Empresa de eventos do filho 04 de Bolsonaro tem, entre suas atribuições, fazer leilões de gado e feiras agropecuárias; João Antonio Thomazini comprou em julho uma fazenda do ex-deputado Camilo Cola, antes avaliada em R$ 105 mil, por R$ 26 milhões
Por Alceu Luís Castilho
A edição deste domingo de O Globo conta que Jair Renan Bolsonaro recebeu um carro elétrico de R$ 90 mil da Neon E. Motors, pertencente a um grupo capixaba comandado pela família Thomazini. O jornal descreve o grupo como atuante nos setores de mineração e construção. Falta um tentáculo nesse polvo: a pecuária. A Fazenda 3JR não é uma empresa qualquer no setor: em julho de 2020, por exemplo, comprou por R$ 26 milhões uma fazenda que pertencia ao ex-deputado federal Camilo Cola (MDB-ES), quase centenário. E que tinha sido avaliada pela família, há dez anos, por R$ 105 mil.
A Fazenda 3JR especializou-se no gado caribenho senepol, cujo touro é caracterizado por uma forte libido. Os Thomazini rodam o país em eventos do setor, promovendo as crias. É um mercado onde uma vaca chega a valer R$ 313 mil. A empresa possui o maior rebanho da raça no Espírito Santo é comandada por Jhonatan Thomazini, o mesmo empresário por trás da concessionária de veículos. Jhonatan é irmão de John, o membro da família que aparece em foto com Jair Renan Bolsonaro e o ministro da Integração Nacional, Rogério Marinho, em Brasília.
Criada em novembro no Distrito Federal, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia — ou RB Eventos e Mídia Eireli — tem Jair Renan, o filho Zero Quatro, como sócio único. Ela tem como atividade principal “serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas”. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAES) prevê, nesse escopo, itens como “serviços de remates rurais”, “gestão de parque para feiras agropecuárias”, “exposição de animais em feiras” e “organização de parque de leilão de gado”.
Segundo O Globo, Jair Renan atua para que empresas do grupo Thomazini tenham acesso ao governo. De Olho nos Ruralistas mostra, aqui, que essas empresas não são apenas de mineração e construção — e que, portanto, existem outros interesses empresariais nessa aproximação com a família Bolsonaro. Pelo menos outros dois setores estão presentes no conglomerado: a energia e a agropecuária. Sem falar na concessionária de carros.
A Fazenda Água Preta, que pertencia a Camilo Cola, possui 281 alqueires, ou seja, 680 hectares. A compra da propriedade em Presidente Kennedy (ES) foi anunciada pelo Instagram por João Antonio Thomazini, o patriarca da família, 55 anos, ao lado de um de seus filhos, Jonathan. A empresa Fazenda 3JR possui um capital social de R$ 16,5 milhões — menos que os R$ 26 milhões pagos na Água Preta. “É uma satisfação seguir o trabalho de uma pessoa que foi tão importante para o Brasil”, postou Jonathan Debona Thomazini em seu Instagram, no dia 19 de julho. “Fazenda Água Preta agora é 3JR”, comemorou o jovem de 27 anos.
Essa fazenda era subavaliada nas declarações de bens de Camilo Cola, conforme contou sua filha Ana Maria Cola à Justiça, em 2011. Segundo ela, seu pai — dono das Viações Itapemirim — a avaliação de bens no inventário de Ignez Massad Cola, em 2008, tinha sido “dolosa. A Água Preta valeria R$ 105 mil. Na declaração entregue em 2006 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maioria dos imóveis rurais de Cola aparecia com valores entre R$ 4 mil e R$ 20 mil, embora a fortuna do deputado fosse de R$ 260 milhões.
O grupo de Cola também atua na área de mármores e granitos em Cachoeiro de Itapemirim, assim como os Thomazini. Algumas empresas dos Thomazini são comandadas pelos filhos. John Lucas Thomazini, de 29 anos, comanda a Gramazini Granitos e Mármores, exportadora de rochas ornamentais, e é sócio, com a mãe Maria Rita Debona, da MRD Armazém e Logística; com o pai Tonho, da Gramazini Export. A Gramazini Participações e Investimentos, holding do grupo, está nome de João Antonio e dos dois filhos.
Irmão mais velho de Jonathan, John Lucas foi quem esteve em Brasília com Jair Renan e com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, em reunião articulada pelo quarto filho de Bolsonaro. John Lucas contou à Veja como Jair Renan articulou o encontro, duas semanas após se encontrar com os Thomazini em Vitória: “O Renan começou tudo, levou para Brasília. O projeto foi enviado para o pai dele, que o encaminhou para o Ministério do Desenvolvimento Regional”.
Um representante da Neon E. Motors informou a O Globo que o carro entregue a Jair Renan foi um “presente”. Segundo o jornal, ainda não houve a transferência formal de titularidade, Com sede em Vila Velha (ES), a empresa Neon Electric Motors — que substituiu a Neon Motors Comércio de Veículos — tem como sócios, no momento, João Vitor Guimarães Pirrone Vaz, o administrador, e Jorge Luis Guimarães Martinho. Em novembro de 2019, porém, Jhonathan Thomazini ainda falava ao jornal capixaba A Tribuna como sócio de Vaz na empresa.
A Neon E. Motors está enumerada no perfil de Jonathan no Instagram, como se vê abaixo:
A letra J da Fazenda 3JR, da 3JMineração e da 3JEnergy refere-se ao trio João, John e Jhonatan. A Fazenda 3JR já foi ré por crime ambiental no Espírito Santo, mas a acusação foi prescrita. A 3jEnergy é uma empresa de energia solar, que em sua propaganda diz promover a mobilidade sustentável em Vitória.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas |
Imagem principal (Reprodução/De Olho nos Ruralistas): Jhonatan e João Thomazini na Fazenda Água Preta; ao lado, em montagem, Jair Renan