Em doze anos, relator do PL do veneno aumenta patrimônio de R$ 58 mil para R$ 981 mil

Luiz Nishimori (PR-PR) recebeu doações de campanha, em 2018, de dois comerciantes de agrotóxicos; os bens tinham ultrapassado R$ 1 milhão há quatro anos, mas diminuíram

Por Igor Carvalho

Enquanto multiplica seu patrimônio, o deputado federal Luiz Nishimori (PR-PR), coordenador de Relações Internacionais da Frente Parlamentar de Agropecuária (FPA), apoia abertamente a flexibilização da entrada de mais agrotóxicos proibidos aqui e em outros países. Sua articulação fica explicita pelo apoio que deu como relator do conhecido PL do Veneno. E nas próprias informações sobre bens e doações de campanha entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Entre os doadores de campanha, em 2018, estão dois comerciantes do setor. Somando R$ 100 mil em contribuições para o deputado, aparecem na lista entregue ao TSE Wilson Hideki Horita e Walter Yukio Horita, proprietários da Agropecuária Arizona, que também comercializa defensivos agrícolas.

A família do deputado é dona da Mariagro Agrícola Ltda, que comercializava sementes e fertilizantes no noroeste do Paraná. Contamos essa história com detalhes, em julho: “Relator do PL do Veneno, Luiz Nishimori vendeu agrotóxicos no Paraná“.

E, por fim, Nishimori defende os interesses comerciais da Agrícola Xingu, braço agropecuário da multinacional japonesa Mitsui, multada em R$ 169 mil por uso de agrotóxico proibido no interior da Bahia: “Deputado pró-agrotóxicos promoveu Mitsui, empresa flagrada com venenos ilegais na BA“.

Enquanto defende venenos nas plantações, Nishimori articula contra os produtores de orgânicos. Em julho deste ano, o deputado foi relator do projeto de lei 4576/2016 que tenta mudar regras para a comercialização de orgânicos. O texto restringe a possibilidade de comercialização direta de orgânicos ao pequeno produtor e retira desse jogo as cooperativas, além de acabar com as chances de vendas diretas para restaurantes, shoppings e sacolões organizados em ambientes fechados.

PATRIMÔNIO AUMENTOU 1.591% EM DOZE ANOS

Nascido em Marialva (PR), em 1949, o parlamentar entrou para a política em 2002, quando se elegeu, pelo PP, deputado estadual. Analisando um período mais recente da vida política de Luiz Nishimori, os últimos doze anos, nota-se um aumento de 1.591% no patrimônio do parlamentar. Quando se reelegeu deputado federal, em 2006, o paranaense declarou possuir R$ 58 mil em bens. Em 2018, tentando a reeleição para a Câmara, o total subiu para R$ 981 mil. Menos que o R$ 1 milhão declarado em 2014.

Nishimori conseguiu um cargo para sua filha Francine na Infraero. (Foto: Facebook)

Esses valores só se referem ao que foi declarado ao TSE. Em fevereiro deste ano, a 1ª turma do Superior Tribunal Federal (STF) acolheu, por unanimidade, uma denúncia de lavagem de dinheiro e peculato contra o parlamentar. Ele foi acusado de empregar nove funcionários fantasmas em seu gabinete, entre os anos de 2003 e 2010, na Assembleia Legislativa do Paraná. Durante o período, o deputado teria desviado R$ 2,8 milhões em salários destinados aos servidores.

Sócia do pai na Nishimori Administradora de Bens Próprios, Francine Nishimori ocupava um cargo no Ministério da Justiça: a coordenação-geral de Prevenção da Diretoria de Articulação e Projetos da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad). Em abril, foi nomeada para um cargo na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).

Em outras eleições, Elizabeth Akemi Nishimori, mulher do deputado do PP, não declarou ao TSE empresas das quais é sócia. Em 2008, quando foi eleita vice-prefeita pelo PMDB, ela afirmou possuir apenas R$ 4,3 mil em bens. Seu nome consta no como sócia na documentação de duas lojas da Mariagro Agrícola em Marialva.

A declaração de bens do deputado informa ele possui dinheiro em conta corrente na Cocari, uma cooperativa agropecuária com sede em sua região, produtora de sementes e café. Em 2014 ela foi uma de suas principais doadoras de campanha. Assim como as antigas empresas de Nishimori, a Cocari esteve na lista da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) como comercializadora de agrotóxicos.

‘EU USEI DDT’, INFORMOU O DEPUTADO

Na década de 1970, com apenas 22 anos, Nishimori montou a Mariagro Agrícola Ltda, que comercializa sementes e fertilizantes e está em nome de sua esposa, Elizabeth Akemi Nishimori. Mais tarde, fundou a Nishimori Agrícola, em nome de seus filhos. Embora tenha tentado se desassociar das empresas, o Tribunal de Justiça do Paraná afirmou, em 2015, que elas pertencem ao mesmo grupo familiar, ligado ao deputado paranaense.

Antiga sede da Mariagro, hoje comitê do PR. (Foto: De Olho nos Ruralistas)

De Olho Nos Ruralistas mostrou que os cadastros das empresas estão juridicamente ativos, embora fisicamente não estejam funcionando. À época, a reportagem visitou quatro endereços fornecidos nos registros da Mariagro, mas não encontrou vestígios do empreendimento da família Nishimori.

Sobre a Mariagro, Nishimori afirmou, em entrevista ao site Congresso em Foco: “Eu acho que vocês estão distorcendo. Minha vida pessoal não tem nada a ver com a atuação parlamentar. Desde que entrei para a política, em 2002, que não vende [agrotóxico]”.

Em 1999, a Mariagro Agrícola foi uma das fundadoras da Associação dos Distribuidores de Insumos e Tecnologia Agropecuária (Adita), que hoje atua em 83 municípios do Paraná. A entidade tem como objetivo promover a coleta de embalagens de agrotóxicos vazias.

Em maio de 2016, durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça que avaliava o PL do Veneno, Nishimori afirmou: “Eu usei DDT, Parathion e BHC. Eu sou dessa época, eu usava. Antigamente, passavam BHC para matar piolho”.

INTERESSES DO BRASIL, DO JAPÃO E DAS EMPRESAS

Nishimori articulou entrada da Mitsui em Moçambique. (Foto: Divulgação)

Em 2012, Nishimori defendeu os interesses da multinacional Mitsui em Moçambique. À época, o ruralista presidia o Grupo Parlamentar Brasil Japão e esteve no país africano, onde os japoneses atuam em parceria com a Vale, para apresentar o ProSavana, exemplo internacional de land grabbing, projeto de ocupação por grandes empresas de terras tradicionais. Ato contínuo, o parlamentar seguiu para a sede da Mitsui no Japão para prestar contas do encontro em Moçambique.

A Agrícola Xingu é o braço agropecuário da Mitsui Brasil e teve um faturamento de R$ 236 milhões em 2016 plantando soja, milho e algodão em nove fazendas espalhadas por Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso. Em abril deste ano, a empresa foi flagrada utilizando agrotóxicos proibidos em uma das suas propriedades em terras baianas. Ao todo, foram recolhidos aproximadamente mil litros de benzoato de emamectina, “produto de uso controlado que não podia ser utilizado na propriedade”. O Ministério Público da Bahia aplicou uma multa de R$ 169 mil na Fazenda Tabuleiro 5, que pertence a companhia brasileira.

Nishimori não está sozinho no Paraná. Segunda maior bancada ruralista da atual Câmara, os paranaenses têm entre seus representantes o deputado mais rico desta legislatura. Leia mais aqui: “Patrimônio de Alfredo Kaefer, do PR, cai de R$ 108 milhões para R$ 1,3 milhão“.

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