Lista do trabalho escravo tem o dono do frigorífico da terra de Chico Mendes

Governo voltou a divulgar lista suja; Amândio Cogo é quem abate bois em Xapuri, no Acre; ele já comprou de área embargada pelo Ibama

Por Alceu Luís Castilho

Obrigado pela Justiça, o governo voltou nesta quinta-feira (24/03) a divulgar a “lista suja” do trabalho escravo. O sexto nome na lista, o de Amândio Celestino Cogo, chama a atenção por sua atividade e pela cidade onde tem empresa: ele é o dono do frigorífico de Xapuri (AC), a terra de Chico Mendes, o sindicalista assassinado em 1988 que se tornou referência mundial dos ambientalistas.

Em 2014, três trabalhadores foram libertados de uma fazenda de Cogo, chamada Perseverança, em Rio Branco. O site do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informa que, no primeiro trimestre de 2015, a empresa de Cogo, a Frigoverde (que leva o nome do empresário no início), foi uma das empresas beneficiadas com repasses do Tesouro Nacional.

Em 2008, abate na marretada (Foto: Raimari Cardoso)

E tem mais: a Frigoverde – apesar do nome – já comprou, em 2010, 135 bois de áreas embargadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O Ministério Público Federal moveu no ano seguinte uma ação civil pública contra a Frigoverde e outros 13 frigoríficos no Acre, por causa dessas compras oriundas de desmatamento.

O valor total da causa ultrapassava os R$ 2 bilhões. Primeiro nome da lista? A JBS, de quem o MPF (com Ministério Público do Trabalho e Ministério Público Estadual) requeria R$ 58 milhões. O valor da indenização para a Frigoverde era quatro vezes menor: R$ 13,5 milhões.

Localizada na Estrada da Borracha, a empresa fez um acordo e aderiu ao  programa Carne Legal – quatro anos antes, portanto, de Cogo ter fazenda flagrada com trabalho escravo em Rio Branco.

Sexto nome da Lista Suja de 2017 mata bois na terra de Chico Mendes
Frigoverde em 2008 (Foto: Raimari Cardoso)

Anos antes, em 2008, o jornalista Raimari Cardoso se surpreendia com o método utilizado para o abate no Frigoverde: “As vacas, algumas esquálidas, são mortas manualmente, com impiedosas marretadas na cabeça. Nem sempre uma única pancada põe fim imediato à vida dos pobres animais, ou seja, o gado abatido sofre antes de morrer”. Quase dez anos depois, o método não mudou.

O empresário é filiado ao PMDB desde 1990. De Olho nos Ruralistas não conseguiu localizá-lo.

 

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