Roberto Cavalcanti já foi senador e é dono de 15 emissoras de rádio e TV; ele disse em uma dessas rádios que aqueles jornalistas que divulgam notícias sobre mortes por coronavírus deveriam ser “apedrejados” nas ruas
Por Leonardo Fuhrmann
Este é um breve resumo do currículo de Roberto Cavalcanti Ribeiro, o político que defendeu, em um programa de rádio de uma de suas emissoras, que os jornalistas que divulgam notícias sobre as mortes causadas pelo coronavírus deveriam ser “apedrejados” nas ruas.
Cavalcanti entrou para a política em 2002, como primeiro suplente do senador José Maranhão, ex-governador do estado. Na época, o empresário declarou a produção agropecuária como sua principal atividade, apesar de já ter negócios em diversos ramos. Era dono, segundo sua declaração à Justiça Eleitoral, de duas fazendas de nome Santa Fé no município de Monteiro (PB), uma com 250 hectares e outra com 200 hectares.
Essa combinação de poderes locais está tradicionalmente associada ao conceito de coronelismo.
Cavalcanti estava afiliado ao PRB, hoje Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, mesma denominação que controla a Record, à qual sua emissora de TV é ligada. Republicanos, Record e Edir Macedo, principal líder do grupo religioso-empresarial, estão entre os principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
As propriedades rurais são citadas em processos até o fim daquela década. Em um processo de separação, Cavalcanti e a ex-mulher transferem parte das propriedades aos filhos. O INSS entrou com um recurso para tentar garantir que o valor seja usado para quitar alguma das dívidas tributárias do empresário e de suas empresas. A sonegação é a motivação da maioria dos processos aos quais Cavalcanti responde na Justiça Federal na Paraíba. Ao todo, ele aparece como parte em 122 processos.
O excesso de processos foi tema de reportagens em 2009, quando o empresário assumiu a vaga de José Maranhão no Senado, quando o cacique assumiu o governo da Paraíba.
Em razão do foro privilegiado, três inquéritos contra Cavalcanti foram levados ao Supremo e se tornaram ações penais. Ele era acusado de corrupção ativa em dois deles, em um deles com a utilização de documentos falsos, e outro de apropriação indébita previdenciária, quando o patrão, além de não pagar a seu percentual dos impostos trabalhistas, desconta a parte relativa ao funcionário e não repassa o valor a INSS.
Ele chegou a ser investigado como parte do “Escândalo da Fazenda Nacional”, quadrilha que cometeu fraudes para acobertar a sonegação de impostos. Segundo as investigações, uma empresa de Cavalcanti do setor de plásticos deixou de pagar R$ 18,8 milhões no fim dos anos 90 por meio desse esquema. Cavalcanti acabou absolvido na primeira instância sob o argumento de que não ficou comprovada sua participação direta.
Cavalcanti também faz parte, desde 1979, do Centro das Indústrias do Estado da Paraíba, e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). No ano passado, se tornou integrante da Academia Paraibana de Letras.
Depois das declarações de Cavalcanti, o Sindicato dos Jornalistas do Estado divulgou uma nota de repúdio. Após a reação negativa, Cavalcanti se desculpou pela fala, afirmando que talvez tenha se exaltado. Ressaltou no entanto, que a situação de isolamento tem causado o “assassinato de empresas”.
Imagem principal (Agência Senado): eleito como suplente, empresário ocupou cadeira de José Maranhão