$ 1 bilhão – é da empresa Hunan Dakang, que pertence ao bilionário grupo Shanghai Pengxin. E não tem nada a ver com Temer: a empresa já está no Brasil. Em abril, comprou 57% da matogrossense Fiagril Ltda, exportadora de soja. E já se falava que a parceria com o grupo brasileiro seria aprofundada.

O farelo da soja é utilizado como ração para alimentar as aves e os porcos chineses.

PARCEIRO INDICIADO

A Fiagril Participações não foi vendida, apenas a Fiagril Ltda. A empresa vendida está sendo investigada pela CPI da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul que trata de incentivos fiscais. Vinte empresas deixaram de pagar mais de R$ 100 milhões em impostos, entre elas a JBS (Friboi) e a Fiagril.

A Fiagril Participações é controlada por Marino Franz, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde. Ele foi preso em 2014, e indiciado em 2015, acusado de liderar um esquema bilionário que fraudava documentos relativos à reforma agrária. Segundo a PF, que comandou a Operação Terra Prometida, fazendeiros, empresários e grupos ligados ao agronegócio utilizavam-se do poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar pessoas para que obtivessem lotes.

Meses antes, a revista Exame descrevia Franz como “um prefeito perfeito“. “Homem simples, trabalhador, honesto e pleno de valores nas suas intenções”, escreveu o colunista José Luiz Tejon Megido. “Precisamos descobrir e revelar para o país estas personalidades”. (Alceu Luís Castilho)

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