Deputado e a mulher Akemi controlam empresa Mariagro, que também comercializou sementes e fertilizantes na região de Maringá; projeto de lei flexibiliza acesso a pesticidas
Por Alceu Luís Castilho
O deputado Luiz Nishimori (PR-PR) vendeu durante anos pesticidas em Maringá, Marialva e Luiziana, no noroeste do Paraná. Ele é o relator do PL do Veneno, o PL 6299/2002, que flexibiliza o uso de agrotóxicos no Brasil. O deputado é membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), bancada pelo setor privado e interessada direta na aprovação do projeto.
Luiz Nishimori já foi presidente da Mariagro Agrícola Ltda, hoje em nome de sua mulher, Akemi Nishimori, e de sua mãe, Fumi Nishimori, falecida em outubro, aos 87 anos. Outra empresa, a Nishimori Agrícola, está em nome de dois filhos. O Tribunal de Justiça do Paraná considerou, em 2015, que as empresas da família pertencem ao mesmo grupo.
O próprio Nishimori informa, em seu perfil no Facebook, que é agricultor desde 1970. Ele conta ter constituído a Mariagro naquela época, com 21 anos. Depois, com a Sementes Nishimori, atou na produção de sementes de soja e trigo.
“Eu usei DDT, Parathion e BHC“, recordou-se, durante uma das audiências na comissão que avalia o PL do Veneno, em maio de 2016. “Eu sou dessa época, eu usava. Antigamente, passavam BCH para matar piolho!”
A Mariagro foi uma das fundadoras da Associação dos Distribuidores de Insumos e Tecnologia Agropecuária (Adita), em 1999. O objetivo do grupo de empresários do noroeste paranaense era recolher as embalagens vazias de agrotóxicos. Hoje está presente em 83 municípios.
NO ENDEREÇO DE EMPRESA, A SEDE DO PR
O deputado não atendeu os sucessivos pedidos de entrevista do De Olho nos Ruralistas, feitos desde junho. Ao Congresso em Foco, porém, em notícia publicada nesta quinta-feira (12/07) sobre as empresas, ele informou o que o observatório apurou em Maringá: as empresas não estão funcionando. Embora estejam juridicamente ativas.
Em um dos endereços, na Rua Carlos Gomes, em Maringá, funciona a sede do PR e o escritório político do próprio deputado. Em outro, na Rua Antônio Carniel, a sala está disponível para locação. Na Avenida Brasil existe um barracão azul fechado. Um comerciante da loja ao lado informa que ali “já funcionou a MariAgro, não existe mais”. O endereço é utilizado por uma empresa que conserta camas hospitalares.
Logo na entrada de Marialva, depois de ultrapassar o monumento do cacho de uva – cartão postal do município – a MariAgro mantinha um entreposto no antigo parque industrial. É possível ainda notar resquícios da fachada no galpão onde hoje funciona uma empresa de peças de tratores. Essa empresa ocupa apenas uma parte do complexo.
A outra parte, na esquina com a Rua Joinvile, possui outros dois grandes armazéns – sem atividades. No centro de Marialva, a MariAgro tinha um ponto comercial na Rua Washington Luiz, 1.043, lembrado pelos moradores como “loja de veneno”. No local funciona uma papelaria.
“Desde que entrei na política, em 2002, que não vende [agrotóxico]”, disse Nishimori ao Congresso em Foco. “Eu acho que vocês estão distorcendo. Minha vida pessoal não tem nada a ver com a atuação parlamentar”.
EMPRESAS DA FAMÍLIA TÊM MESMO ENDEREÇO
À Justiça Eleitoral, nas três últimas eleições, o deputado declarou apenas a Nishimori Diesel Marialva, localizada no mesmo endereço, no bairro Parque Industrial de Marialva, da Nishimori Agrícola e de uma das filiais da Mariagro Agrícola. A matriz fica a 600 metros, ainda na Avenida Cristóvão Colombo.
Confira o registro da Nishimori Agrícola, como empresa comercializadora de agrotóxicos, em lista divulgada em 2014 pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar):
O mesmo cadastro traz o nome da produtora de sementes MariAgro Agrícola Ltda. Mais uma empresa na Avenida Cristóvão Colombo:
De Olho nos Ruralistas mostra também a conexão do deputado Nishimori com grandes empresas do agronegócio. Confira aqui: “Deputado pró-agrotóxicos promoveu Mitsui, empresa flagrada com venenos ilegais na BA”.
SÓCIA, A FILHA FRANCINE TEM CARGOS NO GOVERNO
A Nishimori Diesel chama-se agora Nishimori Administradora de Bens Próprios Ltda. Está em nome do deputado, de Akemi e dos três filhos. Uma delas, a advogada Francine Nishimori, é fã do Emporium Horta no Potinho, em Maringá, “100% natural”, que serve saladas em potes de vidro para ela se manter fresca e “livre de componentes nocivos para a saúde”.
Francine vinha exercendo como substituta, nos últimos meses, um cargo no Ministério da Justiça: o de coordenadora-geral de Prevenção da Diretoria de Articulação e Projetos da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad). Em abril ela foi nomeada para um cargo na Infraero.
A Nishimori Agrícola está em nome de Lísia e William Nishimori. Irmã de Francine, filha do deputado, Lísia é professora de Odontologia em Maringá. Em sua página no Facebook, ela admira uma marca de produtos de beleza orgânicos e o juiz Sérgio Moro – personagem mais famoso de Maringá, hoje em Curitiba.
Entre 1994 e 1998 funcionou também na região a empresa Produção e Comércio de Sementes Nishimori Ltda, igualmente registrada como comercializadora de agrotóxicos.
Segundo o TJ-PR, o contrato social da Nishimori Diesel – em nome do deputado – traz entre a lista de bens exatamente os imóveis onde ficam a Mariagro Agrícola e a Nishimori Agrícola. Em decisão a favor da penhora dos bens do grupo, a juíza Fabiana Silveira Karam considerou evidente se tratar do mesmo grupo econômico, até pela similaridade das atividades das empresas, entre elas a comercialização de agrotóxicos.
MULHER DO DEPUTADO NÃO DECLARA AS EMPRESAS
Akemi Nishimori foi vice-prefeita de Maringá entre 2009 e 2012, eleita pelo PMDB. Na época ela só declarou 16,66% de um imóvel em Luiziana – onde a família tem fazenda. Em 2016, pelo mesmo partido do marido, o PR, ela tentou novamente ser vice de Silvio Barros (PP), irmão do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), ministro da Saúde até abril.
Não foi eleita. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informa que ela informou possuir apenas R$ 4.352,00 nesse ano, uma soma dos saldos no Banco do Brasil (R$3.658) e no Santander (R$ 694). Seu saldo no Santander seria suficiente para comprar quatro galões de 5 litros de Roundup, o glifosato da Monsanto.
O nome de Akemi, no entanto, aparece como sócia nas duas sedes em Marialva da Mariagro Agrícola – cuja função principal é o comércio varejista – e nas filiais da vizinha Maringá e de Luiziana, na mesma região. Estas têm o nome fantasia de Sementes Maringá e Sementes Luiziana. A filial de Marialva é a Sementes Mariagro.
Nos últimos anos Akemi foi chefe do escritório regional da Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social em Maringá, no governo Beto Richa (PSDB). Ela pediu exoneração em abril.
DEPUTADO TEVE PATRIMÔNIO MULTIPLICADO
Luiz Nishimori é, desde fevereiro, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal. A 1ª Turma do STF acolheu denúncia por lavagem de dinheiro e peculato. O deputado é acusado de ter empregado nove servidores fantasmas, em cargos comissionados, quando era deputado estadual, entre 2003 e 2010. O desvio teria sido de R$ 2,8 milhões.
O Ministério Público Federal também denunciou o parlamentar por “ter ocultado outros valores obtidos por meio de crimes”, conforme as palavras do o subprocurador-geral da República Juliano Baiocchi Villa-Verde de Carvalho. Entre as provas, planilhas, depoimentos, depósitos bancários e perícias feitas pela Receita Federal, Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República.
Em 2006, quando foi eleito deputado estadual pelo PSDB, Nishimori declarou R$ 58.900 à Justiça Eleitoral. Nessa época ele só tinha um Honda Civic 1998, no valor de R$ 25 mil, e cotas (em nome dele e da mulher) da empresa Nishimori Diesel Marialva. Formado em Ciências Contábeis, ele se declarava policial militar.
Nas eleições de 2014, o patrimônio do parlamentar saltou para R$ 1.032.656,59. Quarenta vezes mais que em 2006. A lista, porém, não traz uma quantidade grande de itens, como imóveis rurais e urbanos, muito comuns em declarações de outros parlamentares.
Carro, somente um, uma Pajero 2009 – segundo item mais valioso dessa lista de bens. O primeiro item estava distribuído em cédulas diversas: o deputado declarou R$ 800 mil em “dinheiro em espécie”. Em 2010, candidato pela primeira vez à Câmara, ele já doara R$ 192 mil – em espécie – do total de R$ 321 mil arrecadados pelo próprio comitê de campanha.
Segundo a Gazeta do Povo, Nishimori negou se tratar de uma manobra contábil. Ele disse ao jornal que o valor se refere a produtos agrícolas que entregou para cooperativas ou mantém em armazéns. “Não tenho o dinheiro, mas se precisar vendo isso e faço dinheiro”, afirmou.
DOADORA TAMBÉM VENDE AGROTÓXICOS
Uma de suas principais doadoras de campanha em 2014 foi a Cocari Cooperativa Agroindustrial. Em 2012, em plenário, Nishimori tomou a palavra para parabenizar a empresa por seus 50 anos. Ela também aparece nos registros da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, a Adapar, como comercializadora de agrotóxicos.
Uma empresa do deputado licenciado Dilceu Sperafico (PP-PR), hoje secretário-chefe da Casa Civil no Paraná, também está na lista da Adapar. Membro ativo da bancada ruralista, o produtor de soja Sperafico acabara de ser eleito o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, mas preferiu aceitar o cargo no governo Beto Richa (Colaborou Igor Carvalho)
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