De Olho nos Ruralistas inicia cobertura especial das eleições de 2022, com foco na Frente Parlamentar da Agropecuária e seus financiadores; live nesta terça terá MST, Greenpeace, MPA e pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Por Alceu Luís Castilho
Quem está por trás da bancada do agronegócio? De Olho nos Ruralistas inicia nesta semana uma série de trinta vídeos sobre o poder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e de seus principais expoentes. E sobre cada projeto de lei no Congresso que ataca o ambiente, os povos do campo e a perspectiva de uma alimentação saudável. Esse programa inédito — a maior série audiovisual já realizada sobre o tema — esmiuçará as leis que ameaçam os territórios de indígenas, camponeses e quilombolas, implodem o licenciamento ambiental e regularizam o roubo de terras no Brasil.
Confira aqui o primeiro vídeo:
O observatório promove nesta terça-feira (10) uma live de lançamento do projeto, com Mariana Mota (Greenpeace), Alexandre Conceição (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, MST), Saiane Santos (Movimento dos Pequenos Agricultores, MPA) e Regina Bruno, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A mediação será deste editor, autor de livro sobre políticos ruralistas (“Partido da Terra”, Contexto, 2012). Alguns deputados foram convidados e ainda não confirmaram a presença.
O primeiro vídeo da série traz informações gerais sobre a bancada ruralista: quais as principais frentes, quem as financiam, qual o poder que elas têm no Congresso. A começar da quantidade: metade do Congresso. “Eles representam os donos do boi, da soja, da cana, do arroz, da madeira”, diz o início do vídeo. “E da indústria e dos bancos. Eles são a bancada do agronegócio”. Essa quantidade de parlamentares foi decisiva para se derrubar Dilma Rousseff e manter Michel Temer no poder: “Frente Parlamentar da Agropecuária compôs 50% dos votos do impeachment e 51% dos votos para manter Temer“.
Outra frente desse projeto audiovisual consiste em divulgar mais informações sobre os principais protagonistas da bancada ruralista: aqueles deputados e senadores encarregados de articular os projetos de lei, dialogar com os lobistas nas reuniões das frentes, brigar com o governo — o Centrão é ruralista — por cargos no governo e liberação de verbas para suas bases. A ideia de um “tratoraço” chega a ser literal, já que eles também reivindicam maquinário para interesses públicos e privados. Spoiler: o primeiro personagem será o presidente da Câmara, Arthur Lira.
Um dos cards iniciais de divulgação, por exemplo, apresenta a Bancada Sudestina. Ao contrário do que muita gente pensa, a maioria da bancada não vem dos estados do Norte ou do Centro-Oeste. O Nordeste também tem muita importância nessa configuração, já que tem nove estados, alguns muito populosos; mas metade da Frente Parlamentar da Agropecuária na Câmara é composta por deputados do Sul e do Sudeste — em diálogo direto com a piada do Porta dos Fundos sobre “sudestinos”, vídeo que já tem quase 1,5 milhão de visualizações.
Na semana que vem será lançado o segundo vídeo da série, sobre o rolo compressor no Congresso. A partir daí, a periodicidade será quinzenal. Estão previstos outros debates até outubro de 2022, sobre a necessidade de se multiplicar uma bancada socioambiental (com camponeses, com indígenas, com defensores de uma alimentação saudável) e, na reta final das eleições, sobre os candidatos inscritos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e qual Câmara e Senado deveremos ter nos anos seguintes.
Em novembro de 2016, a equipe do De Olho foi expulsa da sede da Frente Parlamentar da Agropecuária, em Brasília, apenas porque seu diretor-executivo decidiu que as reuniões abertas à imprensa estavam interditadas ao observatório. A perseguição à imprensa, uma característica do governo Bolsonaro, tem crescido no Brasil. Por isso a importância de se ajudar a manter este e outros projetos da imprensa independente, que não têm rabo preso com banqueiros.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
Imagem principal (De Olho nos Ruralistas/Reprodução): bancada do agronegócio foi decisiva para derrubar Dilma Rousseff e manter Michel Temer no poder