Os Gigantes: PT e PL administram só três prefeituras nos cem maiores municípios

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Dossiê mostra que 89 prefeituras são administradas por partidos que compõem o Centrão; PT comanda Ribas do Rio Pardo (MS) e São Gabriel da Cachoeira (AM), o segundo município mais indígena do Brasil; Mucajaí (RR) tem a única prefeita ligada a Jair Bolsonaro

Por Bruno Stankevicius Bassi

Assim como no Congresso, partidos de direita ligados às oligarquias rurais comandam boa parte das prefeituras com maior área territorial. Protagonistas na última disputa presidencial, PT e PL têm apenas três prefeitos entre os cem maiores municípios do Brasil. É o que mostra o dossiê “Os Gigantes“, lançado na última quinta (5) pelo De Olho nos Ruralistas.

Relatório mostra quais partidos administram os Gigantes

Resultado de quatro meses de pesquisa, o relatório analisa as políticas ambientais nesses municípios que compõem 37% do território brasileiro. Mais que um diagnóstico sobre ações de governo, o documento aponta quem são os grupos políticos que dominam essa fatia do país.

À frente do governo federal, o Partido dos Trabalhadores comanda apenas dois Gigantes: Ribas do Rio Pardo (MS) e São Gabriel da Cachoeira (AM), no extremo noroeste, onde fica a segunda maior população indígena do Brasil, com 48.256 habitantes — 93,2% do município.

Eleito por dois mandatos, o prefeito Clóvis Curubão pertence à etnia Tariano. Em dezembro de 2023, durante reunião do diretório estadual do PT, ele reclamou da falta de diálogo com o governo federal e protestou contra a aprovação do Marco Temporal. Para a sucessão, ele apoia seu sobrinho Egmar Curubinha.

Ex-integrante do PSOL, o petista João Alfredo disputa a reeleição em Ribas do Rio Pardo alternando entre a promoção da agricultura camponesa e o apoio à monocultura de eucalipto. Dono de uma fazenda arrendada para produção da árvore, ele foi o principal articulador para a instalação no município da maior fábrica de celulose do mundo, pela Suzano, com capacidade de produzir 2,55 milhões de toneladas ao ano. O caso será tema de reportagem específica em nosso site e canal de YouTube.

O Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, possui apenas uma prefeita entre os Gigantes: Dona Nega, em Mucajaí (RR). Cumprindo seu segundo mandato, ela apoia a candidatura de Joelson Costa, do Solidariedade.

CENTRÃO COMANDA 89 PREFEITURAS ENTRE OS GIGANTES

O Centrão leva esse apelido em virtude do fisiologismo e da capacidade de manter alianças com governos de diferentes matizes ideológicos — de Dilma Rousseff a Michel Temer, de Bolsonaro a Lula. Esse grupo é composto por PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, PTB e Podemos. Incluindo MDB e União Brasil, que também unem forças com o bloco liderado por Arthur Lira (PP), o Centrão controla 89 prefeituras dos 100 maiores municípios. Uma área combinada de 2,8 milhões de km², maior que a área da Argentina — o equivalente a um terço do território brasileiro.

União Brasil, de Ronaldo Caiado, comanda 34 prefeituras entre os Gigantes. (Foto: Divulgação)

O MDB era, em 2020, o partido com o maior número de prefeituras entre os cem maiores municípios do país: 29 ao todo. Catorze apenas no Pará, governado pelo emedebista Helder Barbalho. Seu pai, o ex-governador e ex-senador Jader Barbalho, está no partido desde sua fundação em 1966, no início da ditadura.

Com a janela de transferência partidária para as eleições de 2024, o velho MDB foi ultrapassado por um herdeiro mais direto da Arena, o partido de sustentação do regime militar e um dos berços do ruralismo brasileiro.

Nos últimos meses, o União Brasil conquistou a adesão de políticos de outras siglas e comanda hoje 35 prefeituras. Juntos, esses municípios somam 1 milhão de km² — uma área equivalente à do Egito, 29º maior país do mundo. Resultado da fusão entre o DEM e o PSL, o partido é presidido por um aliado de Ronaldo Caiado, governador de Goiás e fundador da União Democrática Ruralista (UDR). Tanto Caiado como Helder Barbalho, do MDB, são pré-candidatos à eleição presidencial de 2026.

Os dois partidos protagonizam disputas eleitorais em diversos municípios da lista dos Gigantes. Isso ocorre porque o regime de alianças funciona de forma diferente nas eleições locais, a ponto de os rivais PT e PL dividirem palanque em 85 candidaturas ao longo de todo o país. Mas é comum que esses partidos atuem em coligação uns com os outros.

Em terceiro na lista, o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, administra dez municípios. Ele é seguido pelo PSD de Gilberto Kassab e pelo Republicanos, ligado à Igreja Universal.

CONFIRA VÍDEO SOBRE “OS GIGANTES” EM NOSSO CANAL NO YOUTUBE

O território brasileiro comporta quase todo o continente europeu. Um quinto das Américas. É a maior área continental do hemisfério sul. O Oiapoque, no Amapá, está mais próximo do Canadá do que em relação a Chuí, no extremo sul do país. Entre o litoral paraibano, onde se inicia a Rodovia Transamazônica, e Mâncio Lima, na divisa com o Peru, são 4.326 quilômetros — quase a mesma distância entre Lisboa e Moscou.

Entre esses extremos existem 5.568 municípios. Entre eles, desponta um time seleto cujas proporções são comparáveis a países inteiros: os cem maiores municípios do país. O maior deles, Altamira (PA), é maior que a Grécia. Bem maior que Portugal.

“É uma fatia decisiva e esquecida do Brasil”, aponta o diretor do De Olho nos Ruralistas, Alceu Luís Castilho. “Esses municípios costumam ficar fora da cobertura eleitoral, diante da ênfase nos grandes centros urbanos, mas a importância ambiental deles é gigantesca. O impacto deles é planetário”.

Além do dossiê “Os Gigantes”, o observatório publica uma série de vídeos e reportagens detalhando os principais achados do estudo, que mapeia as políticas ambientais dos cem municípios e conta casos emblemáticos de conflitos de interesses envolvendo prefeitos-fazendeiros e a influência de empresas e sindicatos rurais.

O primeiro episódio está disponível em nosso canal no YouTube. Confira abaixo:

| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de pesquisa do De Olho nos Ruralistas. |

Foto principal (Fabrício Corsi Arias): São Gabriel da Cachoeira tem a segunda maior população indígena do país e possui três línguas oficiais, fora o português

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