FHC, o Fazendeiro – Emílio Odebrecht, Jovelino Mineiro e advogado de FHC compõem a direção do Masp

Esses e outros personagens da série sobre Fernando Henrique Cardoso circulam pelos conselhos e presidências de entidades importantes da cultura e da filantropia paulistana

Por Alceu Luís Castilho

O empreiteiro Emílio Odebrecht e o pecuarista Jovelino Mineiro, chamado carinhosamente pelo ex-presidente de Nê, estão entre os 42 associados do Museu de Arte de São Paulo (Masp). O próprio Fernando Henrique Cardoso, não. Mas seu advogado José de Oliveira Costa, sim. Fundador, sócio e diretor da Fundação FHC, ele é patrono e membro do Conselho Deliberativo.

Vários dos personagens desta série de reportagens estão à frente de decisões importantes sobre o mundo da cultura e da filantropia em São Paulo. FHC, por exemplo, é o presidente de honra da Fundação Osesp, da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Ele também faz parte do Conselho de Orientação, ao lado de Pedro Moreira Salles (Itaú/Unibanco), Celso Lafer, Horacio Lafer Piva (Klabin) e José Ermirio de Moraes Neto (Votorantim).

Personagens da política e economia migram para a área cultural. (Imagem: Reprodução)

 

Foi na Sala São Paulo que FHC comemorou seus 80 anos, em 2011. A festa foi organizada por Clóvis Carvalho. Lá estavam os filhos Paulo Henrique, Beatriz e Luciana Cardoso, Jovelino Mineiro e família, Lafer, Piva e, entre outros, Marcelo Odebrecht – hoje em prisão domiciliar, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. “Essa é uma noite para os meus amigos”, discursou Fernando Henrique, antes de cumprimentar cada um deles. “E, na minha idade, a gente dá muito valor às amizades”.

MEMBROS DA FUNDAÇÃO CIRCULAM PELOS CONSELHOS

Dono da cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras, Celso Lafer também estava no aniversário do amigo, proprietário desde 2013 da cadeira 36 – FHC ocupa uma vaga que já foi do liberal José Guilherme Melquior. Assim como Horácio Lafer Piva, Lafer é um dos sócios da gigante de celulose Klabin. Ele, Piva, Lafer, Jovelino Mineiro e José de Oliveira Costa estão entre os 12 conselheiros não-vitalícios da Fundação FHC.

O pai de Horácio Lafer Piva, ex-senador Pedro Piva (PSDB-SP), foi um dos que prestigiaram, em novembro de 2002, um jantar no Palácio do Alvorada, com 12 grandes empresários do país, que angariou recursos para o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) – hoje fundação. Quem organizou foi Jovelino Mineiro: “FHC, o Fazendeiro – Saiba onde estão os empresários que bancaram a criação da Fundação FHC, em jantar no Palácio da Alvorada”.

Um dos membros do Conselho da Fundação Osesp é Eduardo Graeff, ex-assessor especial de Fernando Henrique Cardoso e ex-secretário-geral da Presidência. Ele já esteve na Fundação FHC – então iFHC – para falar de questão agrária. Outro integrante do conselho da Orquestra Sinfônica é Pérsio Arida, um dos idealizadores do Plano Real, que presidiu o Banco Central e o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 1993 e 1995.

CLÓVIS CARVALHO DIRIGE A CASA DAS ROSAS

Casa das Rosas, em São Paulo: polêmicas. (Foto: Poiesis)

Outro membro-chave do governo FHC, Clóvis de Barros Carvalho, é o diretor da Poiesis – Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura. A entidade criada em 1995 – quando ele era ministro-chefe da Casa Civil, antes de chefiar o Ministério do Desenvolvimento – é uma Organização Social (OS) que executa políticas públicas na área cultural para o governo paulista. Por exemplo, para a Casa das Rosas (Espaço Haroldo de Campos de Poesia) e Museu Casa Guilherme de Almeida.

O antecessor de Carvalho na pasta do Desenvolvimento foi Celso Lafer, que depois seria chanceler entre 2001 e 2003. O Conselho de Administração da Poiesis é presidido por Mary Macedo de Camargo Neves Lafer, professora universitária e mulher de Lafer. Este, por sua vez, preside ainda o Conselho Deliberativo do Museu Lagar Segall, um órgão federal ligado ao Ministério da Cultura.

A Poiesis recebeu R$ 66 milhões da Secretaria de Estado da Cultura, entre 2011 e 2016, durante o governo tucano de Geraldo Alckmin, conforme reportagem dos Jornalistas Livres, que se baseou em um processo no Tribunal de Contas do Estado. Em 2015, o TCE Considerou irregular a dispensa de licitação em contrato para as Fábricas de Cultura, na época em que a secretaria era comandada por outro tucano de bico longo, Andrea Matarazzo, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (1999-2001) no governo FHC.

ELES TAMBÉM ESTÃO NO CIRCUITO DA FILANTROPIA

A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) tem como um de seus vice-presidentes a conselheira Maria do Carmo Abreu Sodré Mineiro, casada com Jovelino Mineiro, frequentadora do Palácio da Alvorada durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e chamada pelo ex-presidente – como se pode ver em seus “Diários da Presidência” – de Carmo. Em 2014, seu primo Carlos Roberto de Abreu Sodré fazia parte do conselho. Antes, o próprio Jovelino.

Ainda em 2014, a instituição patrocinada pela Bradesco, Riachuelo e Votorantim, entre outras empresas, tinha também em seu conselho nomes como Beatriz Monteiro de Carvalho, da família acionista da Klabin, Horácio Lafer Piva, Luiz Fernando de Abreu Sodré Santoro (ex-senador), Gustavo Krause (ministro do Desenvolvimento Urbano no primeiro governo FHC), Olavo Egydio Setubal Jr e Pedro Moreira Salles, ambos do Itaú Unibanco.

Em junho de 2013, o shopping JK Iguatemi, em São Paulo, recebeu um jantar beneficente da Oscip Artesanato Solidário (Artesol), fundada por Ruth Cardoso como um projeto de combate à pobreza no Nordeste e que hoje forma artesãos para o empreendedorismo. Estavam presentes Fernando Henrique, Jovelino Minero e Johnny Saad, da Band, entre outros. Confira aqui as conexões de FHC e Jovelino com o mundo da imprensa: “FHC, o Fazendeiro – Imprensa: Jovelino Mineiro foi um dos fundadores do canal Terra Viva, da Band”.

Fazem parte do Conselho Fiscal da Artesol três Marias. Uma delas, a socióloga Malu Bresser Pereira. Outra, Maria Cecília Oliva Perez, casada com Luiz Fernando Perez, fundador da Recepta Biopharma, uma sociedade com Jovelino Mineiro e Emílio Odebrecht: “FHC, o Fazendeiro – Sócios em empresa, Emílio Odebrecht e Jovelino Mineiro já foram representados em assembleia pelo advogado de FHC”. A terceira, Maria do Carmo Abreu Sodré Mineiro, casada com Jovelino, chamada por Fernando Henrique apenas de Carmo.

NO CONSELHO DO MASP, ELITE ECONÔMICA E CULTURAL

A força da grana que participa dos Conselhos. (Foto: Reprodução)

Primo de Carmo, Carlos de Abreu Sodré faz parte uma família importante para entendermos a conexão de FHC – a partir de Jovelino Mineiro – com o universo agropecuário: “FHC, o Fazendeiro – No famoso apartamento de Paris, o DNA da família Abreu Sodré”. Ele também é um dos 42 associados do Masp, assim como Jovelino Mineiro e Emílio Odebrecht, Luiz Roberto Ortiz Nascimento (da Camargo Corrêa), Alfredo Egydio Setubal (mais um do Itaú) e o candidato tucano ao governo estadual, João Dória Jr.

O Conselho Deliberativo do Masp, presidido pelo patrono benemérito Alfredo Setubal, tem entre os 76 membros, além do advogado José de Oliveira Costa, os presidenciáveis Flávio Rocha (PRB), Luciano Huck e Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda. Entre outros nomes, como José Roberto Marinho, da Globo, Olavo Egydio Setubal Junior, do Itaú, e Ricardo Steinbruch, da CSN.

Luiz Nascimento, da Camargo Corrêa, e Benjamin Steinbruch, irmão de Ricardo, estão entre os empresários que, em 2002, participaram – assim como o falecido senador Pedro Piva – do jantar de arrecadação para o iFHC, no Palácio da Alvorada, Os dois representantes do Bradesco no jantar, o agora nonagenário Lázaro Brandão e Márcio Cypriano, também foram conselheiros do Masp.

O Conselho de Administração da Sociedade de Cultura Artística, por sua vez, conhecida pelo teatro na Rua Nestor Pestana, no centro de São Paulo, traz de novo o nome de Henrique Meirelles, além de outros personagens conhecidos da era FHC, como Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras entre 1999 e 2001, e Pedro Parente, atual presidente da Petrobras e ex-CEO da Bunge, ministro de várias pastas (Casa Civil, Planejamento e Minas Energia) dos governos Fernando Henrique Cardoso.

A lista de mecenas do Cultura Artística traz novamente Reichstul (mais um dos 12 membros não-vitalícios da Fundação FHC), Meirelles, José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, um dos envolvidos (assim como o irmão, Luiz Carlos) no episódio que ficou conhecido como “grampo do BNDES”. E, mais uma vez, Jovelino Mineiro, o Nê.

Mineiro também é um dos patronos da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, assim como a mulher Maria do Carmo e o filho Bento Mineiro.

DISPUTA POR PICASSO ENVOLVE UMA ABREU SODRÉ

“Le Mangeur de Pasteque”, de Pablo Picasso. (Imagem: Reprodução)

Uma disputa sobre um quadro de Pablo Picasso envolve uma cunhada de Jovelino Mineiro, Anna Maria Mellão de Abreu Sodré Civita. Vários processos relativos a ela são defendidos por um time de advogados comandado por José de Oliveira Costa, o advogado de Mineiro e FHC – às vezes, por sua sócia Andrea Ferraz do Amaral. Em um deles, uma disputa entre Anna Maria e o empresário e pecuarista Julio Rego Filho, quem aparece como interessado é o próprio Jovelino Mineiro.

Julio Rego comprou na Christie’s – uma das maiores empresas de arte do mundo – um quadro atribuído a Pablo Picasso, “Le Mangeur de Pasteque” (de uma sequência desenhada em 1967 pelo pintor espanhol, cada um avaliado, hoje, em US$ 250 mil), e contesta sua originalidade. Ele também alega na Justiça que queria outro quadro, “Homme à la Tranche de Pasteque”, com o mesmo tema: “pasteque”, melancia. O processo foi aberto no ano passado e ainda corre na justiça paulista.

O empresário que pleiteou o envio de ofícios ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e à Pinacoteca de São Paulo “a fim de que informem se existe no Brasil algum perito capacitado para atestar a autenticidade de uma obra de Pablo Picasso”.

Um dos associados do Masp, Jovelino Mineiro é também um colecionador de obras de arte. Um dos artistas plásticos que têm obras em seu acervo é José Roberto Aguilar, diretor da Casa das Rosas entre 1995 e 2003.

LA DOLCE VITA DE FHC

Boa parte dos personagens mencionados acima também estava na festa de 80 anos do maestro Fernando Henrique Cardoso, em 2011, na Sala São Paulo, além dos mencionados Marcelo Odebrecht, Clóvis Carvalho, famílias Mineiro e Lafer. A Camargo Corrêa foi representada por Luiz Roberto Ortiz Nascimento e sua mulher, Renata Camargo Nascimento, e por Rosana Camargo de Arruda Botelho.

Também estiveram na Sala São Paulo os amigos Andrea Matarazzo, Aécio Neves, José Serra, André Esteves, do BTG Pactual, e o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Outro presente tanto no jantar de arrecadação da Fundação FHC como no aniversário de Fernando Henrique Cardoso foi o empresário Jorge Gerdau.

LEIA A SÉRIE COMPLETA:
“FHC, o Fazendeiro – tudo sobre as terras da família, os amigos pecuaristas e a Odebrecht”.

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