Indígenas de Roraima formam grupos de vigilância para proteção do território

Carta da 48º Assembleia dos Povos aponta falta de segurança nas 32 Terras Indígenas e violações de direitos como motivo para iniciativa; 55 mil pessoas vivem em uma área de 10,3 milhões de hectares, 46% do território do estado

Oito povos indígenas – Ingariko, Macuxi, Wapichana, Wai Wai, Yanomami, Patamona, Sapará, Taurepang – divulgaram o resultado da 48ª Assembleia dos Povos Indígenas do Estado de Roraima, realizada em março. Um dos itens chama a atenção pela descrença no papel do Estado de garantir a segurança no território dos povos originários, quase a metade da área dessa Unidade da Federação, no extremo norte do país:

– As comunidades indígenas devido à falta de segurança e diversos tipos de violações de direitos iniciaram a formação de “grupos de vigilância, proteção e monitoramento” que tem por escopo garantir a proteção territorial e ambiental. Queremos lembrar que somos protetores de 32 Terras indígenas, equivalente a 10.33.32º hectares, 46,2% do território do Estado de Roraima, com uma população de aproximadamente 55 mil indígenas, distribuídas em 413 comunidades.

Os povos indigenas reivindicam um programa de treinamento e capacitação dos indígenas para vigilância e monitoramento das terras indígenas, com suporte técnico em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Eles querem que as autoridades da segurança pública respeitem os regimentos internos das comunidades indígenas em relação às medidas para solução de conflitos internos.

Que Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Exército adotem medidas para proteger e fiscalizar o território indígena, “inclusive por meio de programas de proteção culturalmente adequados, em colaboração com os grupos de monitoramento e vigilância das comunidades”.

E que seja regulamentada, por meio de uma lei federal, a atividade desenvolvida pelos Grupos de Vigilância e Proteção das Terras Indígenas (GPVIT).

NA FRONTEIRA COM GUIANA, TERRA TEM ‘IMINÊNCIA DE INVASÃO’

Entre as reivindicações das etnias está um pedido para Funai, Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) averiguarem a situação em torno das terras indígenas “em iminência de invasão”, caso da TI Wai Wai, na fronteira com a Guiana.

“Lideranças Wai Wai, durante esta assembleia, mostraram-se bastante preocupadas com a proximidade acelerada da ocupação de fazendeiros nos limites da terra indígenas e da entrada ilegal de garimpeiros”, escrevem os indígenas.

A carta das etnias pede também continuidade a açõe para coibir o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, na comunidade indígena Tarame, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na Terra Indígena Boqueirão e na região de Tabaio, “realizando investigação dos financiadores do garimpo”. “O garimpo ilegal é a maior ameaça à sobrevivência física e cultural dos povos indígenas”, definem.

A reivindicação de regularização fundiária em Pacaraima inclui pedido de retirada de ocupantes não indígenas da Terra Indígena São Marcos. “Terra Indígena Serra da Moça, Jabuti, Boqueirão, Canaunim, Arapuá estão rodeadas de plantação de soja e acácia”, denunciam os indígenas.

A carta da 48º Assembleia, realizada na TI Raposa Serra do Sol, posiciona-se ainda contra a reforma da Previdência, contra a mineração em terras indígenas e, entre outros temas, contra o Linhão do Tucuruí, que atinge os Waimiri Atroari no Amazonas.

As etnias criticam a lentidão na apuração dos crimes cometidos contra os povos indígenas e marcam posição contra os projetos dos governos federal e estadual: “O governo não tem um plano para os povos indígenas e não respeita os direitos constitucionais, prova disso é que no primeiro dia de mandato aniquilou sorrateiramente a Funai”.

Confira o documento na íntegra.

Carta da 48ª Assembleia dos Povos Indígenas do Estado de Roraima

Nós, Povos Indígenas Ingariko, Macuxi, Wapichana, Wai Wai, Yanomami, Patamona, Sapará, Taurepang, de 241 comunidades indígenas, pertencentes às etnoregiões: Amajari, Baixo Cotingo, Murupu, Tabaio, Raposa, Serras, Serra da Lua, Surumú, Wai Wai e Yanomami, membros do Conselho Indígena de Roraima – CIR, com a participação das organizações indígenas Hutukara Associação Yanomami- HAY, Associação dos Povos Indígenas Wai Wai – APIW, Associação dos Povos Indígenas da Terra Indígena São Marcos – APITSM, Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima – SODIUR, Organização das Mulheres Indígenas – OMIR, Associação Estadual Indígena Kuwai Kîrî de Roraima, Organização dos Indígenas na Cidade – ODICRR, HWENAMA Associação dos Povos Yanomami de Roraima, Organização dos Professores Indígenas de Roraima – OPIR, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, e dos nossos parentes PEMÓN e BARÉ da Venezuela, instituições públicas e privadas, autoridades públicas, totalizando o número de 1.400 presentes na 48ª. Assembleia Geral dos Povos Indígenas do Estado de Roraima sob o tema “União, Vigilância e Resistência na defesa dos Direitos dos povos indígenas” ocorrida no Centro Regional Lago Caracarana, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol-RR, nos dias 11 a 14 de março de 2019.

Após ampla discussão, avaliação, questionamentos sobre a situação dos Povos Indígenas no Estado de Roraima e no Brasil, quanto à aplicação de nossos direitos amparados na Constituição Federal Brasileira de 1988, e reafirmados nos tratados dos direitos humanos, em especial na Convenção 169 da OIT, vimos apresentar nossas demandas, preocupações e reivindicar junto ao Estado Brasileiro:

DIANTE DISSO REIVINDICAMOS:

TERRITÓRIO TRADICIONAL E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

  1. DIREITO E JUSTIÇA
  1. MEIO AMBIENTE E AUTO SUSTENTABILIDADE
  1. EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
  1. SAÚDE INDÍGENA

DIREITO DE CONSULTA E O SISTEMA JURÍDICO INDÍGENA

Por fim, com base em nossas reivindicações acima relatadas solicitamos medidas eficazes e tempestivas por parte do Estado Brasileiro.

Centro Regional Lago Caracarana, T. I Raposa Serra do Sol, 14 de março de 2019.

Abaixo assinado, ASSEMBLEIA GERAL

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