Pesquisa do Ministério da Saúde revela: volume de veneno por área plantada aumenta a passos largos no país, assim como o de pessoas intoxicadas; De Olho publica série com dados por região
Por Inês Castilho
O Brasil passa por um obscuro processo de intensificação da agricultura. Num período de sete anos, de 2007 a 2013, dobrou o consumo de veneno aplicado nas terras cultivadas do país, terras estas que foram ampliadas em menos de um terço.
As donas de casa aparecem na lista como as principais vítimas no caso das mortes por suicídio (22% do total de casos relativos à ingestão de agrotóxicos no Brasil), seguidas pelos estudantes (19%) e pelos trabalhadores agropecuários (12%). Em situações de violência e homicídio os estudantes passam à frente, com 21%, seguidos pelas donas de casa (19%) e pelos trabalhadores agropecuários (15%).
O volume de venenos comercializados no país saltou de 643 mil toneladas para 1,2 milhão de toneladas no período, saltando de 10,32 kg/ha para 16,44 kg/ha a relação entre volume de veneno por área plantada. Já o número de casos notificados foi de 3,08 para 6,23 por 100 mil habitantes. Isso, na média do país, e considerando-se somente agrotóxicos comercializados legalmente – o que não inclui o contrabando. O mercado de agrotóxicos cresceu 190% no Brasil entre 2000 e 2010, enquanto o crescimento mundial foi de 93%.
Em 2013 foi registrado o maior número de notificações para intoxicação por agrotóxicos no país desde o início da série histórica: 12.534 casos. Os estados de Tocantins (17,59 casos/100 mil hab), Espírito Santo (15,18) e Paraná (13,21) apresentaram mais notificações, muito acima da média nacional (6,23). Isso significa um maior número de casos, mas também sinaliza a capacidade de atuação da Vigilância em Saúde nesses estados.
Os dados são do programa de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos , do Ministério da Saúde, que lançou no mês passado o relatório nacional de 2016 com a incidência de intoxicações por agrotóxicos e dados estimados da comercialização do veneno por área plantada. O ministério alerta para a subnotificação de casos, o que colabora para manter invisível a gravidade de um problema de saúde pública.
OS VENENOS NO SUDESTE
A região Sudeste é a maior consumidora de agrotóxicos do país, com 453 mil toneladas, 36,9% do total em 2013. O estado de São Paulo é o campeão, com 297 mil toneladas (um quarto do total nacional e dois terços do total da região), seguido de Minas Gerais, com 119 mil toneladas.
A incidência de intoxicações por agrotóxicos quadruplicou na região entre 2007 e 2013: saltou de 2,02 em 2007 para 8,04 casos por 100 mil habitantes em 2013. A comercialização de agrotóxicos por área plantada – ainda sob o critério proporcional, por 100 mil habitantes – aumentou 31% nesse período.
Em 2013, a área plantada no Sudeste correspondia a 16 milhões de hectares – aproximadamente 2 milhões de hectares a mais que no ano anterior. Metade dessa área, 8 milhões de hectares, era no estado de São Paulo. Minas Gerais ocupou a segunda posição, com 6 milhões de hectares.
São Paulo é o estado que teve o maior número de casos (12.562 por 100 mil habitantes) de intoxicações por agrotóxico na região, entre 2007 e 2014. Se tomarmos apenas o ano de 2013, contudo, o Espírito Santo teve o maior número de ocorrências, com 15,18 por 100 mil habitantes. Foi seguido por Minas Gerais, onde os casos quintuplicaram nesse período de sete anos, saltando de 2,19 em 2007 para 10,77 por 100 mil habitantes em 2013.
São Paulo teve também a segunda maior taxa de aplicação de veneno por área plantada – 35,72 kg/ha – do país. O primeiro foi o Rio de Janeiro, com 135,45 kg/ha. O estado concentra 98 das 272 fábricas de agrotóxicos e desinfetantes de uso domiciliar existentes no Brasil, nas quais trabalham quase 10 mil dos cerca de 16,5 mil trabalhadores dessa indústria.
O município de São Paulo foi o segundo entre os que mais registraram intoxicações por agrotóxicos (1.264 casos por 100 mil habitantes) entre 2011 e 2014; Recife foi o primeiro, com 1.818 casos. São José do Rio Preto, no interior paulista, e Guarulhos, na Grande São Paulo, aparecem em 12º lugar e 13º lugar, respectivamente, na lista brasileira de municípios com mais intoxicação, em números absolutos. Marília, também no interior, aparece em 25º lugar.
A região Sudeste é a principal produtora de cana-de-açúcar do país, que ocupa 65% da área plantada de São Paulo e 56% da área plantada do Rio de Janeiro. Além da cana-de-açúcar, suas principais culturas são milho, café e soja.
2 commentsOn Intoxicações por agrotóxico quadruplicam no Sudeste; donas de casa estão entre principais vítimas
Prezada, seu texto tem algumas inconsistências, que acredito serem em decorrência da confusão entre produtos agrotóxicos e os domissanitários. Tanto que a pesquisa mostra o municipio de São Paulo em primeiro lugar no número de intoxicações por agrotóxicos e São Paulo praticamente não tem área agrícola. O tema é serio, acredito que suas fontes fazem propositadamente a confusão para não haver distinção entre um produto e outro e é fundamental sabê-lo pois que a fiscalização de uso de agrotóxicos é competência das secretarias estaduais de agricultura e dos produtos domissanitários das vigilancias sanitárias e da ANVISA.
Saudações
Olá, Luiz. A fonte é o Ministério da Saúde. Que, no levantamento, não trabalha com essa distinção. Mas se houvesse essa influência dos domissanitários o Mato Grosso não ficaria em segundo lugar, certo? Haveria apenas um ranking proporcional à população.