Conversão em pasto mata aranhas e escorpiões; calcário colocado no solo pela agroindústria acaba com cupins e minhocas; agrotóxicos destroem os microrganismos sobreviventes
Uma destruição em três tempos. Assim pode ser resumida a eliminação da fauna original do solo após a transformação de áreas de floresta em pastagens, e de pastagens em canaviais, conforme tese de doutorado defendida por André Luiz de Custodio Franco no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo, em Piracicaba. A Agência Fapesp divulgou nesta segunda-feira a pesquisa, resumida em artigo no periódico Science of the Total Environment.
As amostras foram coletadas em três canaviais localizados em Jataí, Goiás, Ipaussu e Valparaíso. Todos municípios do estado de São Paulo, dominado por canaviais: “Agricultura paulista cresce com expulsão de trabalhadores e concentração de terras“.
A primeira eliminação é dos predadores de topo do solo, como aranhas e escorpiões. Ocorre quando a mata nativa é convertida em pasto. A consequência é o aumento da quantidade de cupins (nove vezes) e de minhocas (14 vezes).
A segunda eliminação é a desses cupins e minhocas, quando o pasto vira canavial. Isto por causa da transformação do solo, inicialmente ácido. O pesquisador explica: “Como a cana precisa de um solo mais alcalino, a agroindústria introduz quantidades maciças de calcário – além de fertilizantes, herbicidas e pesticidas”. Em outras palavras, o solo se torna tóxico.
A terceira eliminação é a dos animais e microrganismos adaptáveis a um solo alcalino. E quem faz esse papel são os agrotóxicos.
Cerca de 90% da macrofauna desaparece. Com ela, a biodiversidade. O desaparecimento de animais implica maior risco de erosão. E a perda de capacidade de armazenamento de carbono pelo solo.