Dossiê aponta parlamentares e prefeitos com fazendas em TIs e políticos financiados por fazendeiros com sobreposições; evento tem exibição do filme “Vento na Fronteira” e debate com líder indígena Thiago Guarani e João Pedro Stédile, do MST
Por Luís Indriunas
O evento de lançamento acontece no Cine Petra Belas Artes, em São Paulo, às 20h15. Contará com uma roda de debate e com a exibição do filme “Vento na Fronteira”, documentário premiado que apresenta um conflito entre fazendeiros e o povo Guarani Kaiowá na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O observatório detalhará os casos e os nomes dos políticos encontrados durante a investigação de mais de seis meses. “Se a CPI do MST e os deputados querem debater seriamente invasão de terras no Brasil precisam entender quem declara fazendas em territórios indígenas”, diz o diretor do observatório, Alceu Luís Castilho. “A desigualdade de renda anda de mãos dadas com a desigualdade fundiária e a sociedade tem o direito de saber como as terras são apropriadas neste país”.
O debate contará com uma das diretoras do filme, Laura Faerman, o economista João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e o líder indígena Thiago Guarani, da TI Jaraguá, sob a mediação da historiadora Luma Prado, do De Olho nos Ruralistas.
O dossiê será disponibilizado ao público durante o lançamento e poderá ser baixado em nosso site.
Dirigido por Laura Faerman e Marina Weis, o documentário “Vento na Fronteira” expõe o conflito na TI Ñande Ru Marangatu, fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. O roteiro opõe a professora Guarani Kaiowá Alenir Aquino Ximendes, que luta pelo direito de sua comunidade a terras ancestrais, e a fazendeira Luana Ruiz Silva, que se tornou advogada para brigar pelas terras de sua família na mesma área. Ela é um dos nomes cotados para prestar informações na CPI do MST.
O filme teve sua estreia no maior festival de documentários dos Estados Unidos, o DOC NYC, em Nova York, e foi um dos três filmes brasileiros qualificados para disputar a categoria no Oscar 2023. Já recebeu nove prêmios, entre melhor filme e menções honrosas, um deles o de melhor filme da Competição Oficial de Documentários Latino-americanos do XX Festival Independente de Cinema e Direitos Humanos de Buenos Aires, anunciado no dia 07.
A partir das visões dessas duas mulheres antagônicas, o documentário explicita o processo histórico de expulsão e a violência contra os Guarani Kaiowá no Centro-Oeste, em um contexto de ascensão da extrema direita ao poder no Brasil.
As diretoras têm suas trajetórias marcadas pelo acompanhamento da Comissão Nacional da Verdade Indígena, em 2014, quando, pela primeira vez, foram investigadas as violências da ditadura contra os povos originários, que resultaram na morte de mais de 8 mil indígenas. A partir dessa pesquisa, as diretoras criaram a série audiovisual A Memória Perigosa, que reúne arquivos inéditos e dezenas de depoimentos de testemunhas e sobreviventes dos anos de chumbo.
Laura Faerman desenvolve projetos cinematográficos como diretora e produtora, em São Paulo, e trabalha com projetos audiovisuais no De Olho nos Ruralistas. Marina Weis, que vive em Berlim, na Alemanha, divide seu ofício cinematográfico com trabalhos sociocomunitários, ecofeminismo e permacultura.
| Luís Indriunas é editor e roteirista do De Olho nos Ruralistas. |
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