Apib pede que Janot investigue Temer por favorecer bancada ruralista

In De Olho na Política, Governo Temer, Povos Indígenas, Principal, Últimas

Articulação dos Povos Indígenas vê possível crime de improbidade administrativa; presidente estaria usando a máquina pública para se manter no poder

O presidente Michel Temer é alvo de mais um pedido de investigação na Procuradoria-Geral da República (PGR). Desta vez a representação foi protocolada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. A Apib pede que a PGR investigue Temer pelo crime de improbidade administrativa, ao favorecer a bancada ruralista com uso da máquina pública.

A representação foi protocolada nesta sexta-feira (4), e pede que Rodrigo Janot investigue o presidente por prejudicar direitos indígenas protegidos pela Constituição e por beneficiar a bancada ruralista. Uma manobra, segundo a organização indígena, para se salvar da denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF)

PARECER DO MARCO TEMPORAL

A Apib também se refere à recente vinculação à Advocacia-Geral da União (AGU) da tese do Marco Temporal, que defende a demarcação de terras somente pela efetiva ocupação das comunidades no ano de 1988. Trata-se de uma jurisprudência consolidada pelo STF ao julgar a Terra Indígena Raposa do Sol em 2005. Esse teria sido um dos atos que configurariam o uso da máquina pública para favorecer proprietários de terra.

O parecer da AGU obriga a União a aplicar as 19 condicionantes que o STF estabeleceu na decisão da PET nº 3.388/RR – quando reconheceu a constitucionalidade da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol – a todas as Terras Indígenas.

A Apib considera que o próprio STF afirmou, expressamente que a decisão proferida não possui efeito vinculante e seus efeitos não se estendem, de forma automática, a outros processos em que se discuta matéria similar:

Ocorre que, em um processo ilegítimo, conduzido totalmente às margens da lei e da Constituição, por um governo igualmente ilegítimo, foi aprovado o Parecer nº GMF-05, elaborado pela Advocacia-Geral da União, que simplesmente desconsidera essa decisão do STF e estende as condicionantes da PET 3388 indistintamente e automaticamente a todos os demais processos de demarcação de terras indígenas, fazendo exatamente aquilo que a Suprema Corte expressamente determinou que não seria possível.

NÓS NÃO NASCEMOS EM 1988

Intitulada “Nossa história não começa em 1988! Marco Temporal não!”, a nota da Apib diz que, na prática, o marco temporal “legitima e legaliza as violações e violências cometidas contra os povos até o dia 04 de outubro de 1988: uma realidade de confinamento em reservas diminutas, remoções forçadas em massa, tortura, assassinatos e até a criação de prisões”:

Aprovar o “marco temporal” significa anistiar os crimes cometidos contra esses povos e dizer aos que hoje seguem invadindo suas terras que a grilagem, a expulsão e o extermínio de indígenas é uma prática vantajosa, pois premiada pelo Estado brasileiro. A aprovação do marco temporal alimentará as invasões às terras indígenas já demarcadas e fomentará ainda mais os conflitos no campo e a violência, já gritante, contra os povos indígenas.

Para a organização, afirmar que a história dos povos indígenas não começa em 1988 não significa, “como afirmam desonestamente os ruralistas”, que eles querem demarcar o Brasil inteiro. E sim que suas terras tradicionais sejam demarcadas seguindo os critérios de tradicionalidade garantidos na Constituição.

A nota também explica uma série de processos que serão julgados pelo STF e correm o risco de terem as demarcações canceladas pelo uso da tese. Confira na íntegra aqui.

Para a Apib, o parecer da AGU foi criado com a única finalidade de “obter apoio político, especialmente no que se refere à obtenção dos votos necessários à rejeição da denúncia criminal contra o Presidente da República Michel Temer”.

GENERAL NA FUNAI

A representação protocolada na PGR também critica a nomeação do general indígena Franklimberg Ribeiro de Freiras para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Enquanto isso, o Conselho Nacional de Política Indigenista segue inoperante há mais de um ano, demonstrando a falta de interesse do Ministério da Justiça em estabelecer um diálogo com os povos indígenas”.

You may also read!

Proprietária que reivindica terras em Jericoacoara é sobrinha de governadores da ditadura

Tios de Iracema Correia São Tiago governaram o Ceará e o Piauí durante os anos de chumbo; os três

Read More...

Clã que se diz dono de Jericoacoara foi condenado por fraude milionária em banco cearense

Ex-marido de Iracema São Tiago dirigiu o Bancesa, liquidado por desviar R$ 134 milhões da União e do INSS

Read More...

Prefeitura de SP nega superfaturamento e diz que obra de R$ 129 milhões segue “ritos legais”

Investigada por irregularidades, Ercan Construtora foi contratada para obra emergencial em talude na comunidade Morro da Lua, no Campo

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu