Segundo secretário da Agricultura de Juína, carne seria destinada a embutidos, em vez de reciclagem; veterinário determinou a paralisação das atividades
Localizado em Juína, a 737 quilômetros de Cuiabá, o Frigorífico de Abate Suíno Dom Porco foi interditado pelo Sistema de Inspeção, vinculado à Secretaria Municipal de Agricultura. Segundo o secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, João Manuel de Souza Peres, ele vendeu animais mortos durante o transporte para consumo humano, o que é vetado pela vigilância sanitária.
Segundo o G1, os fiscais flagraram o caso no dia 4. Eles disseram, no relatório de inspeção encaminhado à Secretaria de Agricultura, que a carne de quatro porcos apresentava mau cheiro. Ouvido pelo site Agro Notícias, o secretário disse que eles deveriam ter sido destinados à reciclagem por uma empresa especializada, mas estavam sendo manipulados na sala de abate:
– O intuito era usar a carne para confecção de embutidos, uma indústria paralela do frigorífico. Ao constatar isso, o técnico informou o veterinário responsável pelo serviço de inspeção, que determinou a paralisação imediata de todas as atividades.
CASA ABATIA O DOBRO PERMITIDO
O site explica que a prefeitura já havia encontrado irregularidades no frigorífico. Em janeiro, conforme o secretário, a administração firmou um termo de compromisso para adequação:
– É um frigorífico projetado para abater de 20 a 25 cabeças por dia e estava com o dobro disso, às vezes até mais. Havia também irregularidades na questão tributária, que não vinha sendo recolhida regularmente, e ambiental, em relação ao despejo dos dejetos.
Mas o arrendatário – não localizado pela reportagem do Agro Notícias – não procurou a prefeitura para negociar a reabertura da unidade. Seu filho, que não quis se identificar, negou que a direção tenha dado ordens para reaproveitamento dos animais mortos durante o transporte. Ele disse que ocorreu um “erro operacional” dos funcionários e que os fiscais fizeram uma “má interpretação”:
– Houve a morte de dois animais durante o transporte. Eles estavam sendo descartados, quando os fiscais chegaram e acharam que seriam aproveitados. Porém, a inspeção não estava errada, pois houve procedimento errado por parte dos funcionários. O fiscal entendeu como tentativa de aproveitamento. A direção da unidade nunca deu autorização para utilização destes animais. Isso nunca ocorreu.
O frigorífico emprega 14 funcionários.
CPI DOS FRIGORÍFICOS
A indústria da carne em Mato Grosso foi investigada em 2016 por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Assembleia Legislativa do Estado. O relatório final foi divulgado na semana passada: “CPI mostra como JBS dominou 56% do mercado da carne no MT“. Plantas sem estrutura, benefícios fiscais fraudulentos e concentração de mercado pela JBS foram algumas das questões apontadas pelos deputados.