CNA prepara futuros diplomatas para vender modelo do agronegócio

Confederação da Agricultura leva estudantes do Rio Branco para “conhecer” latifúndios de monocultura; fazenda preferida, em Goiás, a Wehrmann, pertence a antigos sócios da Monsanto na tecnologia RoundUp

Por Alceu Luís Castilho

Estudantes do Instituto Rio Branco estão visitando latifúndios de monocultura para divulgar esse modelo – o do agronegócio – no futuro trabalho: o de diplomatas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou nesta segunda-feira (19/09) a informação, na seguinte reportagem: “Da sala de aula para o campo – CNA leva futuros diplomatas em visita a propriedades rurais“.

O texto informa que mais de 30 alunos do curso de formação de diplomatas do Instituto Rio Branco foram “conferir de perto o desempenho do setor agropecuário brasileiro”, a convite da Superintendência de Relações Internacionais (SRI) da CNA. Eles estiveram na sexta-feira nas fazendas Wehrmann, em Cristalina, (GO), e Miunça, no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal.

Thiago Masson, assessor técnico da SRI, disse à reportagem da CNA que o conhecimento prático facilitará a tomada de decisões, pelos diplomatas, “que reflitam os interesses do produtor brasileiro”. Eles começaram o dia – chamado pela instituição patronal de Dia do Campo – ouvindo palestras sobre “o sucesso do Brasil na produção agropecuária”. Com temas como barreiras fitossanitárias e barreiras comerciais.

(Foto: Wenderson Araújo/CNA)

A Fazenda Werhmann tem mais de 30 mil hectares, segundo a CNA. Um latifúndio, portanto. Com produção de sementes de soja e hortaliças (alho, batata, cebola), movida a agrotóxicos. A batata é produzida in natura, mas também de forma industrializada. A empresa responde por 12% da produção brasileira de alho. Seu dono, Verni Kitzmann Wehrmann, ganhou em 2007 um prêmio de sustentabilidade da multinacional Bunge.

Trata-se de destino recorrente. A CNA já promoveu até visitas de adidos da embaixada estadunidense – e de técnicos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – a essa mesma fazenda. O mesmo ocorreu em 2013 com colombianos, desta vez recebidos pela Cooperativa Agrícola do Distrito Federal, durante a Feira Internacional dos Cerrados, ou Agrobrasília – sob o patrocínio de Banco do Brasil, Caixa Econômica e BRB.

Os dois donos da Wehrmann, Verni e Norma Kitzmann Wehrmann, já foram sócios da Monsanto – por meio da empresa Wehrtec – na exploração comercial da tecnologia RoundUp Ready no Brasil. A parceria foi aprovada em 2009 pelo Ministério da Fazenda. Em 2012, porém, a Wehrtec Tecnologia Agrícola foi adquirida pela alemã Bayer. A RoundUp é uma semente transgênica de soja baseada no herbicida glifosato.

(Foto: Wenderson Araújo/CNA)

Mas voltemos aos futuros diplomatas. O texto da CNA – por muitos anos comandada pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) – ouviu um deles, Pedro Barreto da Rocha, sobre a experiência na fazenda Wehrmann. “Com essa visita a campo, teremos condição técnica para defender os interesses do produtor rural, quando o tema for agricultura e pecuária”, disse ele.

O dia dos estudantes foi encerrado na fazenda Miunça, no Distrito Federal, descrita como “propriedade referência em suinocultura no Distrito Federal”. A fazenda está construindo um sistema, informa a CNA, “que permite que as fêmeas gestantes não fiquem em gaiolas durante a gestação”. “Dessa forma, não há disputa por comida”, explicou um veterinário da propriedade.

A fazenda pertence ao paulista Rubens Valentini. Segundo a revista Dinheiro Rural, em 2013, a produção nesse ano era vendida para frigoríficos independentes, de menor porte, mas já havia interesse de compradores como BRF, Marfrig e Mcdonald’s nesse modelo que “privilegia o bem-estar animal”.

(Foto: Wenderson Araújo/CNA)

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