Integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária promovem uma ofensiva inédita contra os povos do campo, o ambiente e a alimentação saudável, atendendo a interesses do mercado; confira, em dez minutos, uma síntese dessa implosão de direitos
Por Alceu Luís Castilho
De um lado, a destruição. Uma ofensiva política inédita contra o ambiente e os povos do campo está em curso no Congresso, com a aprovação a toque de caixa de leis que implodem direitos adquiridos ao longo de décadas. Quem aprova os PLs da Grilagem e do Licenciamento Ambiental, quem se move para liberar agrotóxicos e restringir a demarcação de territórios indígenas?
Do outro lado, o mercado. Os deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária, fiadora dessa destruição, estão a serviço de quem? Apenas deles mesmos ou de uma rede internacional de corporações? A segunda resposta está correta. O segundo vídeo da série De Olho no Congresso, “Passando a Boiada“, mostra como os projetos aprovados têm assinatura não apenas do governo Bolsonaro, mas do mercado.
A eternização de frase sobre “passar a boiada” ocorreu no início da pandemia, durante uma reunião do governo, pela voz de Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente. Ele se referia a medidas que poderiam ser tomadas em sua pasta ou em outros pontos da Esplanada dos Ministérios. Mas se encaixa bem para descrever o que acontece no Congresso:
De Olho nos Ruralistas lançou no dia 10 o projeto De Olho no Congresso, a maior série audiovisual já realizada sobre o tema. Cada pauta destruidora será detalhada de forma a mostrar tanto os impactos sociais e ambientais como também quem ganha com isso. Quem é cada relator e quem o financia, o que pensam os líderes da FPA, o papel de determinadas bancadas estaduais (a gaúcha, a paranaense, a paulista), a quem interessa suas ações — inclusive empresas transnacionais que fazem de conta que são sustentáveis.
O projeto será realizado pelo menos até as eleições de 2022: “Observatório lança série de 30 vídeos sobre bancada ruralista“.
O terceiro vídeo da série será sobre o presidente da Câmara, Arthur Lira, o chefe da boiada, o homem que dá ritmo ao desmonte em curso. O deputado alagoano é um dos que têm recebido verbas extras de emendas do governo Bolsonaro, por meio de um esquema que ficou conhecido como “tratoraço”. Spoiler: esta é uma história de coronelismo.
O debate de lançamento da série de vídeos, no dia 10, apresentou a visão de movimentos sociais sobre a atuação da bancada. Participaram Mariana Mota (Greenpeace), Alexandre Conceição (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, MST), Saiane Santos (Movimento dos Pequenos Agricultores, MPA) e Regina Bruno, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com a mediação deste editor.
Em novembro de 2016, a equipe do De Olho foi expulsa da sede da Frente Parlamentar da Agropecuária, em Brasília, apenas porque seu diretor-executivo decidiu que as reuniões abertas à imprensa estavam interditadas ao observatório. A perseguição à imprensa, uma característica do governo Bolsonaro, tem crescido no Brasil. Por isso a importância de se ajudar a manter este e outros projetos da imprensa independente, que não têm rabo preso com banqueiros.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
Imagem principal (De Olho nos Ruralistas/Reprodução): bancada ruralista está “passando a boiada”
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Um Raio X da bancada ruralista
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