Pará triplica consumo de agrotóxicos; na Amazônia, soja avança para Roraima

Casos de intoxicação dobram na região Norte; Tocantins é o campeão, segundo Ministério da Saúde; tendência é de aumento do veneno por área plantada

 Por Inês Castilho

O volume de agrotóxicos comercializados legalmente na região Norte quase dobrou em 7 anos, saltando de 16,6 mil toneladas em 2007 para 30,6 mil toneladas em 2013. A área plantada teve aumento de pouco mais de 10%, passando de 2,8 mil toneladas no início para 3,1 mil toneladas ao final do período. O número de intoxicações parece acompanhar o aumento do consumo, indo de 1,99 a 4,61 casos por 100 mil habitantes, na média. É a região com menor produção agrícola e consumo de agrotóxicos do país.

Os dados são do relatório nacional 2016 do programa de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, do Ministério da Saúde, que traz a incidência de intoxicações por agrotóxicos e dados da comercialização de veneno por área plantada no Brasil entre 2007 e 2013.

De Olho nos Ruralistas publica desde segunda-feira (31/10) uma série com dados por região sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil. A primeira notícia traz dados gerais sobre o Brasil e sobre o Sudeste: “Intoxicações por agrotóxico quadruplicam no Sudeste; donas de casa estão entre principais vítimas“. A região Sul também tem alto consumo de veneno: “Região Sul consome 23% dos agrotóxicos do país; Paraná só perde para SP e MT“. No Nordeste, um único estado concentra quase metade dos pesticidas: “Bahia aplica 46% dos agrotóxicos do Nordeste“.

TOCANTINS: SALTO NO CONSUMO

No Tocantins, estado com maior incidência de intoxicações e maior consumidor de agrotóxicos da região, os casos mais que dobraram: de 7,16 em 2007 passaram a 17,59 em 2013. Houve aumento exponencial do consumo entre 2009 e 2010, com um salto que foi de 3,3 mil a 15 mil toneladas. Em 2013 foram aplicadas 100 mil toneladas de agrotóxicos em suas lavouras.

O Pará, maior produtor da região (soja, arroz, milho, feijão, cana-de-açúcar, sorgo e mandioca), triplicou a comercialização de agrotóxicos por área plantada (kg/ha) entre 2007 e 2013, com 9,5 mil toneladas no último ano – para uma média de 0,7 casos de intoxicação por 100 mil habitantes/ano. A incidência sugere subnotificação e baixa vigilância. O estado possuiu oito fábricas de agrotóxicos.

Em Rondônia, o mesmo indício de subnotificação: o consumo de agrotóxicos por área plantada quase dobrou em dois anos, passando de 7,56 kg/ha em 2011 a 12,73 kg/ha em 2013, enquanto o número de casos notificados de intoxicação diminuiu, de 7,80 em 2011 para 5,67 em 2013. O volume de agrotóxicos comercializados quase triplicou no período, de 2,9 mil toneladas para 8,7 mil toneladas. O estado produz principalmente milho, soja, café, arroz e feijão.

Soja em Roraima (Reprodução/YouTube)

RORAIMA PREOCUPA

A expansão da soja em direção ao território de Roraima, que passou a ocupar de 12 mil ha a 18 mil ha, nos últimos anos, é motivo de preocupação. Entre 2012 a 2013 praticamente dobrou a comercialização de veneno no estado, de 442 toneladas para 873 toneladas. A relação entre consumo de veneno e área plantada foi de 13,98 kg/ha em 2013 – mais alta que em estados com grande produção agrícola e uso de agrotóxicos, como Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Mas a incidência de intoxicações, de 3 a 4 casos por 100 mil habitantes/ano, não segue a tendência e sugere subnotificação.

Também no Acre a incidência de intoxicações por agrotóxicos não acompanhou a tendência de aumento no consumo de veneno entre 2009 e 2011, permanecendo praticamente nula. Em toda série a histórica analisada, houve apenas um caso registrado, em 2011.

No Amazonas, essa incidência de intoxicações também não acompanhou o crescimento da comercialização, mas houve aumento no número de casos desde 2007. O volume de veneno comercializado cresceu muito entre 2012 e 2013, de 180 toneladas para 314 toneladas – enquanto a área plantada oscilou de 181 mil hectares para 178 mil toneladas.

No Amapá, a produção de soja ainda era pequena em 2013, mas preocupa pelo crescimento. Apenas a partir de 2012 foram registrados casos de intoxicações por agrotóxicos, sugerindo baixa vigilância.

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