No MT, sucessor de Blairo Maggi acumula dívidas e tem atuação anti-indígena

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Amigo de infância do ministro da Agricultura, Adilton Sachetti (PRB) se considera o candidato legítimo do agronegócio; 100% dos deputados e senadores do estado pertencem à Frente Parlamentar da Agropecuária

Por Bruno Stankevicius Bassi

Inesperada para muitos, a decisão do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de não concorrer à reeleição no Senado foi bastante positiva para Adilton Sachetti (PRB), autointitulado “candidato legítimo do agro”. O deputado recebeu apoio total do amigo de infância e padrinho político, dono de uma das maiores empresas de soja do mundo.

Ao anunciar a desistência, Maggi disse que apenas um pedido de Sachetti o faria subir em palanque: “Vou concluir o trabalho no Ministério da Agricultura, porque há muito por se fazer. Na campanha, só posso ir se o Adilton, que é meu compadre, colocar o seu nome”.

Nesta segunda-feira (01), o ministro gravou vídeo pedindo votos para seu sucessor natural no Senado.

Sachetti participa, com Blairo, de visita de Temer a uma fazenda de algodão. (Foto: Reprodução)

A aliança entre os dois empresários é antiga. Foi Maggi, entã0 governador, quem lançou o amigo na política em 2004, emplacando Sachetti como prefeito de Rondonópolis, segunda economia do estado e então sede do Grupo Amaggi. Em 2009, após a vitória do candidato da oposição, José Carlos do Pátio (SD), a empresa transferiu o conselho de administração para Cuiabá. Na época, o dono da Amaggi negou tratar-se de uma retaliação política.

Sendo ou não vingança, o fato é que, depois de quatro anos de bonança e abertura de novas frentes de negócio da Amaggi, Rondonópolis assistiu a uma fuga de investimentos após a derrota eleitoral de Sachetti.

No futebol, os amigos patrocinam times rivais em Rondonópolis: enquanto a Amaggi investe no União, o irmão de Adilton, Tarcísio Sachetti, foi dirigente do Vila Aurora na conquista de seu primeiro título estadual, em 2005. O União só viria a ganhar a ‘Agroliga’ – apelido dado ao campeonato mato-grossense – em 2010.

Em 2010, o candidato ao Senado pelo PRB foi indicado para presidir a Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá.

ATUAÇÃO CONTRA OS INDÍGENAS…

A amizade de infância entre Sachetti e Maggi é um retrato da Marcha para o Oeste. As duas famílias são oriundas do Sul – os Sachetti saíram de Criciúma (SC) e os Maggi de Torres (RS) – e foram se encontrar em Rondonópolis estimuladas pelos benefícios concedidos pelo Estado brasileiro, na esteira da chamada Revolução Verde, para “ocupar” o Centro-Oeste.

Esse imenso estoque de terras sem dono, no entanto, era propaganda enganosa. Ali viviam indígenas, quilombolas e diversas outras comunidades tradicionais, expulsas de seus territórios pelo avanço da soja, encabeçado por sulistas como Sachetti.

Sachetti e Nilson Leitão tentam emplacar produção de soja em terras indígenas. (Foto: Divulgação)

Em Brasília, o deputado mato-grossense tem uma atuação vigorosa na defesa do agronegócio. Defensor da PEC 215, que transfere para o Congresso a competência da demarcação de novas terras indígenas, foi ele o autor do requerimento 486/2017, que convocou uma audiência pública para discutir a produção agrícola dentro das TIs.

Dominada por representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a sessão realizada na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural convidou indígenas pró-soja, que foram aplaudidos de pé pelos ruralistas. “Índio não quer mais tutela“, disse Sachetti. “Ìndio não quer mais espelhinho em troca de manter sua cultura”.

Em 2017, ele havia trabalhado pela indicação de Ubiratan de Souza Maia, condenado pelo Ministério Público Federal em Chapecó (SC) por arrendamento ilegal na Terra Indígena Xapecó, para a Coordenadoria-Geral de Licenciamento da Fundação Nacional do Índio (Funai). O interesse em ter pessoas de confiança na Funai  vinha de dois anos antes, quando liderou uma força-tarefa para desobstruir obras em rodovias cujo traçado passava por terras indígenas.

A reunião foi realizada no gabinete de Blairo Maggi e contou com a presença do primo do ministro – e rival na disputa pelo título de maior produtor individual de soja do mundo – Eraí Maggi Scheffer, dono do grupo Bom Futuro.

… MAS A FAVOR DOS AGROTÓXICOS

Além da questão indígena, Adilton Sachetti tem atuação destacada na defesa dos agrotóxicos e da produção transgênica. Membro da comissão especial que, em junho, aprovou o PL do Veneno, o mato-grossense acha necessário despolitizar o debate: “Devemos desarmar os espíritos para falar sobre defensivos”.

Ex-coordenador de Infraestrutura e Logística da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado foi o fundador da Associação Mato-grossenses dos Produtores de Algodão (Ampa), uma das principais financiadoras do Instituto Pensar Agro, entidade que mantém a FPA. À frente da Ampa, ele foi um dos principais articuladores do processo aberto pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio contra os subsídios concedidos pelos Estados Unidos no mercado de algodão.

Deputado deu voto favorável na comissão que aprovou o PL do Veneno. (Foto: Facebook)

Sua família é dona da Agropecuária Céu Azul S/A, exportadora de algodão, com fazendas em Itiquira, Rondonópolis e Sapezal que ultrapassam 70 mil hectares. Hoje liderada pelos irmãos Tarcísio e Paulo Sachetti, a empresa acumula processos judiciais, a grande maioria por dívidas.

Presidida por Sachetti até 2004, ano de sua entrada na política, a Céu Azul foi acionada por não honrar pagamentos a fornecedores como Bunge, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Fertilizantes Heringer e Chemtura, além de instituições financeiras. Somando-se as ações individuais perpetradas na época em que Sachetti era prefeito de Rondonópolis, o candidato a senador respondia, até 2010, a 53 ações na Justiça.

Entre os processos, há um caso curioso. Em 2005, 600 toneladas de algodão pluma, oferecidas pela empresa de Sachetti como garantia de um empréstimo tomado junto ao Bicbanco, simplesmente sumiram quando, após não receber o pagamento, o banco foi reclamar a mercadoria. A ação, iniciada em 2009, acusa Sachetti e seus irmãos de estelionato.

As dívidas derrubaram o patrimônio do deputado. Em 2008, quando tentou a reeleição para prefeito, Sachetti declarou R$ 11,6 milhões, incluindo 15% de participação em dezenas de máquinas agrícolas. Dez anos depois, seus bens caíram para R$ 5,86 milhões, devido ao processo de penhora iniciado em 2014. Entre os itens que sumiram da declaração está um imóvel rural de 3 mil hectares.

Um dos beneficiários da penhora foi outro primo de Blairo, Elizeu Maggi Scheffer, presidente do grupo Scheffer. Em 2014, ele adquiriu duas partes da Fazenda Três Lagoas, de 968 hectares, em Sapezal. Em 2017, a área foi alienada para o Itaú Unibanco.

PROJETO DE HIDROVIAS BENEFICIA FINANCIADORES

As relações de Adilton Sachetti com a família Maggi não param por aí. Em 2014, eleito deputado federal, ele recebeu da família R$ 850 mil em doações de campanha, sendo R$ 400 mil da Amaggi, além de doações diretas da trinca Blairo, Eraí e Elizeu. José Maria Bortoli, cunhado do presidente do grupo Bom Futuro, contribuiu com outros R$ 100 mil.

Conforme levantamento da Repórter Brasil, o grupo empresarial de Eraí Maggi Scheffer é o principal beneficiário de três projetos de decreto parlamentar apresentados por Sachetti em 2015, propondo a criação de novas hidrovias, algumas delas a menos de 200 quilômetros das fazendas da Bom Futuro.

Hidrovias propostas por Sachetti beneficiam Grupo Bom Futuro. (Imagem: Repórter Brasil)

Autuado pelo Ibama em R$ 438 mil pelo desmatamento de uma área de 1.463 hectares, Eraí é apenas mais um entre os financiadores de campanha de Sachetti que têm histórico de crimes ambientais: outros três empresários multados pelo Ibama doaram para sua campanha em 2014. Coincidência ou não, o sucessor de Blairo Maggi no Senado considera o licenciamento ambiental um entrave:

Quem mora em área de fronteira agrícola, com nossa legislação, não vai escapar de ter problemas com o Ibama. Sempre vai ter problemas com Ibama.

Para Sachetti, a origem das doações de campanha não afeta suas atividades parlamentares. Os financiadores de campanha, alega o deputado, são apenas amigos próximos.

EX-PRESIDENTE DA FPA CONCORRE AO SENADO

Apesar de numericamente não estar entre as maiores da Frente Parlamentar da Agropecuária, pois o estado só elege oito deputados, a bancada ruralista do Mato Grosso é recordista no critério representatividade: entre os parlamentares mato-grossenses, incluídos os três senadores, todos são signatários da FPA. Até mesmo Cidinho Santos (PR), suplente que assumiu o cargo de Maggi no Senado em 2016, tornou-se membro da frente.

Relator da CPI da Funai, Nilson Leitão (PSDB) tenta o Senado. (Foto: Reprodução)

Também senador, Wellinton Fagundes (PR) concorre ao governo do estado contra o atual governador Pedro Taques (PSDB) e o candidato apoiado por Blairo Maggi, Mauro Mendes (DEM). Pecuarista, Fagundes é dono de 762 hectares em Juscimeira e Rondonópolis.

Para o Senado, Adilton Sachetti enfrenta concorrência pesada. A coligação tucana promoveu um troca-troca na disputa: o senador José Medeiros (PPS) abdicou da reeleição para disputar vaga na Câmara e em seu lugar concorre um dos ex-presidentes da FPA, Nilson Leitão (PSDB).

Considerado o porta-voz da bancada ruralista na Câmara, Leitão tem, assim como Sachettim uma atuação marcadamente anti-indigenista. O relator da CPI da Funai é autor de projetos que vão da liberação do porte de armas para produtores rurais ao pagamento de trabalhadores rurais com alimento e moradia.

Liderando a disputa, conforme as pesquisas, o ex-governador Jayme Campos (DEM) tenta voltar ao Senado após dois anos afastado. Herdeiro de uma dinastia de fazendeiros e irmão de outro ex-governador, Julio Campos (DEM), Jayme é dono de 31.626 hectares, segundo sua declaração de bens.

Veja abaixo a situação dos deputados federais do Mato Grosso na disputa eleitoral:

 

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