Pecuarista e produtor de carvão, Carlinhos Florêncio filiou-se no início do mês ao PCdoB; em 2014 ele declarou R$ 7,8 milhões em bens, entre eles cinco fazendas com 7.264 hectares
Por Alceu Luís Castilho
Em 2008, candidato a prefeito em Bacabal (MA) pelo PHS, o deputado estadual Carlinhos Florêncio (PCdoB-MA) possuía R$ 1,3 milhão em bens. Seis anos depois, reeleito para a Assembleia Legislativa pelo PHS, seu patrimônio saltou para R$ 7,77 milhões. Entre as cinco fazendas declaradas está a Tremendal, em Parnarama (MA), com 4.295 hectares, carinhosamente chamada de Fazendinha. Foi nela que a fiscalização do Ministério do Trabalho encontrou nove trabalhadores em situação de trabalho escravo, em 2016, conforme atualização da lista suja divulgada no dia 10.
Parnarama é um dos municípios do semiárido maranhense. O flagrante ocorreu na estrada que liga os povoados Feitoria e Coco, a 50 quilômetros do povoado Baú, em Caxias. Em 2004, segundo o jornal Pequeno, 33 famílias foram despejadas da Fazendinha. Elas moravam havia 60 anos no local. O bispo de Caxias e o pároco de Parnarama foram impedidos de visitá-las – eles entregravam cestas básicas às famílias. José Carlos Nobre Monteiro, o Carlinhos Florêncio, alegou à Justiça que eles incentivavam os camponeses a retornar ao povoado, destruído por tratores.
“As famílias residiam há mais de 60 anos no povoado Fazendinha e conviviam pacificamente com o antigo proprietário Simão Barbosa de Carvalho que cobrava de cada uma delas 60 quilos de arroz anualmente por cada linha”, relatou o jornal, na época. “A data Tanque em que está encravada a Fazenda Tremendal se estende por sete mil hectares, porém Barbosa Carvalho só possui a documentação de cinco mil, dos quais 3,23 mil hectares vendeu a José Carlos. Não se sabe qual a área devidamente legalizada em nome de Barbosa Carvalho, porque existe a versão de que ela se constitui de terras devolutas”.
O deputado Carlinhos Florêncio foi eleito em 2010 e 2014 pelo PHS. Apenas no início deste mês ele migrou para o PCdoB, partido do governador Flávio Dino. Ele é filho do empresário Raimundo Florêncio, condecorado cidadão maranhense em 2014, por iniciativa do deputado André Fufuca, hoje deputado federal (presidente temporário da Câmara em 2017), cujo pai também já esteve na lista suja: “Pai do deputado Fufuca já esteve na Lista Suja do Trabalho Escravo“.
A última declaração de bens entregue pelo deputado Florêncio ao Tribunal Superior Eleitoral mostra que em 2014 ele possuía cinco fazendas no Maranhão: a Vitória, em Bacabal, com 1.353 hectares; a Colorado e a Ana e Neto, em Vitória do Mearim, cada uma com 277 hectares; a Brejo Grande, em Pio XII, com 1.179 hectares; e a Tremendal (ou Tremedal), com seus 4.295 hectares, declarada por R$ 213 mil. Mais um sítio em Bacabal. A soma das fazendas, em 2014, era de R$ 620 mil.
Dois anos antes ele recebeu autorização da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais para produção agropecuária e de carvão vegetal – exatamente na Fazendinha, ou Tremendal. Ainda em 2012 ele disputou a prefeitura de Bacabal com outro político que esteve na lista suja do trabalho escravo, o ex-deputado federal (pelo PR) José Vieira, dono de mais de 10 mil hectares – também em Parnarama. Depois, aliaram-se.
A prefeitura de Bacabal – bem mais próxima de São Luís – é administrada hoje pelo filho do deputado, Florêncio Neto, eleito vice-prefeito, pelo PHS, em 2016, na chapa de José Vieira. Ele assumiu o cargo em janeiro após o prefeito ter os direitos políticos suspensos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com o mesmo nome do avô, Neto declarou 11 imóveis rurais em Colinas, mais ao sul do Maranhão, todas somando 1.083 hectares, pelo preço de R$ 93 mil. Em 2014, candidato a deputado federal, ele não possuía nenhuma fazenda.
O pai Carlinhos Florêncio tem propriedades mais valiosas. Além do preço de cada uma, ele ainda declarou R$ 1,02 milhão e R$ 36 mil em benfeitorias nas Fazendas Vitória I e II; R$ 294 mil na Fazenda Ana e Neto; R$ 96 mil na Fazenda Brejo Grande; e R$ 1,9 milhão na Tremendal, o alvo dos fiscais do Ministério do Trabalho. A soma dos preços das propriedades e das benfeitorias do deputado é de R$ 3,97 milhões, mais da metade de seu patrimônio de R$ 7,7 milhões. Em 2010 ele possuía menos da metade, R$ 3,6 milhões.