Senador foi alvo nesta sexta-feira da Operação Compensação, da Polícia Federal, que apura corrupção passiva e lavagem de dinheiro; família tem vários empreendimentos agropecuários e pelo menos 1,8 mil hectares em terras
Por Leonardo Fuhrmann
A deputada federal reeleita Iracema Portella (PP-PI), casada com o senador também reeleito Ciro Nogueira (PP-PI), declarou à Justiça Eleitoral ter uma ilha de 659, 74 hectares no litoral do Maranhão. A Ilha de São Bernardo pertence à União, mas a parlamentar adquiriu de outra pessoa física a cessão de direito de uso. A ilha, no município de Água Doce do Maranhão, é um dos vértices da reserva extrativista marinha do Delta do Parnaíba, de 27 mil hectares, criada em 2000 pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
A ilha é apenas uma parte das terras pertencentes à família do senador, presidente nacional do PP. A função de dirigente partidário tem relação direta com a investigação da qual ele foi alvo nesta sexta-feira. Segundo a Polícia Federal, ela é baseada nos depoimentos prestados por colaboradores que afirmaram ter repassado cerca de R$ 43 milhões ao PP, em pagamentos em espécie e doações oficiais, por intermédio de Ciro Nogueira, em troca de apoio político do partido na campanha presidencial de 2014.
A Ilha de São Bernardo é apresentada em materiais de divulgação como “um paraíso”. O cantor e ex-deputado Frank Aguiar (PTB-SP) passou lá sua lua de mel.
Em sua declaração de bens, entre outros negócios, o senador aparece como sócio da Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis. Ele tem como sócia na empresa sua mãe, Eliane Nogueira, sua primeira suplente no Senado. Eliane é acionista ainda da Fazenda Reunidas Nogueira Lima e tem 50% das fazendas Santa Teresa, de 380 hectares, e Cachoeira, de 76 hectares. Ambas ficam em Teresina e constam como recebidas por herança.
Além das propriedades registradas em nome de pessoa física, a família Nogueira tem outras propriedades em nome das empresas. É o caso da Fazenda do Junco, de 726,5 hectares, em Teresina, cuja proprietária é a Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis. A propriedade foi ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em julho de 2017 e desocupada no mês seguinte.
Um dos dirigentes nacionais do MST, João Luiz Vieira de Sousa, disse na época ao Brasil de Fato que o terreno teria, oficialmente, uma área de 1.800 hectares, sem atividade agrícola ou pecuária – ou seja, serviria somente para especulação imobiliária, ou seja, não tem nenhuma plantação ou criação de animais. “Algumas pessoas na região nos disseram que, na verdade, o terreno tem 2.800 hectares, ou seja, além de a terra ser improdutiva, há suspeitas de grilagem”, afirmou.