Casal de camponeses é assassinado em Rondônia; LCP acusa latifundiários

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Liga dos Camponeses Pobres diz que Paulo e Edilene vinham sendo ameaçados e já tinham sofrido um atentado; Ouvidor Agrário Nacional estava ciente dos conflitos; área em disputa já foi desapropriada pelo Incra

Edilene Mateus Porto e Izaque Dias Ferreira, o Paulo, foram assassinados na manhã de terça-feira, em Alto Paraíso (RO). A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) noticiou o fato em sua página na quinta-feira, sob o seguinte título: “Edilene e Izaque, coordenadores da LCP brutalmente assassinados no Vale do Jamari“. Um jornal policialesco local chamou Izaque de “invasor”, mas classificou o assassinato como execução. Abordagem semelhante à feita pelo Rondônia 24 horas. A notícia não ganhou as páginas da imprensa nacional – nem da imprensa alternativa.

Segundo a LCP, o casal se deslocava de moto para plantar capim, em um lote localizado na Área Revolucionária 10 de Maio, quando foi vítima de uma emboscada. O nome da ocupação decorre da visão que a Liga dos Camponeses tem dos conflitos no campo. A organização não defende a reforma agrária, e sim a revolução agrária. Izaque, coordenador do acampamento, e Edilene deixam uma filha de 6 anos, Ellen. A Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo) conta que ela fez a despedida dos pais, no cemitério.

“Certamente os autores de mais este crime bárbaro são os latifundiários grileiros de terras e assassinos”, afirma a LCP, “que com seus bandos de pistoleiros e policiais, têm promovido o terror em Rondônia, onde quer que os camponeses se levantem para lutar pelo sagrado direito à terra”.

A Liga conta que o casal era ativo no movimento. Os dois participavam de reuniões e atos em Rondônia e Brasília. “Eles fotografavam e denunciavam atos criminosos de policiais e pistoleiros, a mando de latifundiários da região”, diz a LCP. Outro líder do acampamento, Enilson Ribeiro, foi assassinado no dia 23 de janeiro, em Jaru (RO).

Edilene e Paulo já vinham sendo ameaçados.  Em dezembro de 2014, ainda segundo o movimento, sofreram um atentado, ao retornarem de uma reunião no Incra de Porto Velho, “onde denunciaram crimes praticados pelos policiais militares de Buritis”.

Segundo o movimento, 60 famílias ocuparam em 2014 uma fazenda que teria sido grilada pelo latifundiário Caubi Moreira Quito. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em relato sobre outro assassinato ocorrido na região, em 2015, a fazenda já foi desapropriada pelo Incra, mas Quito resiste à decisão.

lcp-rondonia

“MILÍCIAS E POLICIAIS”

O Estadão esteve na região, e entrevistou o fazendeiro. A reportagem informa que, no fim de 2014, a Ouvidoria Agrária Nacional divulgou um relatório da polícia “no qual reconhecia que a segurança privada em fazendas da região de Buritis vinha se apoiando na contratação de capangas, agentes penitenciários, milícias e policiais fortemente armados”.

Paulo, Edilene e outros camponeses participaram em março de uma reunião em Porto Velho com o Ouvidor Agrário Nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, definido pela LCP como “ouvidor dos latifundiários”. A Liga desconfia que alguns homens nas salas e corredores do órgão fossem policiais à paisana ou chefes de pistolagem.

“Todos estes fatos foram amplamente denunciados”, diz a LCP. Um advogado da Abrapo relata ainda que, há 15 dias, as polícias ambiental, civil e militar estiveram no acampamento e retiveram Paulo e Edilena por várias horas, sem prender o casal. Ele contam ainda que houve apreensão de seis motosserras, duas espingardas e que o motorista de um trator foi preso.

A Liga dos Camponeses Pobres diz na nota sobre o assassinato que defende a revolução agrária, “que tomará todas as terras do latifúndio, estremecerá os campos brasileiros e varrerá o sistema latifundiário podre e retrógrado, apoiado pela grande burguesia e pelo imperialismo”.

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