Em 2018, TRE-GO constatou que ele oferecia promoção para quem chegasse com adesivo de Jair; presidente tirou foto no domingo ostentando carne que custa R$ 1.800 o quilo; açougue tem cantores Leonardo, Marrone e Rodolffo, ex-BBB, como garotos-propaganda
Por Alceu Luís Castilho
O presidente Jair Bolsonaro ostentou no domingo a aquisição da Picanha Mito, um produto vendido pelo Frigorífico Goiás, em Goiânia. O site Cozinha Bruta ligou para o açougue e constatou que a carne estava esgotada. Mas que a mesma picanha, sob outra marca, custa R$ 1.799,99 o quilo. A notícia destacou um certo “churrasqueiro dos artistas”, conhecido como Tchê, que tirou foto com Bolsonaro e as carnes no Dia das Mães.
Mas o Frigorífico Goiás tem dono. Chama-se Arnaldo Vieira Montalvão. De Olho nos Ruralistas constatou que a relação entre o açougue para ricos e o político é mais antiga. Bolsonaro já apareceu em foto anterior no Instagram do frigorífico, que tem mais de 1 milhão de seguidores. Em 2018, o próprio Montalvão contou na rede social que estava sendo investigado por propaganda irregular para o candidato do PSL. E debochou da intimação feita pela Justiça Eleitoral.
O perfil do açougue no Instagram republicou ontem a foto de Bolsonaro com camiseta do Corinthians, a exibir, no Dia das Mães, a embalagem com picanha. Outra imagem com o presidente fazendo gesto de arminhas e óculos “fatais” já tinha sido publicada, por exemplo, no dia 05 de março. Mas compõe uma sequência de homenagens do frigorífico a Bolsonaro, que ostentou no dia 22 de janeiro outra foto do “churrasco do Tchê“, ambos a empunhar uma picanha uruguaia.
AÇOUGUE DAVA DESCONTO PARA ELEITORES DE BOLSONARO
O Diário de Goiás contou, no dia 24 de outubro de 2018, que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) intimara o proprietário por vender um produto na promoção por R$ 17, em referência ao número de campanha de Bolsonaro.
A foto divulgada pelo jornal já não está mais no Instagram do frigorífico. Mas ainda é possível achar a imagem de uma picanha marcada com o número 17, como se vê mais abaixo — entre outras referências ao candidato de estimação do empresário.
A promoção era para quem chegasse no açougue com o adesivo do candidato do PSL. O Frigorífico Goiás publicou imagem da carta de intimação, que determinava interrupção imediata da propaganda, e de decisão do juiz eleitoral, que apontava “vantagens indevidas aos eleitores do candidato”.
O post no Facebook foi acompanhado de novas propagandas de Bolsonaro. “Esse é o Brasil que eu não quero”, escreveu Montalvão.
Em 2019 o açougue já vendia o Kit-churrasco Mito, com a face de Bolsonaro e o lema fascista do presidente, reproduzido na resposta pública ao TRE: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Foi um desses itens, com lema e tudo, que Bolsonaro ostentou no domingo, em foto ao lado do “churrasqueiro dos artistas”.
O cantor sertanejo Rodolffo, que ficou mais conhecido este ano por ser um dos participantes do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, apareceu em fotos em janeiro daquele ano e em agosto de 2018, meses depois de Marrone. Um terceiro cantor sertanejo, Leonardo, é quem mais aparece nas propagandas do frigorífico. Em novembro de 2018, um mês após as eleições, até um Batalhão da Rotam tirou foto em frente do açougue.
Naquele ano a picanha japonesa comprada por Bolsonaro custava R$ 1.485 o quilo. Mas o proprietário já oferecia uma promoção, por R$ 900 o quilo.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
Foto principal (Divulgação): o cantor Rodolffo, ex-BBB, é um dos garotos-propaganda do frigorífico