Fiscais liberavam até carne podre; entre os 38 presos estão executivos da BRF e da Seara; JBS também é um dos alvos da Polícia Federal
A Operação Carne Fraca é a maior da história da Polícia Federal, informou a instituição na manhã desta sexta-feira (17/03). Após dois anos de investigação, a PF constatou que fiscais do Ministério da Agricultura atuam para “facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva”. Tudo, claro, movido a propina.
Empresários do agronegócio estão entre os alvos dos 309 mandados judiciais. Os números são superlativos: 27 prisões preventivas, 11 prisões temporárias, 77 conduções coercitivas. Os 194 mandados de busca e apreensão, segundo a PF, foram feitos em residências e em empresas “supostamente ligadas ao grupo criminoso”.
Segundo o G1, a BRF – a união entre Sadia e Perdigão – e a JBS estão entre as empresas envolvidas. O Estadão informa que executivos da JBS (a maior financiadora de campanhas eleitorais em 2014) foram presos. A Folha menciona também a marca Seara. “A investigação revelou até mesmo o uso de carnes podres, maquiadas com ácido ascórbico, e a re-embalagem de produtos vencidos por alguns frigoríficos”, relata o jornal.
A Folha informa ainda que entre os presos estão executivos da BRF como Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste. A lista inclui funcionários da Seara e do frigorífico Peccin, “um dos que tinha irregularidades gravíssimas, como uso de carnes podres”.
Segundo a Folha, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, ligou para aquele que a Polícia Federal considera o líder da organização criminosa, Daniel Gonçalves Filho, para obter informações sobre a fiscalização de um frigorífico. Serraglio era deputado federal (PMDB-PR); Gonçalves foi superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016. O atual ministro se referia a ele como “grande chefe”.
DE GOIÁS AO RIO GRANDE DO SUL
Os crimes foram investigados pelas superintendências do Paraná, Minas Gerais e Goiás. A operação que mobilizou 1.100 policiais foi deflagrada em sete Unidades da Federação (SP, DF, SC e RS, além dos três mencionados) pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba – desta vez não foi a 13ª Vara, conhecida pela atuação do juiz Sérgio Moro.
A Polícia Federal informa que, entre as ilegalidades, estava a remoção de agentes públicos, com desvio de finalidade “para atender interesses dos grupos empresariais”. “Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente”.
Segundo a PF, o nome Carne Fraca – motivado pela expressão popular – está em sintonia com a “qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício” e com a “fragilidade moral de agentes públicos federais”.
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