Nomes investigados na Operação Lama Asfáltica estão na lista dos grandes multados pelo Ibama no ano passado; ex-deputado Edson Giroto (MDB-MS) e mais dois envolvidos em esquema de fraudes em licitações somam R$ 2 milhões cada um em punições
Por Leonardo Fuhrmann
O esquema de corrupção denunciado pela Operação Lama Asfáltica, em 2016, não causou danos apenas aos cofres públicos. Ganhos ilegais de pelo menos três dos envolvidos foram usados para aquisições de fazendas na região do Pantanal, mais especificamente no município de Corumbá, o maior do Mato Grosso do Sul. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) encontrou, em 2019, a destruição irregular de vegetação nativa e, em razão disso, aplicou multas superiores a R$ 2 milhões cada uma a três desses personagens.
O principal deles é o secretário de Obras Públicas e Transportes durante as duas gestões do ex-governador André Puccinelli, Edson Giroto (MDB). Ele foi deputado federal pelo estado e chegou a ser candidato a prefeito de Campo Grande, além de assessor especial do Ministério dos Transportes do governo Dilma Rousseff (PT), na época em que seu partido controlava a pasta.
De Olho nos Ruralistas conta, desde segunda-feira (19), quais foram os maiores autuados pelo Ibama nos municípios do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul que compõem o Pantanal. Essa lista tem banqueiro, tem antigo bilionário e acusados de violência. Como se não bastasse, os multados avançam ainda (com práticas similares) pela Bolívia e pelo Paraguai.
A única multa aplicada pelo Ibama na região, em 2019, com valor maior que as dos envolvidos na Operação Lama Asfáltica foi em Itiquira (MT). A Fazenda Ribeirão, pertencente à família Rietjens, recebeu uma autuação de R$ 8 milhões por desmatamento. A produção de grãos é a principal atividade da propriedade.
Segundo as investigações, Edson Giroto comandou um esquema de fraude nas licitações públicas para favorecer a empresa Proteco Construções, de João Alberto Krampe Amorim dos Santos, empresário ligado ao próprio governador. Depois de ganhar as licitações, a Proteco recebia por obras que não eram realizadas ou que tinham algum tipo de superfaturamento. O esquema contava com o apoio de funcionários da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) para funcionar.
Coordenador de Suporte e Manutenção de Empreendimentos da Agesul, João Afif Jorge, segundo o Ministério Público Federal, aprovou planilhas orçamentárias que permitiram a realização de pagamentos em duplicidade, por serviços. As fraudes envolviam recursos estaduais, federais e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Fiscal de obras da agência, o ex-deputado estadual Beto Mariano (Patriotas) foi responsável pela assinatura de diversos boletins de medição relativos a serviços e obras que nunca foram executadas. Mariano é acusado de usar como laranja a própria filha, Mariane Mariano de Oliveira, para ocultar os bens oriundos da corrupção.
Giroto, Jorge e Mariane são donos de fazendas em Corumbá. Os três foram multados pelo Ibama em 2019. O primeiro em abril e os outros dois em fevereiro. As três multas, por desmatamento, têm o mesmo valor: R$ 2.010.000.
O ex-deputado foi condenado na Justiça Federal a 10 anos de prisão. Ele está cumprindo prisão em regime domiciliar em razão da pandemia. Jorge foi condenado a 7 anos e 6 meses de prisão, Beto Mariano a 9 anos e 10 meses e Mariane Mariano a 8 anos e 5 meses.
| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |
Foto principal (Divulgação): ex-deputado Edson Giroto foi um dos presos na Operação Lama Asfáltica
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