Maior apoiador do ex-ministro Neri Geller, em sua campanha eleitoral, foi Elizeu Zulmar Maggi Scheffer; sua família, formada por empresários da soja no Mato Grosso, foi multada pelo Ibama por desmatar área onde está a Fazenda Iguaçu, em Rondonópolis
Por Leonardo Fuhrmann
O deputado federal Neri Geller (PP-MT) foi escolhido dentro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para coordenar a comissão de meio ambiente da frente, a face mais organizada da bancada ruralista. Sua campanha recebeu dinheiro de pessoas – e de familiares delas – multadas pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento no Mato Grosso.
O principal doador individual da campanha foi Elizeu Zulmar Maggi Scheffer, que deu R$ 100 mil. A autuação dos Maggi Scheffer, grandes produtores de soja, foi registrada em nome de Eraque Maggi Scheffer, por destruição da flora na Fazenda Iguaçu, em Rondonópolis. No total, Geller declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto mais de R$ 2,4 milhões para se eleger; R$ 1,5 milhão foi doado pela direção nacional de seu partido.
Geller era braço direito do ex-governador Blairo Maggi, primo dos Maggi Scheffer, quando ele esteve à frente do Ministério da Agricultura (2016- 2019), durante o governo Temer. O deputado também chegou ao cargo de ministro durante o primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Geller foi preso em Rondonópolis em novembro, acusado de participar de um esquema de propinas da JBS. Ele passou três dias na prisão.
José Izidoro Corso, que colaborou com a campanha do parlamentar com R$ 25 mil, foi autuado em Gaúcha do Norte, por desmatar a reserva legal do Pontal do Piranha. No mesmo município, foi multada ainda Maria Aparecida Corso Martins e Silva. Ela e Josué Corso Netto também foram autuados em Paranatinga.
A campanha para a Câmara recebeu ainda recursos de multados em Alto Garças. Inácio Camilo Ruaro doou R$ 19 mil. Murilo Antonio Ruaro, outros R$ 10 mil. O multado da família é Ivo Luiz Ruaro. Foram seis autuações em 2012 e 2014.
No ano passado, Geller declarou à Justiça Eleitoral R$ 9 milhões em bens. Entre suas propriedades estão uma fazenda de 726 hectares em Diamantino e outra de 121 hectares em Nova Mutum (grafado equivocadamente no TSE como Nova Kutuk), além de R$ 2,8 milhões em bens ligados a atividades produtivas no campo. Ele é um dos parlamentares latifundiários do Mapa das Terras dos Parlamentares, publicado pelo De Olho nos Ruralistas.
MUNICÍPIOS ACUMULAM DENÚNCIAS DE TRABALHO ESCRAVO
Além do desmatamento, as áreas onde estão localizados esses municípios têm uma série de outros problemas ligados a questões agrárias. Alto Garças, Paranatinga e Rondonópolis são citados no Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil como focos de trabalho análogo ao de escravo.
O levantamento, feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a Escola Nacional de Saúde Pública e o Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde, aponta a monocultura e as madeireiras como responsáveis pela exploração, que atinge principalmente famílias de campesinos.
Em Paranatinga, os indígenas Ikpeng lutam para retomar seus territórios originários. Eles foram transferidos para o interior do Parque Nacional do Xingu no fim dos anos 60 e a área deles foi tomada pela agropecuária. Em Diamantino, a luta dos povos indígenas Paresí é pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais.