Nono episódio da série Endereços mostra onde estão Neném, Johny e Magaiver, que também operavam o esquema de “phishing” de contas bancárias em Goiânia; De Olho nos Ruralistas já tinha contado que o chefe Danilo de Oliveira agora é bispo evangélico no Paraguai
Por Alceu Luís Castilho e Tonsk Fialho
Edelson Alves Vieira, o Magaiver, morreu. Em 2022. Onde estão os demais integrantes da quadrilha em Goiânia que levou à condenação do coach Pablo Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo? O nono episódio da série Endereços, sobre o poder em São Paulo, fala sobre o destino de alguns deles, como Jonatas Rodrigues Borges, o Johny, e Carlos Maier Abreu, o Neném.
Confira aqui o vídeo:
De Olho nos Ruralistas já tinha noticiado o paradeiro daquele apontado como o chefe da quadrilha, Danilo de Oliveira. Na época conhecido como Pastor, ele virou bispo e está hoje na capital paraguaia, Assunção. Ele também faz cultos em filiais goianas da Igreja de Cristo Ministério Nova Terra.
Irmão de Pablo, o pastor Hudson Marçal realiza cultos na mesma igreja do bispo Danilo, em Goiânia. Hudson é candidato a vereador na capital de seu estado, com apoio direto do irmão, que diz não ter mais contato nenhum com os antigos membros da quadrilha.
NENÉM SE TORNOU INELEGÍVEL PELO MESMO CRIME COMETIDO POR MARÇAL
Em agosto de 2021, por meio do Sistema de Informações de Óbitos e Direitos Políticos (Infodip), a Justiça Eleitoral encaminhou à 59ª Zona Eleitoral de Redenção (PA) uma comunicação relativa aos direitos políticos de Carlos Maier Abreu, o Neném, condenado por liderar a quadrilha de fraudes bancárias em Goiás. Para o juiz confirmar ou suspender sua inelegibilidade. Segundo a Lei Complementar 64/90, estão inelegíveis desde a condenação até oito anos após cumprimento da pena os condenados por crimes contra o patrimônio privado e o sistema financeiro.
A condenação em segunda instância de Neném ocorreu em 2018, na mesma oportunidade em que foi reconhecida a prescrição da punibilidade de Pablo Marçal. Com base na lei, a juíza eleitoral da 59ª Zona de Redenção (PA), Nilda Mara Miranda de Freitas Jácome, manteve Neném impedido de disputar cargos eletivos até o ano de 2026. Atualmente em local incerto, Neném tem um longo histórico de participações em empreitadas criminosas, a exemplo da que levou Pablo Marçal a ser condenado por furto pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).
Natural de Redenção, Neném foi acusado de integrar em 2001 uma quadrilha em Marabá, principal município do sudeste paraense. Ele agia ao lado de hackers como Ataíde Evangelista de Araújo e Fábio Florêncio Silva, desenvolvedores de um software que deu origem a diversas fraudes bancárias. Outros dois membros da quadrilha de Marçal, Jonatas Rodrigues Borges, o Johny, e Rafael Sandrigo Prudente foram recrutados por Neném em Redenção para aplicar golpes em Goiânia.
O grupo ficou conhecido nacionalmente no início dos anos 2000, levando fama à cidade de Parauapebas, também na região, como celeiro de hackers ligados a fraudes bancárias. Antes de levar o know-how para Goiânia, Neném foi preso no Recife em 2003 aplicando o mesmo método. Sua última passagem policial identificada pelo De Olho nos Ruralistas foi ainda em Goiânia, em 2017, quando foi flagrado portando uma falsa carteira de habilitação.
MAGAIVER COMPROU FAZENDA COM DOCUMENTOS FALSOS E PARTICIPOU DE ASSALTO COM REFÉM
Outro membro da quadrilha integrada por Marçal era Edelson Alves Vieira, o Magaiver, responsável por conseguir boletos fraudulentos que eram enviados para as vítimas. Após a desarticulação do grupo em Goiânia, Magaiver rumou para o Tocantins, onde em 2009 se envolveu em uma série de delitos. Naquele ano, foi acusado de comprar uma fazenda com documentos falsos e vender boa parte das cabeças de gado e equipamentos agrícolas na propriedade, em Dois Irmãos (TO).
Também em 2009, participou de um assalto a mão armada em Talismã (TO), onde um grupo rendeu e amarrou um casal em uma fazenda para fugir com um trator e outros objetos. Quando foi preso durante a fuga, a polícia identificou que existia mandado de prisão em aberto em Goiás, pela participação nos golpes da quadrilha de Pablo Marçal. Em 2012, fundou em Taguatinga, no Distrito Federal, a empresa Agrotec, de maquinário agrícola. Faleceu em Brasília em 2022.
Recrutado em Redenção (PA), Jonatas Rodrigues Borges, o Johny, foi preso em 2017 em um hotel na região da Cracolândia, em São Paulo. Investigadores da Polícia Civil receberam uma denúncia anônima que indicava o hotel como base de dois grupos de estelionatários, um do Pará e outro de Goiás, que faziam transações com documentos falsos.
No local, a equipe perguntou por hóspedes goianos e paraenses. No quarto de número 106 foram recebidos por Johny, que portava 31 espelhos de cédula de identidade em branco dentro de um armário. Em um andar acima, com outro bandido, foram localizadas 31 identidades preenchidas, várias delas com a mesma foto. Pelo flagrante, Johny foi condenado à prestação de serviços comunitários.
Empresário e advogado, Ricardo Ribeiro Cozac era outro membro do grupo goiano de estelionatários. O Estadão localizou-o em Goiânia. Cozac disse ser um entusiasta de Marçal. E defende o ex-presidente Jair Bolsonaro. No curso das investigações em 2005, Cozac foi citado como um “amigo de dez anos” do bispo Danilo de Oliveira. O advogado era considerado o principal cartãozeiro do bando, responsável por operacionalizar os saques dos valores furtados das vítimas. Hoje ele é dono da empresa Cozagro Reflorestamento e Agropecuária, com sede no Setor Leste Universitário, em Goiânia.
SÉRIE MOSTRA QUE MARÇAL COMPRA DÍVIDA DE AGIOTAS PARA OBTER FAZENDAS
A proximidade entre o bispo Danilo de Oliveira e a família Marçal se soma a uma série de inconsistências na candidatura de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo. Elas vão da declaração de bens à Justiça Eleitoral à suspeita de utilização de métodos ilegais de divulgação de campanha, como tem sido retratado pela imprensa. O empresário que diz ter enriquecido como coach não declarou vários bens milionários, conforme mostramos em outro vídeo da série Endereços: “Marçal diz atuar com agiotas para negociar fazendas“.
Entre os bens não declarados pelo político estão a Fazenda Toscana, em Itu (SP), e um resort em Porto Feliz, também no interior paulista. A fazenda foi comprada em um leilão por R$ 6 milhões. Marçal disse que tem um método para comprar fazendas por preços baixos: negociar com agiotas. Ele conta que compra a dívida do fazendeiro com o agiota, para pressionar o proprietário a vender o imóvel mais barato. Em outro vídeo, Marçal declara ser importante fazer uma “network com agiotas”.
O influencer Renato Cariani é outro interlocutor frequente de Marçal. Ele é réu em São Paulo, denunciado pelo desvio de insumos químicos de suas empresas para o tráfico de drogas. Em vídeos, Cariani mostra a fazenda e o resort do amigo. Enquanto passeiam pelo resort, ele pergunta a Marçal quanto ele gastou nas reformas do imóvel. O empresário responde: “R$ 25 milhões”. Esse valor não consta da declaração entregue por ele à Justiça Eleitoral.
Para ver a série completa de reportagens em vídeo, clique aqui.
| Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas. |
|| Tonsky Fialho é pesquisador e repórter. ||
Imagem principal (De Olho nos Ruralistas): Johny, Neném e o bispo Danilo integravam a quadrilha de Goiânia
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