Produtos utilizados nos fertilizantes, por exemplo, têm grande impacto ambiental, mas não costumam motivar pesquisas
Por Lindsey Konkel – Ensia
Produtos químicos sintéticos podem alterar os processos ecológicos, embora poucos cientistas estejam estudando o papel deles na mudança ambiental global. É o que diz um grupo de pesquisadores alemães e estadunidenses num artigo científico publicado em janeiro no jornal Frontiers in Ecology and the Environment.
A humanidade aumentou a produção de químicos, nas décadas recentes, de forma mais rápida do que ocorreu no caso de outras mudanças planetárias, na terra, no ar e na água, como o aumento do dióxido de carbono na atmosfera e a destruição de habitats. Ainda não está estudando, no entanto, as consequências ecológicas dos contaminadores químicos. Menos de 2% dos financiamentos de uma das principais fontes de financiamento nos Estados Unidos e dos estudos publicados nos principais jornais ecológicos e apresentados nos encontros internacionais se referem ao estudo de químicos sintéticos.
Os pesquisadores analisaram tendências desde os anos 1970 na quantidade e número de diferentes químicos sintéticos. Eles utilizaram o valor global de mercado como um equivalente da quantidade total de químicos produzidos.
“A taxa de aumento na produção e na diversidade de farmacêuticos e pesticidas supera a dos mais reconhecidos agentes de mudança global e compete com a taxa de aumento do uso mundial de fertilizantes”, assinala a equipe liderada pela ecologista Emily Bernhardt, da Duke University. Os pesquisadores não informaram a quantidade de químicos que contaminam o ambiente.
Químicos sintéticos são uma das marcas da era moderna. Alguns deles e de seus derivados degradam lentamente. Eles podem entrar na cadeia alimentar e criar problemas de longo prazo para o ambiente. Outros químicos, ainda que se diluam rapidamente, são tão ubíquos que oferecem risco constante de impacto ambiental.
Apesar das recomendações ambientais sobre a rápida proliferação dos químicos sintéticos, concluíram os pesquisadores, os cientistas raramente estudam seus impactos ecológicos. Menos de 1% dos estudos ecológicos publicados nos últimos 25 anos mencionaram esses produtos, conforme uma amostra das 20 principais publicações ecológicas. Em uma conferência internacional, em 2015, 1,3% das apresentações mencionaram esses contaminadores. E apenas 0,006% dos financiamentos atuais da U.S. National Science Foundation’s Division of Environmental Biology — fonte importante para os ecologistas estadunidenses — voltaram-se para os estudos dos efeitos dos químicos sintéticos no ambiente. Houve apenas um financiamento de US$ 20 mil.
Os pesquisadores dizem que o “gap de conhecimento” resultante pode tornar mais difícil atingir metas de sustentabilidade como a saúde dos oceanos e a proteção da biodiversidade. Eles defendem que a NSF financie mais pesquisas ecológicas sobre contaminantes – especialmente aquelas que indaguem como a poluição química se relaciona com os efeitos de outros agentes, como o aumento das temperaturas, nas plantas e animais. (Tradução: Alceu Luís Castilho)