Por Luís Indriunas
Atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), candidata à reeleição, tem se destacado por defender os mais diversos interesses dos grandes do agronegócio, como o PL do Veneno (que flexibiliza a compra e liberação de agrotóxicos), e atacar políticas em prol dos povos tradicionais e pequenos produtores. Ela vem se consolidando como líder ruralista de expressão nacional.
Uma de suas última cartadas, em agosto, foi pedir para o ministro da Justiça, Torquato Jardim, a suspensão da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, programa que tenta resolver as pendências sobre as demarcações de terras de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outras comunidades rurais, lançado em 2007.
A última cartada teve desfecho nesta terça-feira (02). A frente que ela preside anunciou o apoio à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República. O deputado adota um discurso violento contra ocupações e diz que não demarcará “nem mais um centímetro” de terras indígenas e quilombolas. Segundo o Estadão, Tereza ligou na semana passada para cada membro da bancada, para definir a adesão. Tereza Cristina entregou a Bolsonaro uma carta de compromissos.
A parlamentar trabalha em conjunto com outros políticos ligados ao agronegócio contra as populações indígenas, participando ativamente de eventos como o “leilão da resistência”, realizado em 2013, quando foram arrecadados fundos para financiar a resistência contra as demandas indígenas. O objetivo inicial era arrecadar dinheiro para a compra de armas, mas a Justiça vetou esse intento.
Os interesses pelo agronegócio têm duas razões bem claras. A primeira é pessoal. Ela é proprietária de 5.600 hectares de terras nos municípios de Terenos e Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Outra é eleitoral. Em 2014, entre grandes empresas e pessoas físicas ligadas ao agronegócio, a deputada recebeu R$ 2,9 milhões dos R$ 4,3 milhões que custearam sua campanha, a mais cara entre os deputados federais sul-mato-grossenses eleitos naquele ano.
Uma das doadoras foi a Coplana, empresa que comercializa agrotóxicos e, por isso, muito interessada na aprovação da PL do Veneno. Em 2014, ela doou R$ 35 mil. Em 2018, não são mais permitidas doações por empresas. Mas um membro do conselho consultivo da Coplana, Ismael Perina Júnior, já doou R$ 15 mil.
Em 2014, a grande doadora foi a Iaco Agrícola, com R$ 1 milhão. Uma gigante do setor que produz cana, tem gado e eucalipto. Suas atividades são em Chapadão do Sul, no norte do estado. Antes de ser deputada, Tereza Cristina foi secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo do Mato Grosso do Sul, entre 2007 e 2014, durante o governo Puccinelli. Em 2009, a empresa inaugurava sua primeira planta.
Outra grande doadora da Tereza Cristina em 2014 foi a Adecoagro, do megainvestidor George Soros, que investiu R$ 600 mil na campanha da deputada. A empresa tem um leque grande de atividades, principalmente cana, com usinas em Ivinhema e Angélica. A liberação da venda de terras para estrangeiros é um dos assuntos pendentes no Congresso. Como secretária de Estado do Desenvolvimento Agrário, ela incentivou a ida da empresa para o Mato Grosso do Sul.
Na mesma região, em Nova Alvorada do Sul, está a Agro Energia Santa Luzia, do grupo Odebrecht, que, há quatro anos, doou R$ 165 mil para a deputada. Empresa cara à secretária e ao seu governo, já que recebeu R$ 53 milhões no estado em incentivos no período em que o governo era comandado por André Puccinelli, hoje preso por comandar um esquema de propinas de R$ 230 milhões.
A Agropecuária Maragogipe doou R$ 15 mil naquela ocasião. Com sede no Rio Grande do Sul, a empresa tem braços em Itacaraí e Iguatemi. O dono da empresa, Wilson Brochman, foi investigado pela Polícia Federal na Operação Ouro Verde. Segundo a denúncia, seu irmão Nelson usava uma empresa de fachada para “evasão de divisas para inúmeros “clientes” por meio de transações denominadas “dólar-cabo”.
Entre os doadores individuais aparece Renato Eugenio Rezende Barbosa, proprietário da Cosan, que doou R$ 55 mil para a deputada. Não é à toa que Barbosa, proprietário de terras no Paraguai, apoia a deputada. Tereza sempre foi uma grande defensora das usinas de cana no estado, como deixou claro ema uma entrevista de 2010: “O Mato Grosso do Sul é o melhor lugar para produzir etanol. Temos terra com valor competitivo, solo apropriado e localização próxima aos centros consumidores”.
Entre os doadores indiretos está o grupo JBS, de quem ela recebeu R$ 133 mil, por meio do diretório estadual e da campanha do então candidato ao governo do estado, Nelson Trad (MDB), hoje candidato ao Senado. A ligação entre a JBS e Tereza, em meio às costuras políticas, tem uma face econômica, mas está abalada e provocando uma briga judicial.
Entre as propriedades da deputada está a Fazenda Santa Cristina, em Terenos. A propriedade foi hipotecada pela JBS em 2009, quando Tereza Cristina era secretária estadual e procuradora de sua mãe, Maria Manoelita Alves de Lima Corrêa, falecida em 2010.
O arrendamento foi feito em nome da mãe da deputada. Ele previa o confinamento e criação de bois para a JBS. Tal negócio renderia quase R$ 1 milhão de faturamento para a pecuarista. No entanto, conforme processo que corre na Justiça sul-mato-grossense, Tereza Cristina deixou de entregar 6.246 arrobas de boi gordo.
Dessa forma, os irmãos Wesley e Joesley Batista decidiram romper o contrato e reivindicar seus direitos. Por isso, a fazenda da família da deputada está ameaçada. A Justiça determinou o leilão extrajudicial do imóvel.
Nas próximas semanas, o De Olho nos Ruralistas iniciará uma série especial sobre o Mato Grosso do Sul. Serão detalhadas as relações de autoridades e empresários com os povos indígenas. Por meio de vídeos e reportagens, será relatado como vivem as populações originárias no estado, vítimas da violência e de pressão constante do agronegócio.