Mobilização dos povos do campo e da cidade acontece no mesmo dia em que bolsonaristas vão às ruas pelo golpe, incitados pelo presidente; impactada pela pandemia, 27ª edição reivindica saúde, comida e participação popular, em defesa da democracia
Por Luís Indriunas
Os organizadores do 27º Grito dos Excluídos e Excluídas têm expectativa de que a mobilização deste ano possa ser uma das maiores dos últimos tempos. O desmonte das áreas sociais e ambientais do governo genocida, os reflexos da pandemia na fome e as ameaças à democracia são algumas das razões para a relevância da mobilização deste ano, segundo organizadores.
A mobilização acontece ao mesmo tempo em que grupos ligados a Jair Bolsonaro mobilizam-se para ameaçar a democracia, pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). “Dois polos estarão na rua dia sede, o polo da soberania da vida e o polo da negação, da corrupção”, completa Conceição.
Os organizadores sabem que bolsonaristas podem partir para agressões ao longo do dia. Além de cuidados para o momento de pandemia, como o uso correto de máscaras, as orientações são para não responder a provocações. “Esperamos dar nosso recado de forma pacífica”, declarou Jozelita Tavares da Silva, da Secretaria Operativa da Via Campesina.
As organizações voltadas aos povos do campo têm a responsabilidade de levar o grito para além das capitais e grandes cidades. Na quinta-feira (09), segundo o MST, manifestantes de mais de 120 municípios já tinham confirmado a presença nas ruas, entre eles Alto Paraíso de Goiás (GO), Tianguá (CE), Açailândia (MA), Três Pontas (MG) e São Carlos (SP).
Diante do quadro que atravessa o Brasil —mais de 580 mil mortes por Covid, 27 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, 22 mil famílias despejadas —, o Grito dos Excluídos tem como lema : “Vida em primeiro lugar – na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”
Durante a coletiva de lançamento do Grito, Dom José Valdeci Santos Mendes, que é bispo em Brejo (MA), lembrou que as pessoas que vivem no campo sofrem constantes agressões do agronegócio. E que elas não foram interrompidas durante a pandemia.
“Grito dos Excluídos se torna uma voz neste tempo em que as vozes de tantos homens e mulheres são abafadas”, afirma Dom José, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Nas últimas semanas, os povos indígenas têm protagonizado a resistência, com a reunião de mais de 6 mil manifestantes em Brasília, durante a votação no STF sobre o Marco Temporal. A questão está na carta de orientação geral do Grito dos Excluídos, que inclui diversos outros grupos sociais, dos quilombolas à comunidade LGBTQIA+, dos camponeses aos moradores em situação de rua.
A deputada Joenia Wapichana (Rede) considera que a luta dos indígenas se une à de todos os outros excluídos. Ela lembra que a tese defendida por ruralistas na Justiça “ameaça diversos direitos constitucionais como direito à terra, saúde e educação”. “Os indígenas clamam por serem ouvidos e incluídos”, afirma a líder indígena.
| Luís Indriunas é editor do De Olho nos Ruralistas. |
Foto principal (Diogo Miotto/Cimi): manifestação contra Bolsonaro em Brasília, no dia 19 de junho
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