Liga dos Camponeses Pobres diz que Paulo e Edilene vinham sendo ameaçados e já tinham sofrido um atentado; Ouvidor Agrário Nacional estava ciente dos conflitos; área em disputa já foi desapropriada pelo Incra
Edilene Mateus Porto e Izaque Dias Ferreira, o Paulo, foram assassinados na manhã de terça-feira, em Alto Paraíso (RO). A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) noticiou o fato em sua página na quinta-feira, sob o seguinte título: “Edilene e Izaque, coordenadores da LCP brutalmente assassinados no Vale do Jamari“. Um jornal policialesco local chamou Izaque de “invasor”, mas classificou o assassinato como execução. Abordagem semelhante à feita pelo Rondônia 24 horas. A notícia não ganhou as páginas da imprensa nacional – nem da imprensa alternativa.
“Certamente os autores de mais este crime bárbaro são os latifundiários grileiros de terras e assassinos”, afirma a LCP, “que com seus bandos de pistoleiros e policiais, têm promovido o terror em Rondônia, onde quer que os camponeses se levantem para lutar pelo sagrado direito à terra”.
A Liga conta que o casal era ativo no movimento. Os dois participavam de reuniões e atos em Rondônia e Brasília. “Eles fotografavam e denunciavam atos criminosos de policiais e pistoleiros, a mando de latifundiários da região”, diz a LCP. Outro líder do acampamento, Enilson Ribeiro, foi assassinado no dia 23 de janeiro, em Jaru (RO).
Edilene e Paulo já vinham sendo ameaçados. Em dezembro de 2014, ainda segundo o movimento, sofreram um atentado, ao retornarem de uma reunião no Incra de Porto Velho, “onde denunciaram crimes praticados pelos policiais militares de Buritis”.
Segundo o movimento, 60 famílias ocuparam em 2014 uma fazenda que teria sido grilada pelo latifundiário Caubi Moreira Quito. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em relato sobre outro assassinato ocorrido na região, em 2015, a fazenda já foi desapropriada pelo Incra, mas Quito resiste à decisão.
“MILÍCIAS E POLICIAIS”
O Estadão esteve na região, e entrevistou o fazendeiro. A reportagem informa que, no fim de 2014, a Ouvidoria Agrária Nacional divulgou um relatório da polícia “no qual reconhecia que a segurança privada em fazendas da região de Buritis vinha se apoiando na contratação de capangas, agentes penitenciários, milícias e policiais fortemente armados”.
Paulo, Edilene e outros camponeses participaram em março de uma reunião em Porto Velho com o Ouvidor Agrário Nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, definido pela LCP como “ouvidor dos latifundiários”. A Liga desconfia que alguns homens nas salas e corredores do órgão fossem policiais à paisana ou chefes de pistolagem.
“Todos estes fatos foram amplamente denunciados”, diz a LCP. Um advogado da Abrapo relata ainda que, há 15 dias, as polícias ambiental, civil e militar estiveram no acampamento e retiveram Paulo e Edilena por várias horas, sem prender o casal. Ele contam ainda que houve apreensão de seis motosserras, duas espingardas e que o motorista de um trator foi preso.
A Liga dos Camponeses Pobres diz na nota sobre o assassinato que defende a revolução agrária, “que tomará todas as terras do latifúndio, estremecerá os campos brasileiros e varrerá o sistema latifundiário podre e retrógrado, apoiado pela grande burguesia e pelo imperialismo”.