Empenhado em restaurar indústria de carvão e combater “inimigos”, Trump faz suas primeiras vítimas: os pesquisadores
Por Cauê S. Ameni
Os impactos negativos das ações dos homens na natureza são cada vez mais nítidos – e devastadores. Para evitar, mensurar e contornar os problemas, a divulgação de pesquisas se torna um item fundamental. Não para o novo presidente estadunidense Donald Trump, um cético sobre os efeitos do aquecimento global.
Em poucos dias, Trump amordaçou o Departamento de Agricultura (USDA) e a Agência de Proteção Ambiental (EPA). A nova administração determinou que a EPA retire do seu site toda informação disponível sobre aquecimento global. Funcionários da USDA não podem mais divulgar pesquisas.
Pesquisadores lamentaram. “Anos de trabalho que fizemos sobre a mudança climática irão desaparecer”, disse à Reuters um pesquisador que pediu para não ser identificado. Os dados apagados incluem informações sobre emissão de gás carbônico e impacto da atividade humana no clima.
Para administrar o EPA, Trump nomeou o procurador-geral de Oklahoma Scott Pruitt, que possui 14 processos da agência contra ele.
Na mesma semana, os pesquisadores da USDA foram proibidos de divulgar publicações científicas para repórteres e postar nas redes sociais suas pesquisas, revela uma circular interna divulgada pelo BuzzFeed. A notificação é feita especificamente para aos funcionários do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS), principal centro de pesquisa da USDA, que desenvolve pesquisas sobre os impactos da mudanças climáticas na produção de alimentos.
Um dia depois, a diretoria da USDA disse que o e-mail enviado foi uma “falha” e que a política seria substituída. “Este email foi liberado sem direção departamental”, alegou a diretoria. “A ARS está empenhada em manter o livre fluxo de informação entre nossos cientistas e o público americano”.
O The Guardian informa que outras duas agências federais foram silenciadas por Trump. O site de noticias Politico conta que o Departamento do Transporte também foi “recomendado” a não publicar informações ou divulgá-las nas redes sociais. O Huffington Post reportou que funcionários da subagência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos foram recomendados a não enviar “nenhuma correspondência oficial para o público”.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, disse que precisava examinar o assunto antes de fazer qualquer comentário.
NOVAS DIRETRIZES
Os sinais do combate contra as iniciativas de Barack Obama são evidentes. Assim que Trump se tornou o 45º presidente dos EUA, o site dedicado às mudanças climáticas, hospedado no site da Casa Branca, foi retirado do ar.
O novo plano de energia divulgado pela Casa Branca, America First Energy Plan (“Plano de Energia América em Primeiro Lugar”), elimina o Plano de Ação Climática de Obama. “O presidente Trump está comprometido a eliminar políticas danosas e desnecessárias como o Plano de Ação Climática das regras norte-americanas. Retirar essas restrições vai ajudar os trabalhadores americanos, aumentando os salários em mais de US$ 30 bilhões ao longo dos próximos sete anos”, diz o texto. E completa: “A administração Trump também está comprometida com a tecnologia de carvão limpo e em restaurar a indústria americana de carvão, que vem sendo ferida por muito tempo”.