Violência no sul do Piauí lembra a do Pará, aponta Fiocruz

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Ilustração: Artur Monteiro/Fiocruz

Reportagem sobre Matopiba traz relatos de ataques contra populações extrativistas; segundo CPT, casos de violência aumentaram em 2016

– Nós estava na roça colhendo. Chegaram lá esses grileiros, chegaram com os tratores, passaram por cima das nossas casas derrubando tudo o que nós tinha dentro. E as crianças chorando, e eles só passando o trator por riba. Tocaram fogo nas roupa, nos documento. Deram um tapa na minha cara, eu estava com um neném no braço. Outro tapa acertou, quebrou a clavícula do neném.

O relato é de uma moradora do Assentamento Rio Preto, em Bom Jesus (PI), e faz parte de reportagem da Fiocruz sobre a região do Matopiba. A fronteira agrícola – que obteve amplo destaque durante o governo Dilma Rousseff – abrange 76 milhões de hectares em 37 municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia..

Maria Zuleide conta que o grileiro chegou dizendo que era para eles saírem. “E nós dizendo que não saía, nossos avós, nossos pais era nascido e criado lá, por que era que nós ia sair?”, relata, à Fiocruz. “Nós não tinha lugar para ir, nós tinha que ficar ali. Aí eles juntaram um bocado de jagunço assim afora e levaram lá para atacar nós”.

Os moradores resistem. “Quem defende a luta uma hora tá vivo, uma hora tá morto”, diz Maria do Socorro, liderança do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu. Mais de 300 mil mulheres nos quatro estados vivem do extrativismo em terras comuns.

SOJA E EUCALIPTO

A corrida por terras atinge áreas de preservação ambiental dos babaçus, para plantios de culturas como soja e eucalipto.

Maria do Socorro diz que o número de empresas aumenta a cada dia. “Agora estourou”, define. “É estrangeiro para todo lado”.

Eldo Barreto, membro da Associação Comunitária do Fecho Clemente, em Correntina (BA), confirma o impacto ambiental: “Às vezes a gente acorda com dois, quatro tratores dentro das áreas de gerais. E temos que entrar na frente, fazer o necessário para impedir a derrubada do cerrado”.

Essas áreas são conhecidas como fechos de pasto. Agora recheadas de pistoleiros. “A grilagem aumentou, a violência no campo aumentou, a tranquilidade das comunidades se perdeu”, afirma Barreto.

“Não existe expansão de fronteira agrícola sem grilagem de terras”, define Mauricio Correa, da Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais da Bahia. “Não existe Matopiba sem grilagem”.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Piauí, houve dois conflitos agrários em 2015. “Em 2016 passamos de 15”, afirma o agente Altamiran Ribeiro. “Por isso que eu digo: o sul do Piauí está se tornando o sul do Pará”.

Leia aqui a reportagem completa: Matopiba: na fronteira entre a vida e o capital.

Ilustração: Artur Monteiro/Fiocruz

 

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