Presidente eleito foi um dos entusiastas da candidatura derrotada de Valmir Beber a deputado federal pelo PSL, cuja empresa o ajudou na campanha; bananicultores foram a Brasília pedir apoio para a produção na região, no interior de SP
Por Leonardo Fuhrmann
O presidente eleito Jair Bolsonaro e a futura ministra da Agricultura, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), receberam na terça-feira (04/12) o empresário Valmir Beber, político e bananicultor. Ele foi condenado em março a um ano de reclusão pela Justiça em Eldorado, no Vale do Ribeira (SP), por crime ambiental. Amigo da família Bolsonaro, Beber mantinha uma plantação de bananas em uma área de 19,5 hectares dentro do Parque Estadual Caverna do Diabo, um dos principais pontos turísticos da região.
A condenação foi substituída por uma pena que obriga Beber a reparar o dano causado. A juíza Gabriela de Oliveira Thomaze concedeu ao empresário o direito de recorrer da decisão em liberdade. A condenação do fazendeiro foi revelada pelo De Olho nos Ruralistas em 22 de outubro, como parte de uma série especial sobre os negócios e interesses da família Bolsonaro e seus aliados no Vale do Ribeira, onde o presidente eleito foi criado e alguns de seus parentes vivem até hoje.
A série durante a cobertura eleitoral também contou como um dos cunhados de Bolsonaro, Theodoro Konesuk, casado com uma de suas irmãs, foi condenado por invadir terras de quilombos. Outra reportagem ouviu os quilombolas da região, que afirmam nunca terem recebido uma visita do presidente eleito. Ao contrário do que ele disse durante a campanha, quando citou um quilombo “em Eldorado paulista” onde os moradores, segundo ele, pesavam muitas “arrobas”, não faziam nada e não serviam “nem pra reproduzir”.
Beber fez parte de uma comitiva da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar), da qual é diretor, junto com o empresário Rene Mariano, e outro diretor da entidade, Agnaldo Oliveira, além de e o pesquisador Wilson Moraes, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). Segundo eles, o assunto do encontro foi o aumento nos investimentos em pesquisa e tecnologia para o setor, além de medidas de apoio à produção e comercialização. Um dos temas foi a proibição da exportação de banana do Equador, tema já tratado por Bolsonaro no Congresso e em reuniões da entidade.
O empresário foi candidato a deputado federal pelo PSL paulista e recebeu 22.031 votos. Só não foi eleito por causa da nova cláusula de barreira, que exige um mínimo de votos nominais. Seu principal cabo eleitoral era um dos irmãos de Bolsonaro. Morador do Vale do Ribeira, Renato Bolsonaro participou ativamente de carreatas e de outros atos da campanha do empresário, além de gravar vídeos ao lado de Beber. O futuro presidente também gravou vídeos de apoio ao condenado pela Justiça.
O flagrante de crime ambiental pelo produtor de bananas foi feito pela direção do parque, com o apoio da Polícia Ambiental. Em fevereiro de 2014, eles constataram que o empresário causou dano direto à unidade de conservação, impedindo sua regeneração natural. À Justiça, Beber alegou que o bananal não causou dano à reserva porque sua plantação era anterior à criação do parque.
Em seu depoimento, o empresário afirmou que o processo foi provocado por “perseguição política”, pois foi o único proprietário processado entre as cem famílias que residem no local. Ele não apresentou em juízo nenhuma prova dessa perseguição. Alegou ter comprado o terreno em 2005 e nunca ter desmatado nenhuma árvore ou ampliado a plantação. Segundo ele, o Parque Estadual foi criado em 2008 e, até então, a sua área não pertencia à reserva. O empresário disse que a plantação foi iniciada em 1995 por um antigo proprietário do terreno.
A plantação fica próxima de um curso d’água. Um funcionário de Beber declarou à gestora do parque que era utilizado agrotóxico no cultivo, o que é proibido em áreas de reservas ambientais. A área onde foi plantado o bananal fica desde 1969 dentro de uma reserva ambiental. Por seu tamanho, não servia à subsistência.
A página da Comércio de Bananas Beber Ltda divulgou no dia 4 de outubro – três dias antes do primeiro turno – um vídeo onde o dono da empresa aparece, ao lado de Renato Bolsonaro, pedindo votos para ele e para o candidato do PSL. O presidenciável aparece em uma imagem ao fundo, ao lado de Beber. “A família Bolsonaro está nos ajudando demais nesta reta final”, diz o empresário. “Todos os dias ele cita meu nome”.
A divulgação de candidaturas por empresas é vedada pela Justiça Eleitoral. O vídeo mostra Renato Bolsonaro falando, em nome do irmão, que Beber foi o escolhido para representar o Vale do Ribeira em nome do agronegócio da região (banana, palmito, pecuária) e de seu projeto presidencial. “Ele quer, realmente, que você chegue lá”.
A página da campanha derrotada de Beber também traz vídeos com Jair Bolsonaro ao seu lado. O empresário pede votos para o amigo. Um dos vídeos foi gravado quando o presidenciável estava hospitalizado, após a facada levada em Juiz de Fora (MG). O candidato do PSL lembra que foi criado não região, conta que os irmãos ainda moram lá e defende a importância de se eleger um candidato do Vale do Ribeira. “Amigos do Vale do Ribeira, em 7 de outubro, todo mundo é Beber”, diz. “Sem essa de importar banana do Equador. A banana é nossa. Tamos [sic] juntos. Vamos dar uma banana àqueles que querem importar banana do Equador”.