Membro ativo da Frente Parlamentar da Agropecuária, Valdir Colatto (PMDB-SC) defendeu essa tese após repressão de etnias em Brasília
Em meio a um dos maiores encontros indígenas dos últimos anos, o Acampamento Terra Livre, que se encerra nesta sexta-feira em Brasília com mais de 3 mil indígenas, o deputado federal Valdir Colatto (PDMB-SC) sinalizou na plenária do Congresso os próximos alvos da bancada ruralista:
– A próxima questão que nos vamos fazer é a reforma dos indígenas. Não vamos mais tolerar que os indígenas venham aqui manipulados por ONGs para invadir a Câmara dos Deputados.
A declaração foi feita após os indígenas serem recebidos com bombas de gás lacrimogêneo pelas forças policiais, quando se dirigiam rumo ao Congresso portanto caixões que simbolizavam o genocídio indígena.
Collato aproveitou para elogiar o “excelente trabalho” do ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-RS). Serraglio tem evitado aparições públicas para evitar desgaste após ter aparecido em interceptação telefônica da Polícia Federal (PF) durante a Operação Carne Fraca. No grampo, ele chamava Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, líder da organização criminosa, segundo a PF, de “grande chefe”.
Na semana passada, a situação de Serraglio piorou. A Procuradoria Geral da República (PGR) intimou o ministro a dar explicações sobre a conversa no grampo e a blindagem política aos frigoríficos “aliados”. Dependendo da resposta, a PGR pode pedir ao STF a abertura de inquérito contra Serraglio. Na terça-feira, a Justiça acolheu as denuncias da PF e transformou 59 investigados em réus.
Quando assumiu a pasta, Serraglio disse em entrevista à Folha que “terra não enche barriga”. A declaração gerou revolta entre ambientalistas e comunidades indígenas.
“VAMOS TRANSFORMÁ-LOS EM CIDADÃOS”
Membro ativo da bancada ruralista, o deputado Valdir Colatto considera que os indígenas ainda não são cidadãos:
– Nós vamos transformar nossos indígenas em cidadãos. Vamos fazer com que os indígenas tenham renda, possam arrendar suas terras, ter royalties do petróleo, nos minerais, na floresta.
Dono de terras em Rondônia, o deputado ignorou a condenação pela Justiça Federal, ocorrida na mesma semana, do ex-cacique Gentil Belino e dos consultores ambientais Ubiratan de Souza Maia e Júlio Cesar Inácio por arrendarem terras indígenas nos municípios de Ipuaçu e Entre Rios.
A condenação é resultado de ação do MPF, que investigou irregularidades envolvendo um pretenso “Plano de Gestão Territorial” da TI Xapecó. Os procuradores descobriram práticas ilegais de arrendamento e plantio de soja e milho por não-indígenas.
Apesar da condenação, Ubiratan de Souza Maia foi indicado por Colatto e Serraglio, segundo o MPF, e por outros membros da bancada ruralistas, para o cargo de coordenador-geral de licenciamento da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Em nota, o MPF informou que se preocupa não apenas pela condenação sofrida por Ubiratan, “mas também por sua atuação em questões relativas aos direitos dos povos indígenas do Oeste do estado, muitas vezes questionada pelos próprios caciques das comunidades indígenas da região”.