Por Alceu Luís Castilho
A foto principal desta reportagem parece a de dois garotos-propaganda. São eles o deputado Evair de Melo (PP) e o senador Ricardo Ferraço (PSDB). E não deixam de ser. Os parlamentares assumem um papel específico na defesa do setor cafeeiro. Não foi difícil achar foto similar – com Ferraço e o governador Paulo Hartung (MDB) alegres, igualmente exibindo uma peneira com grãos de café. O Espírito Santo é o segundo maior produtor do país, atrás de Minas.
Entre dez deputados federais capixabas, seis membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) buscam a reeleição. O candidato ao governo pelo PSL, Carlos Manato, também é signatário da FPA. Renunciou ao cargo para tentar a vaga no Palácio Anchieta. Foi o mesmo caminho feito pela senadora Rose de Freitas (Podemos), apoiada por Hartung. Manato indicou a mulher, Soraya Manato, como candidata a deputada pelo PSL.
Trata-se de uma bancada, portanto, com forte viés ruralista.
Ao lado de parlamentares mineiros, como Carlos Melles, Ferraço e Melo compõem o que pode ser definida como uma “bancada do café”. Em 2017, ela se mobilizou contra a disposição do governo de abrir o mercado para a importação de café. O presidente Michel Temer teve de ajudar a apagar o que se tornou um incêndio. Enviou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, para conversar com Hartung:
– O presidente Temer me chamou esta semana para conversar, me pediu para mais uma vez conversar com o pessoal, principalmente do Espírito Santo, com o senador Ferraço, o deputado Evair, com o governador Paulo Hartung e com os produtores.
O observatório contou essa história no ano passado. O caso mostra como o setor do agronegócio não é uma massa compacta. Ele possui contradições internas, muitas delas decorrentes dessa fatia de subsídios – diretos e indiretos – para o setor. Evair de Melo chegou a criar um movimento contra a importação do produto. Para ele, trata-se de uma demanda da indústria para baixar o preço do produto, e não dos fazendeiros.
A foto com Melo e Ferraço foi tirada no contexto de um projeto de lei proposto pelo deputado e relatado pelo senador, o PL 41/2017, que institui a Política Nacional de Incentivo à Produção de Cafés de Qualidade. Entre os itens do projeto, como certificações, crédito rural e assistência técnica, pode-se observar o “crédito rural para a produção, industrialização e comercialização”. Ou seja, dinheiro público.
A defesa de setores econômicos é um dos temas recorrentes desta série De Olho na Bancada Ruralista. Um dos candidatos à suplência na chapa de Ferraço, por exemplo, o empresário do setor de rochas ornamentais Eutemar Venturim (PSDB), explicou à Tribuna como seu nome foi escolhido: “O Ricardo fez o convite. Não é questão de ser interesse pessoal, mas do setor que eu trabalho e da região Sul”.
Titular da comissão do impeachment de Dilma Rousseff, Ferraço está entre os políticos mencionados por delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato. Ele teria recebido R$ 400 mil por caixa 2, na campanha de 2010 ao Senado. O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou o inquérito em junho, mas a Procuradoria-Geral da República pediu desarquivamento e envio à Justiça do Espírito Santo.
Ferraço declarou um patrimônio de R$ 4,4 milhões. Mais de dez vezes o que tinha em 2002, R$ 336 mil. Ele é filho do deputado estadual – e ex-deputado arenista – Theodorico Ferraço (DEM), três vezes presidente da Assembleia. Theodorico também teve uma evolução patrimonial notável. Em 2006, de volta à política, possuía R$ 2,26 milhões. Hoje, R$ 5,3 milhões.
A mulher do patriarca, Norma Ayub, deputada federal pelo DEM com R$ 1,4 milhão em bens, está entre os poucos parlamentares do estado que não fazem parte da FPA. Só que ela também é da bancada do café. Ela teve sua candidatura liberada pela Justiça Eleitoral apenas na segunda-feira, por causa de uma condenação por improbidade administrativa.
Outro membro ativo da bancada do café, Evair de Melo declarou neste ano um patrimônio bem mais tímido que o dos Ferraço: R$ 9.885,89. Foi diminuindo. Em 2014, o administrador e técnico em agronomia informou possuir R$ 31.245,52. Há dez anos, candidato a prefeito de Venda Nova do Imigrante, ele tinha R$ 790 mil.
Melo era o preferido da bancada ruralista para assumir o Ministério do Meio Ambiente, em 2016, após a queda de Dilma Rousseff, mas Michel Temer optou por Zequinha Sarney.
Confira a lista dos deputados capixabas pertencentes à FPA, com informação dos planos de cada um para os próximos anos:
Esta cobertura eleitoral do De Olho nos Ruralistas está dividida por regiões. O texto sobre os candidatos capixabas encerra a região Sudeste. Tivemos reportagens sobre os ruralistas mineiros, paulistas e fluminenses. Com reportagens extras no caso de São Paulo e Minas. Os próximos textos serão sobre os candidatos dos nove estados da região Nordeste.