Apenas quatro dos treze lotes na zona sul de SP pertencem ao prefeito; entre os proprietários registrados no Cartório de Imóveis estão Benjamin Ribeiro da Silva, líder do ensino privado falecido em 2023, e Alfonso Boglio Serrano, ambos do grupo político de Nunes na zona sul
Por Alceu Luís Castilho, Tonsk Fialho e Bruno Stankevicius Bassi
O Sítio Vista Verde é tema do primeiro de doze episódios sobre poder político e território na capital paulista. Ao longo das próximas semanas, a série em vídeo mostrará como os amigos e aliados do prefeito se articulam espacialmente. Cada episódio é acompanhado de reportagens com mais detalhes em nosso site, como esta: “Sítio de Ricardo Nunes no extremo sul de SP fica em loteamento irregular“.
Um desses terrenos, o lote nº 6, aparece registrado no cartório em nome de Benjamim Ribeiro da Silva, falecido no ano passado, e Alfonso Boglio Serrano. Ambos muito próximos de Ricardo Nunes. Os dois fundaram juntos a Escolinha Pica-Pau Amarelo, que deu origem ao Colégio Albert Einstein. Os dois fizeram campanha para Nunes em 2016. Seus parentes acumulam cargos na Câmara, inclusive no gabinete de Nunes, e na prefeitura. Uma empresa de Benjamim aluga imóveis para creches conveniadas — que contratam os serviços de uma empresa do prefeito, a Nikkey Controle de Pragas.
A matrícula do lote 6 do Parque Internacional — um dos treze lotes que compõem o Sítio Vista Verde — mostra que o terreno foi compromissado a Benjamin Ribeiro e Alfonso Serrano entre os anos 70 e 80, tendo a venda oficializada em cartório em 1988. Durante a reportagem do De Olho nos Ruralistas em Marsilac, todos os vizinhos citaram o nome de Benjamin como uma das pessoas que ocupavam antes o imóvel. Ele foi subprefeito de Santo Amaro e era bastante conhecido na zona sul.
Foi em 1971 que Benjamin Ribeiro fundou o Colégio Albert Einstein, em Interlagos. A escola é hoje uma das principais instituições de ensino privado da zona sul, atendendo do berçário ao ensino médio com ensino bilíngue, em inglês. O Einstein integra a Rede Anglo de Ensino e possui parceria com o Google.
O papel à frente do colégio levou Benjamin a uma posição de destaque entre o empresariado da região: ele presidiu o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieesp) e se tornou membro da Associação Empresarial da Região Sul (Aesul), que já foi presidida por Ricardo Nunes.
Ele tentou se eleger vereador duas vezes, nos anos 2000, mas não conseguiu. Acabou sendo representado pelo amigo, eleito pela primeira vez em 2012 para mandato na Câmara Municipal. Os dois são irmãos de maçonaria. Até sua morte, em agosto de 2022, Benjamin foi membro da loja maçônica Fé, Equilíbrio e Luz.
Foram os maçons que fundaram a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), uma organização que tem inúmeros contratos com a Prefeitura de São Paulo, em esquema que ficou conhecido na imprensa como “máfia das creches”, e possui papel central no que chamaremos de República de Interlagos.
Uma das empresas de Benjamin, a construtora Femarjan, aluga imóveis na zona sul para creches conveniadas e escolas administradas pela Secretaria Municipal de Educação. Ele chegou a dizer, em entrevista à Folha, que seu negócio era esse: “Eu tenho vários imóveis, não só alugados para a Sobei, inclusive para escolas particulares. Meu negócio é fazer imóvel para alugar para escola”.
A relação entre Alfonso Boglio Serrano e Benjamin Ribeiro é antiga. Os dois fundaram juntos uma escola de bairro chamada Pica-Pau Amarelo, que deu origem ao Colégio Albert Einstein. Serrano é ligado ao ex-vereador e ex-deputado Antonio Goulart, pai do vereador Rodrigo Goulart, que diz nas redes sociais realizar “patrulhas” em bairros de São Paulo. Uma dessas incursões ocorreu justamente na Praça Alfonso Boglio Marti, que homenageia o pai do empresário.
A família Goulart também faz parte da República de Interlagos e será importante para entendermos como esse grupo político multiplica seu poder — e se territorializa em São Paulo. Alfonso Serrano doou R$ 9.500,00 para a campanha de Antonio Goulart em 2008. Ele era funcionário do gabinete do vereador, depois eleito deputado federal. (Benjamin Ribeiro e o próprio Nunes fizeram doações menores para Goulart nessa mesma campanha.)
Uma neta de Alfonso, Ana Paula Hessel, foi assessora de Ricardo Nunes na Câmara Municipal. Hoje é ligada ao vereador Marcelo Messias, que era chefe de gabinete de Nunes. A esposa atual de Alfonso, Maria Aparecida Pedrozo de Moraes, é funcionária da Secretaria das Subprefeituras, cedida para a Câmara. Seu irmão Antonio e Adriana Pedrozo de Moraes são funcionários de Rodrigo Goulart.
Apesar das relações políticas, as finanças de Alfonso não andavam tão bem. A matrícula do lote 6 do Sítio Vista Verde mostra que, em 11 de junho de 2010, sua parte do terreno foi indisponibilizada em decorrência de um processo na 7ª Vara de Execuções Fiscais da Fazenda.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. ||
|| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de projetos do observatório. ||
||| Tonsk Fialho é pesquisador e repórter. |||
Imagem principal (De Olho nos Ruralistas): Ricardo Nunes era próximo de Benjamin Ribeiro, dono de um dos lotes do Sítio Vista Verde
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