Em entrevista ao De Olho nos Ruralistas, fotógrafo fala de suas opções estéticas, como a de fugir do estereótipo da tristeza; ainda assim, retrata situações mais duras, como a de Guarani Kaiowá que moram em um antigo matadouro
Com 30 anos de profissão, Renato Soares se propôs a fazer um trabalho hercúleo: registrar as 305 etnias indígenas do Brasil. Em entrevista ao De Olho nos Ruralistas, o fotógrafo conta que já interagiu com 60 delas. O projeto “Ameríndios do Brasil” ainda vai longe, portanto. E sem patrocínio nenhum. Soares vive da venda de fotos, principalmente para livros didáticos. É muito provável que o leitor já tenha visto alguma foto dele.
Este é o primeiro trecho do programa:
Há uma opção política no projeto: a de reverter parte da verba obtida com venda de fotos para os próprios indígenas. Essa decisão em de longe, desde quando o fotógrafo conviveu com o sertanista Orlando Villas Boas. Hoje essa prática é comum, por exemplo, no mercado de livros didáticos. “Desde menino tenho fascínio pela cultura indígena”, afirma Soares. “O Brasil não conhece seus povos”.
E há uma opção estética: a de não retratar os moradores das aldeias apenas em situações de miséria ou tristeza. Por isso ele gosta de fotografar sorrisos. “Boa parte das fotografias que eu via era de índio triste. E percebi que eles sorriem muito mais que nós. Sempre brincando, flanando nesse universo dos sorrisos. Eles simplesmente gostam de brincar com a vida. Alguns sorriem com os olhos, outros às gargalhadas”.
Isso não significa tapar os olhos aos problemas. Soares conta que, no caminho de São Paulo para Bonito (MS), há muitos Guarani Kaiowá acampados na estrada. Mas as pessoas não veem. Uma família mora há 42 anos nas ruínas de um antigo matadouro. “Foram tirados das terras. Colocaram gado. Não tinham para onde ir. E vivem lá numa condição que… não precisa nem comentar. E mesmo assim ainda têm um sorriso no rosto”.