Monsanto: tribunal internacional organiza assembleias populares pelo mundo

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Organizações locais devem reunir denúncias contra a transnacional, que serão julgadas num tribunal em Haia, de 16 a 18 de outubro; Vandana Shiva e Marie-Monique-Robin estão no comitê

Por Inês Castilho

Criadores do Tribunal Internacional Monsanto estão fazendo uma chamada para que se organizem, em todos os lugares do mundo onde a transnacional norte-americana está presente, Assembleias Populares Locais pelo Futuro da nossa Comida e do nosso Planeta. O movimento chama-se Seed Freedom Call to Action, ou Chamada à Ação pela Liberdade da Semente, e tem como objetivo inventariar denúncias e levá-las a uma Assembleia Popular que será realizada em Haia, na Holanda, de 14 a 16 de outubro, antes do Tribunal, a ser realizado entre 16 e 18 de outubro.

A compra da Monsanto pela Bayer não muda a programação. Apenas coloca a empresa alemã também no foco.

A madrinha do Tribunal Monsanto é a premiada jornalista, realizadora e escritora francesa Marie-Monique Robin, autora do documentário O Mundo segundo a Monsanto, transmitido pela televisão em mais de 50 países, e do livro com o mesmo título, traduzido em 22 idiomas. No Comitê organizador encontra-se também a indiana Vandana Shiva,  ativista pela promoção da agricultura orgânica e do comércio justo, do movimento internacional Diverse Women for Diversity, de mulheres para alimentação, agricultura, patentes e biotecnologia; além de vários outros cientistas e ativistas do primeiro time.

No site da campanha há instruções para a organização das assembleias locais, ocasião inspiradora para um planejamento participativo para 2020 e um plano de transição de como chegar lá, com sementes livres e alimento livre. Um futuro livre de OGM (Organismos Geneticamente Modificados), venenos, combustíveis fósseis, patentes e “livre comércio” – livre, portanto, do controle corporativo.

“As Assembleias Populares pelo Futuro da Nossa Comida e do Nosso Planeta são eventos auto-organizados que visam colocar as corporações criminosas que ameaçam a saúde do nosso planeta sob um julgamento público”, afirma o comitê. “Em qualquer nível: nas comunidades, vilas, cidades, regiões e países, as pessoas estão fazendo um balanço dos danos causados pela Monsanto e outras corporações semelhantes ao meio ambiente, saúde pública, independência e regulamentação científica e à nossa liberdade e democracia”.

O debate sobre o papel da Monsanto e de seus produtos deve resultar num julgamento público “dos criminosos corporativos que estão destruindo nossa espécie, a biodiversidade, a nossa saúde, a saúde das nossas crianças, nossa democracia”. Entre os itens apontados como “crimes” pelos organizadores estão o glifosato Roundup, os OGM, as patentes e royalties, a contaminação genética, o ataque a cientistas, a corrupção de funcionários e representantes eleitos, a desmontagem de leis de segurança e do direito dos agricultores às sementes.

FALTA UM MÊS

Os organizadores pedem que se forme um grupo de voluntários de diferentes movimentos, tais como os guardiões de sementes, jardineiros, agricultores, mães, cozinheiros, escolas, autoridades locais, médicos e advogados. Que se encontrem num espaço público, entre 2 e 16 de outubro, e convidem amigos, familiares, movimentos e instituições. Sugerem um festival de comida, com refeição ou piquenique orgânico e troca de sementes.

O Tribunal Monsanto acontece entre 14 a 16 de outubro de 2016, em Haia, na Holanda. Fundamenta-se nos parâmetros colocados pela ONU às empresas, em 2011, para proteger, respeitar e reparar os Direitos Humanos, e vai avaliar a responsabilidade criminal da corporação com base no Estatuto de Roma, de 1998, assinado por 122 países e do qual o Brasil é signatário desde 2002.

No dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação e data da conclusão da Assembleia Popular em Haia, todas as fotos e vídeos recebidos serão integrados numa Visão Planetária sobre o Futuro da Nossa Comida. Os organizadores pedem que, nesse dia, sejam organizadas manifestações em todo o mundo contra a transnacional.

O tribunal tem seus detratores, como a jornalista Kavin Senapathy, que escreveu artigo (aqui no original, em inglês) na revista Forbes contra a iniciativa: “Não, a Monsanto Não Está Indo a Julgamento por Crimes Contra a Humanidade“. Um artigo da Global Justice, crítico à corporação, argumenta que o tribunal não terá a prerrogativa de julgar crimes, mas um caráter simbólico.

BAYER

Com a compra da Monsanto pela Bayer, a multinacional alemã herdará essa mobilização. A Coalizão contra os males da Bayer (CBG) anunciou que quer aproveitar o Tribunal Monsanto para se articular com as diversas iniciativas contra a Monsanto e redirecionar a resistência. E fará uma ação coletiva durante a próxima assembleia geral da Bayer, em Colônia, no dia 28 de abril de 2017.

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