Site da DowJones ouviu especialistas, que preveem aumento de preços com a concentração das duas empresas; pesquisador da universidade John Hopkins fala em “choque real no sistema alimentar”
A compra da Monsanto pela Bayer, um acordo de US$ 66 bilhões, trará impactos negativos para fazendeiros e para a indústria, afirmou ontem o site MarketWatch. O site do grupo Dow Jones – assim como o The Wall Street Journal – ouviu especialistas, que apontam risco de aumento de preços das sementes e até risco de doenças.
A repórter Emma Court observa que as duas empresas são grandes produtoras de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas. O que traz preocupação em relação à biodiversidade e expõe o abastecimento de comida ao risco de doenças.
“A consolidação de dois dos maiores atores da indústria em uma das maiores empresas de agroquímicos pode limitar a escolha e o poder de barganha dos fazendeiros, com aumento do preço das sementes”, escreve ela.
Robert Lawrence, professor da Johns Hopkins School of Medicine e diretor do Centro Por um Futuro Habitável, afirma que esse controle do mercado, com aumento do preço de sementes e pesticidas, e a retirada de pequenos competidores, será “um choque real no sistema alimentar”.
O site fala também numa suspeita ampla e profunda de que a Monsanto é “maliciosa com os fazendeiros”. Por isso não está claro como a Bayer resolverá esse problema de relações públicas – embora a imagem ruim da empresa estadunidense, segundo o CEO da Bayer – não tenha feito parte do acordo.
O MarketWatch lembra que a própria Bayer não está imune a críticas. Pois foi acusada de produzir um inseticida que, segundo estudos, prejudica as abelhas. O produto foi banido da Europa em 2013.
Segundo a publicação, a fusão entre a Dow Chemical e a DuPont está sendo analisado pela União Europeia, pelos reguladores antitruste e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Patty Lovera, diretora-assistente da ONG Food and Water Watch, afirma que isso não pode ser descartado no caso Bayer-Monsanto.
Robert Lawrence afirma que o maior risco é para a biodiversidade, diante do poder das empresas sobre as sementes. “Saímos de 30 ou 40 variedades de soja para somente uma”, declara o pesquisador. Ele diz que pode ocorrer uma nova doença, “como aconteceu anos atrás no Brasil”.