Pesquisa mostra que o Hexazinona pode ter contaminado o Aquífero Guarani; lista divulgada nesta segunda inclui 42 novas substâncias, entre elas 13 pesticidas extremamente tóxicos; desde janeiro já são 211 autorizações
Por Leonardo Fuhrmann
O governo Bolsonaro liberou nesta segunda-feira (24) a substância Hexazinona para cinco fabricantes ou importadores diferentes: Adama, Tradecorp, CCAB Agro, Albaugh, Nortox e uma sexta empresa que conseguiu o registro graças à Pró Registros, escritório especializado nesse tipo de licenciamento. A substância tem causado preocupação em muitas regiões do país em função de pesquisas que indicam a contaminação da água consumida em diversos municípios, por conta de seu uso agrícola.
O ato número 42, da Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura, aprovou o registro de 42 novas substâncias, que poderão ser produzidas ou importadas para uso nas lavouras brasileiras. Dessas, 13 são consideradas pelo próprio órgão federal como extremamente tóxicas e outras quatro como altamente tóxicas. Com a nova medida, a lista de agrotóxicos autorizados pelo governo desde janeiro chega a 211 produtos.
O pesquisador Raphael DAnna Acayaba, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apontou a contaminação por hexazinona em pelo menos dois rios na região de Piracicaba, polo produtor de cana-de-açúcar no interior paulista. Outros pesquisadores acompanham o assunto em regiões do Nordeste.
Uma pesquisa feita pelo Laboratório de Resíduos e Contaminantes, da Embrapa Meio Ambiente, mostrou os riscos de contaminação de águas subterrâneas. O estudo traz a possibilidade de o Hexazinona ter contaminado o Aquífero Guarani, principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maiores sistemas aquíferos do mundo. A preocupação é maior em relação à região de Ribeirão Preto, outra parte do polo canavieiro paulista, onde o aquífero aflora. “Os resultados encontrados no solo estudado demonstram que o hexazinona possui potencial para contaminação de águas subterrâneas”, conclui a pesquisa.
Foram também liberados dois novos glifosatos, dos fabricantes Nortox e Adama. Um dos agrotóxicos mais usados no mundo, o glifosato é alvo de controvérsia principalmente depois de a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), concluir com base em centenas de pesquisas que o glifosato era “provavelmente cancerígeno” para humanos. A Comissão Europeia deve analisar em 2022 se mantém a liberação de seu uso no continente. No Brasil, o glifosato está em reavaliação desde 2008.
Foi liberada também uma versão do agrotóxico 2,4-D, produzido pela CropChem. O produto foi banido na Austrália e no Canadá e, desde 2006, está sob processo de reavaliação na Anvisa. Os fruticultores do Rio Grande do Sul alegam que o herbicida provocou perdas milionárias em suas safras, pois devastou extensas plantações de uvas, impactando negativamente na produção das vinícolas. Querem a proibição imediata do produto no estado. Os prejuízos, afirmam, ultrapassam R$ 100 milhões, segundo Helio Marchioro, do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), e atingem, além das uvas, o cultivo de oliveiras, macieiras, citros e erva-mate.
O produto técnico Rinksor, da empresa Dow, à base de Florpirauxifen-benzil, é o único ingrediente ativo novo que está na lista. Foi a primeira vez neste ano que foi liberado um ingrediente que ainda não era utilizado, sob a alegação de que “apresenta alta eficiência contra a infestação de diversas plantas daninhas”.