Pesquisa da UFMT aponta 1.442 casos de câncer de estômago, esôfago e pâncreas em 14 municípios produtores de grãos, entre 1992 e 2014; e apenas 53 casos em municípios não produtores
Um artigo publicado em abril por dois pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) aponta maior incidência de câncer do estômago, esôfago e pâncreas em 14 municípios que eles definem como “território da soja”, como Rondonópolis, Sinop e Sorriso. Com total de casos 27 vezes maior que em 14 municípios não produtores do grão – e que, em tese, não têm grande incidência de uso de agrotóxicos.
O artigo foi publicado na revista Espaço Acadêmico, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), com o título: “Geografia médica e agronegócio: evolução espaço temporal dos cânceres do estômago, esôfago e pâncreas no estado de Mato Grosso a partir da década de 1990“. Os autores são o historiador Moisés Silva Pereira, mestrando em Geografia na UFMT, e o biólogo Fabio Angeoletto, professor de Geografia no campus de Rondonópolis da UFMT.
Os dados relativos à internação pelos três tipos de câncer foram coletados no Datasus. Segundo os autores, os resultados apontam para uma “correlação entre a expansão da urbanização, o aumento da área plantada e uma tendência a uma maior exposição de determinados estratos da população a condições de risco, que podem ocasionar o aumento de alguns tipos de cânceres, em especial câncer do estômago, esôfago e pâncreas”.
Os 14 municípios do “território da soja” são os maiores produtores de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar – culturas expostas ao uso intensivo de agrotóxicos. Os 14 outros municípios têm como atividades econômicas principais o turismo, a pecuária e o extrativismo.
Como o artigo não menciona a população dos municípios, De Olho nos Ruralistas fez um levantamento, a partir das projeções do IBGE para 2016. Os 13 municípios (a tabela divulgada pelos autores não tem 14 municípios) do “território da soja” possuem, juntos, 757 mil habitantes. Os outros 13 municípios reúnem uma população de 167 mil habitantes. Quase cinco vezes menor, portanto.
Metade dos casos foi registrada em Rondonópolis, terceiro município mais populoso do estado.
Os pesquisadores concluem o artigo convictos de uma “possível ligação entre o principal modelo que fundamenta o crescimento econômico do estado do Mato Grosso, seu processo de urbanização e o aumento significativo de algumas patologias cancerígenas”. (Alceu Luís Castilho)