Fernando Gomes acumula acusações de corrupção no sul da Bahia; ele ficou conhecido em Itabuna por receber salário milionário e foi apontado como suspeito de ser mandante do assassinato de um jornalista que denunciava irregularidades em sua gestão
Por Leonardo Fuhrmann
Prefeito de Itabuna, no sul da Bahia, Fernando Gomes (PTC) voltou a frequentar o noticiário nacional nesta semana, depois de declarar que reabriria o comércio no município, em meio à pandemia de Covid-19, “morra quem morrer”. Depois do impacto negativo da afirmação, feita em uma entrevista a uma rádio, a assessoria de imprensa do prefeito divulgou uma nota em que dizia que ele foi “mal interpretado”.
Naquele dia, quarta-feira (01), Itabuna já registrava 2.637 casos da doença e 58 mortes. Dos vinte leitos de UTI para adultos destinados a infectados pela doença, dezoito estavam ocupados. Duas semanas antes, a primeira-dama do município, Sandra Neilma, foi diagnosticada com o novo coronavírus. Ela é também secretária de Assistência Social.
Em seu quinto mandato, Gomes ficou nacionalmente conhecido em 1991, quando posou, no estilo ostentação, para uma reportagem sobre os marajás no serviço público. Na época, seu salário como prefeito era de US$ 17,6 mil, quatro vezes o que ganhava o governador do estado.
O próprio salário é uma preocupação recorrentes do prefeito. No atual mandato, iniciado em 2016, ele recebe R$ 30 mil por mês. O reajuste no salário de prefeito veio no primeiro mês de seu mandato, em 2016. Dados de 2018 mostravam que o salário dele era superior ao do presidente Michel Temer (MDB).
POLÍTICO FOI CONDENADO NA MÁFIA DAS AMBULÂNCIAS
A carreira política de Fernando Gomes começou nos anos 70. Ele também foi deputado federal. Daniel Gomes, seu irmão, ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia. O atual prefeito se declara agricultor e seus bens alcançam declarados R$ 14,18 milhões, segundo a declaração à Justiça Eleitoral em 2016. Só que sem detalhamento nenhum: ele declarou tudo junto, sem especificar os itens.
O estilo “morra quem morrer” também aparece nas denúncias de improbidade nas suas gestões. Em 2016, foi condenado pela Justiça Federal por irregularidades no uso de verbas para o combate à fome. A decisão teve como base um relatório da Controladoria Geral da União (CGU), que apontava falta de controle nas aquisições de alimentos.
Ele também foi condenado no escândalo da Máfia das Ambulâncias. Em 2004, seu antecessor havia cancelado uma licitação vencida pela Planam, empresa que comandava o esquema, por considerar a proposta inviável. No ano seguinte, Gomes tomou posse e anulou a revogação, fazendo a aquisição superfaturada do veículo.
O prefeito também é citado nas investigações do assassinato do jornalista Manuel Leal de Oliveira. Mesmo sem nunca ter sido incriminado pela polícia, ele é citado em textos dos Repórteres Sem Fronteiras como suspeito de ser o mandante.
Assassinado em janeiro de 1998, Oliveira fazia uma série de denúncias de irregularidades na gestão de Gomes. O relatório critica as investigações, que tiveram até uma testemunha assassinada. Gomes era aliado do então governador Antonio Carlos Magalhães.
Quinze anos depois, em 2013, um filho do prefeito, Markson Monteiro de Oliveira, conhecido como Marcos Gomes, foi condenado a dezessete anos de prisão, sob a acusação de ter comandado a tortura e o assassinato de um vaqueiro em 2006. Naquele mesmo ano ele foi candidato a deputado estadual, mas acabou não sendo eleito. Em 2012, Marcos também foi preso sob a acusação de furto de água.
| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas |
Foto principal (Reprodução): a face por trás do “morra quem morrer”