Preso por terrorismo em Brasília informou à Justiça morar em Marituba (PA), na região de Belém, em terreno milionário de Sebastião José de Souza, dono da Transpal e de rede de postos na Amazônia; filho de Tião foi preso por morte de policial e desvio de carregadeira do Ibama
Por Alceu Luís Castilho
O cearense George Washington de Oliveira Sousa informou à Justiça, em 2016, que morava na Rua da Uriboca Velha, 770, em Marituba (PA), na região metropolitana de Belém. Esse é o mesmo endereço de Sebastião José de Souza, dono da Transportadora Patriarca e, junto com as filhas, de uma vasta rede de postos de gasolina em cinco estados da Amazônia Legal. Um dos postos em nome das filhas de Tião fica em Xinguara, com o mesmo nome — Cavalo de Aço — da churrascaria ao lado, em nome de George Washington de Oliveira Sousa Filho.
George Washington, o pai bolsonarista, está preso por terrorismo em Brasília. Ele confessou ter armado a bomba que explodiria um caminhão no aeroporto. E falou sobre a procura dos acampados por snipers, atiradores de elite, às vésperas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. Em depoimento à polícia ele se declarou “gerente de postos”. Quatro. Sem dizer o nome dos donos. Mas a teia empresarial em torno dele e de sua família, como revelamos, vai muito além disso.
A propriedade ao lado da casa em Marituba, em área similar, está à venda por R$ 2.250.000. A 500 metros, no Km 11 da Rodovia BR-316, ficam outras empresas de Tião e das filhas: o Super Posto 2000, em nome das irmãs Francisca Alice de Sousa Reis, e Michelle Tatianne Ribeiro de Sousa; e a loja de conveniências BR Point 2000, em nome do pai delas, Sebastião. Tião já teve outra empresa ao lado, uma metalúrgica, junto com o criador do Sindicato da Habitação do Pará.
O próprio anúncio de venda da casa ao lado, no bairro do Uriboca, informa que Tião é o dono do endereço informado por George Washington, na primeira casa acima. Várias imobiliárias colocaram o imóvel à venda.
Marituba é uma cidade-dormitório da região de Belém. Vejam na foto principal da reportagem como a casa declarada pelo terrorista fica exatamente ao lado desse imóvel à venda. Mais acima, a fachada da propriedade de Sebastião Souza, com o muro.
De Olho nos Ruralistas constatou que a Transportadora Patriarca, a Transpal, fica exatamente no mesmo endereço que o posto e a loja de conveniência, no Km 11 da BR-316. A 500 metros da propriedade de Tião, que costuma se apresentar como o dono da Transpal, empresa com sede em Marituba e filiais em Açailândia (MA), Belém, Marabá (PA) e Santana (AP). Ele aparece em processo do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em 2019, falando como proprietário.
A empresa está em nome da filha Alice e de Paulo Sergio da Silva Lopes. Este, por sua vez, tem junto com Tião um posto em Belém que levava o nome de George Washington. A G W de O Sousa & Cia Ltda passou para o nome dos dois com outra marca, mas o mesmo CNPJ. George Washington tem um histórico de dívidas com bancos e com a União.
A Transpal está autorizada a transportar materiais perigosos, como combustíveis, e já transportou madeira ilegalmente, conforme reportagem do Diário do Centro do Mundo (DCM). A carga foi carregada em Rurópolis (PA) e tinha como destino Ribeirão Preto (SP): “Empresa ligada a terrorista do DF é investigada por transporte ilegal de madeira“.
Algumas informações desta reportagem foram divulgadas no domingo de Natal no Facebook deste jornalista. E viralizaram nos últimos dias. Outras informações — como o endereço do terrorista — estão sendo divulgadas somente agora. Alguns veículos produziram reportagens a partir dos dados iniciais, como o DCM, o Diário do Pará e o Come Ananás, que mostrou como o restaurante em Xinguara está inserido em um contexto de expansão agronegócio. (Outros veículos não deram crédito.)
Um dos dezessete postos em nome de Alice,, o Auto Posto Pará Sul, fica na vizinha São Félix do Xingu (PA), capital da pecuária no Brasil e território de grilagem. Francisca Alice também é ou foi sócia dos postos de combustível Goiabeira, em Aurora do Pará, Super Posto Pioneiro e Auto Posto Tourão, em Tucumã, Posto Vitória, na vizinha Ananindeua, Auto Posto Goianésia, em Goianésia do Pará, Posto São Miguel, em São Miguel do Guamá, Posto Gol, em Marabá e Ourilândia do Norte, Auto Posto Parasão, em Redenção, Posto Santa Clara do Rio Araguaia, em Palestina do Pará. Tudo isso no Pará.
A rede em nome da filha de Tião se estende ainda pelo Maranhão, com o Auto Posto Vila Nova e o Posto Bernardo Sayão, em Imperatriz; por Roraima, com o Super Posto Dimalice, em Alto Alegre; e no Tocantins, com o Auto Posto Serra do Norte, em Axixá do Tocantins. Outros integrantes dessa rede, por sua vez, possuem outros tantos postos nesses estados. Entre outras empresas. Tião possui ainda, em seu nome, posto em Belém. E teve outro em Alto Alegre (RR). Paulo Sergio, em Cametá (PA), Barcarena (PA), Muaná (PA) e Baião (PA).
Em 2012, o Tribunal do Júri Federal em Belém deixou de se me manifestar sobre o réu Sebastião José Sousa Junior, o Tiãozinho, em uma acusação de peculato e furto. O caso estava relacionado à morte do inspetor Manoel Otávio Amaral da Rocha, da Polícia Rodoviária Federal, assassinado em 2004. O corpo foi encontrado em um carro na frente da prefeitura de Belém. Motivo: Tiãozinho, filho de Sebastião Souza, já tinha falecido.
A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) se referia à liberação irregular de uma pá carregadeira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ela estava no posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal de Benevides (PA) e foi retirada, segundo o MPF, por meio de um ofício falso, atribuído à autarquia.
“Após liberada com autorização do inspetor, a pá carregadeira, que se encontrava em avançado estado de deterioração, foi rebocada por Davi e Ismael até o depósito de um posto de gasolina, onde ficou guardada sob os cuidados de Sebastião Jr., que estava encarregado, juntamente com Fábio, de providenciar a venda do veículo”, informava a Seção Judiciária do Pará em 2012.
Tiãozinho e outro réu teriam vendido a carregadeira com a participação do inspetor assassinado. Mas o policial passou a cobrar sua parte no esquema, R$ 60 mil. Sem sucesso. “Sem obter êxito na cobrança do dinheiro, teria passado a ameaçá-los”, prossegue o texto reproduzido pelo Conselho da Justiça Federal”. Foi a partir daí, segundo o MPF, que Davi e Tiãozinho teriam contratado executores, entre eles Darci Barichello, para matar o inspetor”.
O posto era o Brasil 2000, hoje em nome das filhas de Sebastião, o pai. Funciona 24 horas por dia.
O Metrópoles informou — sem citar este conjunto de apurações — que o antigo posto de combustíveis em nome de George Washington em Belém, hoje em nome de Tião e Paulo Sergio, recebeu uma multa do Ibama. Mas não há mais detalhes sobre esse caso, sem nenhuma conexão com a acusação contra Tiãozinho.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |